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Cristiano Rodrigues
  • Av. Pres. Antônio Carlos, 6627 - Pampulha, Belo Horizonte - MG, 31270-901
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  • Assistant Professor in the Department of Political Science at the Federal University of Minas Gerais (UFMG) and Colla... moreedit
Resumo: Buscamos analisar a evolução da produção acadêmica brasileira sobre feminismo negro e interseccionalidade, no período de 1992 a 2020, por meio de uma análise bibliométrica e com raspagem de dados de artigos publicados em revistas... more
Resumo: Buscamos analisar a evolução da produção acadêmica brasileira sobre feminismo negro e interseccionalidade, no período de 1992 a 2020, por meio de uma análise bibliométrica e com raspagem de dados de artigos publicados em revistas das áreas de ciências sociais e humanas (A1, A2 e B1). Destacamos o impacto dos fluxos internacionais em difundir e adensar agendas de pesquisa sobre mulheres negras a partir dos anos 2000 e a importância de dossiês temáticos sobre gênero e raça em periódicos qualificados como mecanismo indutor para a ampliação da produção científica sobre as temáticas. Há um aumento contínuo de textos sobre tais questões a partir dos anos 2010, sugerindo que maior acesso de estudantes negros ao ensino superior e ampliação do debate público sobre interseccionalidade fora da academia possam estar gerando uma retroalimentação quanto ao interesse e à relevância do tema. Palavras-chave: mulheres negras; feminismo negro; interseccionalidade; análise bibliométrica.
A crítica às relações sociais e políticas, bem como ao pensamento científico, dentro do contexto colonial, subalterno e do sul global, é uma contribuição importante das perspectivas conhecidas como pós-colonialidade e decolonialidade.... more
A crítica às relações sociais e políticas, bem como ao pensamento científico, dentro do contexto colonial, subalterno e do sul global, é uma contribuição importante das perspectivas conhecidas como pós-colonialidade e decolonialidade.
Embora essas perspectivas pareçam bem estabelecidas nas humanidades, sua adoção varia nas Ciências Sociais no Brasil e está sendo incorporada à Ciência Política a partir de debates emergentes na área nos últimos anos.
Para discutir esse campo de reflexão epistemológica e como ele se aplica, se desenvolve e questiona a Ciência Política brasileira. Entrevistamos a professora Dra. Luciana Ballestrin, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Luciana é professora associada de Ciência Política no curso de Relações Internacionais e no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política (PPGCPol) do Instituto de Filosofia, Sociologia e Política (IFISP) da UFPel, onde também é coordenadora do programa. Ela fez parte da diretoria nacional da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) de 2018 a 2020, coordena o Grupo de Trabalho “Democracias em declínio: desafios teóricos, políticos e analíticos” na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) e a Área Temática de Teoria Política na ABCP. Luciana Ballestrin tem contribuído de forma significativa para o campo ainda emergente dos estudos decoloniais na interface entre Ciência Política e Relações Internacionais, assim como para análises sobre o funcionamento das democracias, tanto em âmbito nacional quanto internacional. Dentre seus trabalhos recentes, destacam-se dois artigos publicados em 2022: “Postcolonial and decolonial subaltern feminisms”, publicado no periódico Postcolonial Studies, e “The uncertain future of Brazilian democracy”, publicado no periódico Brazilian Research and Studies Journal.
Confira agora o resultado dessa conversa instigante sobre os caminhos e horizontes da Ciência Política no Brasil.
O ativismo negro ganhou força na Internet a partir de 2010, com a presença marcada de jovens mulheres ativistas. Expressão dos novíssimos movimentos sociais, o vocabulário e a prática desses coletivos voltam-se sobretudo às dimensões... more
O ativismo negro ganhou força na Internet a partir de 2010, com a presença marcada de jovens mulheres ativistas. Expressão dos novíssimos movimentos sociais, o vocabulário e a prática desses coletivos voltam-se sobretudo às dimensões estéticas, afetivo-sexuais e de representatividade/empoderamento. No presente artigo, analisamos essa nova face do ativismo feminista negro digital no Brasil a partir de análises dos posts do Blogueiras Negras e interações no grupo de Facebook Afrodengo. Concluímos que, ao mesmo tempo que adere a postulados individualizantes alinhados à perspectiva neoliberal, o ativismo feminista negro digital contribui para a politização da subjetividade.

