Camila Tribess

O objetivo do artigo é, seguindo algumas sugestões da literatura, traçar um perfil sócioeconômico e educacional dos parlamentares paranaenses, no período de 1995 a 2006. Pretende-se, em seguida, testar para o Paraná a hipótese de que existe alguma relação entre a posição dos partidos políticos no espectro ideológico (esquerda-direita) e a origem social dos deputados analisados. Por fim, pretendese fazer algumas sugestões de pesquisa que, caso fossem realizadas, seriam fundamentais para o avanço do estudo das elites políticas regionais e nacionais.

A educação, em especial a educação superior, normalmente é apontada como uma possibilidade - em especial para as mulheres - de romper com a estrutura patriarcal tradicional, de acessar algum tipo de inclusão social e econômica, como uma possibilidade real de mudança social e empoderamento. No entanto, ao observamos os padrões econômicos e sociais da maioria dos países do sul global, percebemos que, mesmo com acesso à educação superior, as mulheres ainda enfrentam mais dificuldades de inserção profissional, de igualdade de salários e oportunidades, bem como suas carreiras são muitas vezes subjugadas à interesses “familiares”, que na prática significam a dupla jornada e o trabalho não remunerado nos afazeres domésticos, bem como a educação dos próprios filhos e filhas, interesses estes mais rígidos em determinados contextos, no que diz respeito às transformações neste âmbito (familiar) que envolvam questionamentos acerca da divisão de papéis deterministas que geralmente são atribuídos a homens e mulheres. Tendo em vista esses dilemas, nosso estudo de caso se dá com um grupo de mulheres bem específico: mulheres que tiveram acesso ao ensino superior em país de contexto pós-conflito, com fortes heranças coloniais, estrutura patriarcal e economia rural. Entrevistamos mulheres - já formadas ou cursando alguma faculdade - de Timor-Leste, país do sudeste asiático. A especificidade dessas mulheres é que, em algum momento, tiveram a experiência de estudarem no Brasil, unindo assim experiências e dilemas no seu retorno ao país de origem. Essas mulheres tiveram, no acesso à educação superior em um país distante geográfica e culturalmente, a oportunidade de questionarem seu lugar social em sua “cultura” e desnaturalizaram as opressões vividas a partir dos contatos com as referências e experiências a que tiveram acesso. Isso reverbera a partir dos efeitos gerados por essa desnaturalização de práticas de violência simbólica que cristalizam o papel do patriarca e o privilegia nas relações de poder. Sem ser uma pedagogia específica, essa experiência de vida tornou-se uma pedagogia descolonizadora, que trouxe a elas o dilema do lugar da mulher na sociedade timorense e o consequente embate decorrente dessa possibilidade. A partir de entrevistas com mulheres de Timor-Leste, com roteiro pré-determinado, a pesquisa encaminha-se metodologicamente para a análise do discurso dos relatos destas mulheres, com ênfase para a percepção das relações de poder e dos efeitos gerados pelo acesso à educação superior, e como os discursos e práticas são desnaturalizados a partir de questões de memórias e experiências coletivas e individuais, permitindo, assim, que suas atuações em Timor-Leste sejam caracterizadas a partir de uma pedagogia descolonizadora.

Palavras-chave: mulheres, educação, Timor-Leste, relações sul-sul, trajetórias de vida

Caros leitores! Ao elaborarmos a proposta de dossiê para a Revista Eletrônica de Ciência Política – RECP, tínhamos em mente um objetivo bastante específico: ajudar a promover o debate e a reflexão, por parte dos jovens pesquisadores da Ciência Política e de áreas afins, sobre o impacto que os regimes autoritários vivenciados na América Latina na segunda metade do século XX possuem no cenário político atual. Se parece evidente que as diversas ditaduras instaladas pelo continente latino-americano repercutiram, além de suas durações, nas formas de organização política, social, cultural e econômica dessas sociedades, é fato, igualmente, que romper com eventuais legados do autoritarismo desses regimes de exceção não tem sido uma tarefa fácil de ser enfrentada pelas novas democracias na região. Assim, a superação das heranças autoritárias segue sendo um desafio comum aos países do Cone Sul e da América Latina em geral. Não por acaso, enquanto nos últimos anos é possível ver o fortalecimento da causa dos direitos humanos em alguns países, tendo sido instaladas Comissões da Verdade, concedidas reparações (pecuniárias e simbólicas) às vítimas da repressão e levados a julgamento os responsáveis pelas violações praticadas por esses regimes, vemos, por outro lado, as dificuldades que persistem, em outros casos, para tratar das demandas por memória, verdade e justiça, bem como para aperfeiçoar práticas e instituições democráticas. Questionar " O que resta das ditaduras? " , nesse sentido, mais do que um incentivo à reflexão a respeito do passado recente de países como o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Chile, que passaram por ditaduras civis-militares alinhadas aos preceitos da Doutrina de Segurança Nacional (DSN), torna-se um ponto de partida interessante para a formulação de