Feminismo negro; Ativismo digital; Novíssimos movimentos sociais
Um dos marcos do processo de redemocratização brasileira, ocorrido a partir da década de 1980, diz respeito à ampliação de fóruns participativos que funcionam, ao menos em teoria, como formas de estreitar as relações entre o Estado e a... more
Um dos marcos do processo de redemocratização brasileira, ocorrido a partir da década de 1980, diz respeito à ampliação de fóruns participativos que funcionam, ao menos em teoria, como formas de estreitar as relações entre o Estado e a sociedade civil. A produção teórica sobre democracia dentro das ciências sociais tem procurado, desde então, examinar tais inovações participativas, que, ao ampliarem a inclusão dos cidadãos em processos decisórios, propiciam tanto um redesenho e ressignificação das instituições políticas tradicionais como (re)orientam o repertório de ação e as estratégias dos movimentos sociais. O presente trabalho apresenta reflexões preliminares sobre a comparação dos resultados de duas pesquisas de doutoramento (Machado, 2013; Rodrigues, 2014) e tem como objetivo discutir o processo de institucionalização dos movimentos negros e LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) junto ao Estado brasileiro, durante a administração do presidente Luiz Inácio ...
A aproximação institucional entre os movimentos negro e LGBT+ e o Partido dos Trabalhadores (PT) teve início em um mesmo período. No entanto, gerou efeitos políticos distintos durante a gestão do partido no governo federal. Este artigo... more
A aproximação institucional entre os movimentos negro e LGBT+ e o Partido dos Trabalhadores (PT) teve início em um mesmo período. No entanto, gerou efeitos políticos distintos durante a gestão do partido no governo federal. Este artigo avalia se, e como, essa distinção pode ser explicada pela relação entre esses movimentos e o PT e pela relação entre movimentos sociais e grupos opositores. Para tanto, analisa três conjuntos de evidências empíricas: 1) dados obtidos por pesquisa documental e bibliográfica acerca das relações entre esses dois movimentos sociais e o PT; 2) dados do orçamento federal para políticas de igualdade racial e de direitos LGBT+; 3) e dados sobre a produção legislativa favorável e contrária a esses temas entre a 52ª e a 54ª legislaturas. Os resultados indicam que as relações entre movimentos sociais, partidos e oposição legislativa explicam, ao menos em parte, as diferenças nos efeitos políticos dos movimentos. Tais achados introduzem novos elementos explicativos que enriquecem tradicionais modelos teóricos sobre as relações entre movimentos sociais, governos e burocracia.
O presente artigo analisa a trajetória e consolidação do Movimento de Mulheres Negras (MMN) na cena pública brasileira ao longo dos últimos trinta anos. Através de entrevistas com militantes pioneiras e participantes desse movimento... more
O presente artigo analisa a trajetória e consolidação do Movimento de Mulheres Negras (MMN) na cena pública brasileira ao longo dos últimos trinta anos. Através de entrevistas com militantes pioneiras e participantes desse movimento social bem como de levantamento de fontes documentais, o estudo teve o intuito de compreender quais processos subjazem a constituição desse novo sujeito coletivo, seus dilemas e redes de solidariedade com outros movimentos sociais, o lugar das hierarquias de gênero e raça em suas reivindicações, além do seu processo de institucionalização/burocratização e sua articulação com o Estado brasileiro.
This article analyzes how the growth of ethno-racial social movements has contributed to the adoption of specific legislation for black populations in Brazil and Colombia. In both countries, the late 1980s and early 1990s represent the... more
This article analyzes how the growth of ethno-racial social movements has contributed to the adoption of specific legislation for black populations in Brazil and Colombia. In both countries, the late 1980s and early 1990s represent the moment in which the state, through constitutional reforms, officially assured ethno-racial rights to black populations. In Brazil, the 1988 Constitution assures cultural and territorial rights to the black population, while at the same time criminalizing racism. In Colombia, the 1991 Constitution and Law 70 of 1993 ensure territorial collective land rights to the black populations of the Pacific coast and recognize Colombia as a multicultural state. Framed by these constitutional reforms, this paper explores the political contexts in which black movements emerged, their articulations with civil society and state, and their influence on public policy. In both countries black organizations have been effect ive in establishing cultural and material polic...
Este artigo analisa a trajetória política do ativismo feminista negro no Brasil, os seus repertórios discursivos acerca das intersecções entre gênero, raça e outras categorias sociais em três tempos. O material de análise provém de dois... more
Este artigo analisa a trajetória política do ativismo feminista negro no Brasil, os seus repertórios discursivos acerca das intersecções entre gênero, raça e outras categorias sociais em três tempos. O material de análise provém de dois projetos de pesquisa conduzidos entre 2013 e 2019. Os dados apresentados foram coletados de documentos internos e jornalísticos do Movimento de Mulheres Negras, documentos governamentais, conversas informais e entrevistas semiestruturadas com ativistas negras de Belo Horizonte. O artigo está dividido em três seções, correspondentes a fases específicas: na primeira, nos concentramos no processo de autonomização do Movimento de Mulheres Negras nos anos 1980 e analisamos os repertórios utilizados e expressos no Nzinga Informativo. Em seguida, analisamos suas estratégias de advocacy institucional na década de 1990 e início dos anos 2000, período caracterizado pela tentativa de estabelecer canais formais de participação política para as mulheres negras dentro da burocracia estatal e organizações internacionais. Finalmente, discutimos o ressurgimento de mobilizações de rua na década de 2010 e a emergência de dois cenários de mobilização política liderados por jovens ativistas negras no Brasil: (i) a ascensão de uma geração de jovens feministas negras que estão reformulando e/ou criando novos repertórios discursivos e de confronto nas ruas, nas redes e na representação política; e (ii) a crescente presença de mulheres negras exercendo mandatos legislativos, que, neste texto, nomeamos como movimento de “ocupar a política”. Ao analisar esses repertórios, este trabalho pode contribuir para um melhor entendimento das várias estratégias de mobilização política que feministas negras estão empregando no início do século XXI e seu impacto sociopolítico.

Palavras-chave: Movimentos sociais; Mulheres negras; Feminismo negro; Feminismo interseccional; Ativismo político; Repertórios discursivos
Este livro examina a relação entre movimentos negros e estado no Brasil e na Colômbia entre o período imediatamente anterior à promulgação de suas respectivas constituições e ao longo das três décadas subsequentes. Nos anos 1980 os... more
Este livro examina a relação entre movimentos negros e estado no Brasil e na Colômbia entre o período imediatamente anterior à promulgação de suas respectivas constituições e ao longo das três décadas subsequentes. Nos anos 1980 os discursos oficiais que celebravam a mestiçagem e a democracia racial foram gradativamente vertidos para noções complexas de cidadania multicultural, direitos étnico-territoriais e igualdade racial. Este estudo analisa o papel desempenhado pelos movimentos negros para a mudança nas legislações estatais e suas consequências em termos de incremento na participação institucional e reorientação dos repertórios de ação coletiva dos movimentos. A primeira parte do livro demonstra que mudanças no contexto político, com a ascensão de discursos sobre multiculturalismo, o aumento da instabilidade política e processos de redemocratização política, propiciaram uma importante abertura de oportunidades políticas paras os movimentos negros em ambos os países. Debates acadêmicos sobre raça e etnicidade também influenciaram os discursos e estratégias dos movimentos negros em seus respectivos países. De maneira específica, no Brasil, o discurso sobre “igualdade racial”, forjado nas fronteiras entre academia e ativismo, adquiriu centralidade política tanto para atores estatais quanto para atores não-estatais. Na Colômbia, em contrapartida, é o discurso “étnico-territorial” que orienta os debates por inclusão sociopolítica de afrocolombianos. A segunda parte do livro analisa a participação institucional dos movimentos negros em ambos os países. São examinados a criação de legislações, políticas públicas e instituições participativas para afrodescendentes e seu impacto nas estratégias, estrutura organizacional e redes de solidariedade dos movimentos negros. Investiga-se também a ampliação dos vínculos entre os movimentos e a burocracia estatal, a consolidação de laços com partidos políticos e os repertórios de interação cooperativa e/ou conflitiva com o estado. Os resultados apresentados neste livro indicam que quanto maior a abertura de oportunidades políticas e discursivas maior o impacto político-institucional do movimento negro. Ao descortinar processos emergentes de politização racial na América do Sul, o livro contribui para o campo de estudos afrolatinos e para a ampliação do debate acerca das relações entre os movimentos sociais e  institucionalidade, aludindo à novas possibilidades interpretativas que escapem ao já defasado binômio autonomia versus cooptação que têm marcado a literatura sobre a temática.
Raewyn Connell, Sociologist, Professor Emeritus at the University of Sydney, and prominent intellectual and activist in the fields of gender studies and masculinities, visited Salvador for the first time in April 2015. Among many of her... more
Raewyn Connell, Sociologist, Professor Emeritus at the University of Sydney, and prominent intellectual and activist in the fields of gender studies and masculinities, visited Salvador for the first time in April 2015. Among many of her academic duties while in Bahia, which included a conference speech on “Gender in World Perspective: thinking from the South”, and a series of meetings with graduate students and social activists, we spent two hours talking about her academic trajectory. We mainly spoke about Connell’s concepts developed in her researches on gender and masculinities. The interview also focused on her approach to the southern theory of gender, transexuality, decolonial perspectives and the future of feminist research.
Resumo: Interseccionalidade, conceito cunhado e difundido por feministas negras nos anos 1980, constituí-se em ferramenta teórico-metodológica fundamental para ativistas e teóricas feministas comprometidas com análises que desvelem os... more
Resumo: Interseccionalidade, conceito cunhado e difundido por feministas negras nos anos 1980, constituí-se em ferramenta teórico-metodológica fundamental para ativistas e teóricas feministas comprometidas com análises que desvelem os processos de interação entre relações de poder e categorias como classe, gênero e raça em contextos individuais, práticas coletivas e arranjos culturais/institucionais. Há, contudo, uma plêiade, por vezes contraditória e vazia de sentido, de usos e concepções acerca do conceito. No presente texto, analiso a recepção e difusão do conceito de interseccionalidade no Brasil e sua influência sobre o pensamento feminista negro no país. Na primeira parte do artigo, apresento a-americano e sua recepção no Brasil. A seguir, me debruço sobre os múltiplos sentidos que o conceito tem adquirido, sobretudo no que tange à quais, e em que contextos, categorias de diferenciação privilegiar, ao peso conferido às relações de poder e ao espaço de negociação, individual e/ou coletiva, conferido aos atores sociais. Finalmente, reflito sobre a atualidade do conceito para estudos de gênero no Brasil, argumentando que um de seus pontos fracos-sua maleabilidade e imprecisão teórica-também garante sua vivacidade e popularidade. Palavras-chave: Interseccionalidade; Feminismo negro; Categorias de diferenciação; Estudos de gênero. As Fronteiras entre Raça e Gênero no Ativismo Social Brasileiro No esforço de entendermos a recepção do conceito de interseccionalidade no contexto das práticas e teorias feministas a partir da década de 1980, faz-se mister reconstruir o percurso histórico de formação do ativismo negro e do movimento de mulheres no Brasil contemporâneo, bem como seus dilemas para incorporar pautas específicas das mulheres negras.
Research Interests:
Raewyn Connell, Sociologist, Professor Emeritus at the University of Sydney, and prominent intellectual and activist in the fields of gender studies and masculinities, visited Salvador for the first time in April 2015. Among many of her... more
Raewyn Connell, Sociologist, Professor Emeritus at the University of Sydney, and prominent intellectual and activist in the fields of gender studies and masculinities, visited Salvador for the first time in April 2015. Among many of her academic duties while in Bahia, which included a conference speech on “Gender in World Perspective: thinking from the South”, and a series of meetings with graduate students and social activists, we spent two hours talking about her academic trajectory. We mainly spoke about Connell’s concepts developed in her researches on gender and
masculinities. The interview also focused on her approach to the southern theory of gender, transexuality, decolonial perspectives and the future of feminist research.
This study examines the trajectory and consolidation process of the Black Women's Movement (BWM) in the Brazilian public sphere since the 1980s. Our objective is to understand the processes that underlie the... more
This study examines the trajectory and consolidation process of the Black Women's Movement (BWM) in the Brazilian public sphere since the 1980s. Our objective is to understand the processes that underlie the constitution of this social movement, as well as its points of convergence and divergence with the black and feminist movements. Furthermore, this study discusses the movement's process of
Research Interests:
Este livro foi construído a partir de trabalhos apresentados no XVIII Simpósio Baiano de Pesquisadoras(es) sobre Mulher e Relações de Gênero – Territorialidades: dimensões de gênero, desenvolvimento e empoderamento das mulheres, ocorrido... more
Este livro foi construído a partir de trabalhos apresentados no XVIII Simpósio Baiano de Pesquisadoras(es) sobre Mulher e Relações de Gênero – Territorialidades: dimensões de gênero, desenvolvimento e empoderamento das mulheres, ocorrido em 2015 na Universidade Federal da Bahia (UFBA), organizado pelo Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim). Desde 1996, o Simpósio Baiano vem agregando pesquisadoras e pesquisadores da área dos estudos de gênero, mulheres e feminismo, e, assim, articulando um espaço para a troca de conhecimentos e experiências
que levem a reflexões a respeito da temática feminista e de gênero. Nesta edição, o debate buscou discutir as desigualdades oriundas das articulações entre os marcadores de gênero, de classe social, de raça/etnia, de idade/geração, de sexualidades, de regionalidade, entre outros, ainda persistentes em nossa sociedade, sob o foco dos diversos territórios, tanto urbano quanto rural.
Este livro examina a relação entre movimentos negros e estado no Brasil e na Colômbia, entre o período imediatamente anterior à promulgação de suas respectivas constituições e ao longo das três décadas seguintes. De modo geral, procuro... more
Este livro examina a relação entre movimentos negros e estado no Brasil e na Colômbia, entre o período imediatamente anterior à promulgação de suas respectivas constituições e ao longo das três décadas seguintes. De modo geral, procuro discutir os contextos sociopolíticos supracitados a partir da literatura sobre movimentos sociais em sua interface com os aparatos estatais. Dado que há muitas aproximações possíveis da relação entre movimento social e estado, opto por uma única: trato aqui, principalmente, das proposições analíticas de autores vinculados ao campo das Teorias do Processo Político (TPP) que enfatizam tanto a dimensão cultural/simbólica das ações coletivas quanto as configurações político-institucionais que buscam influenciar.
Essa interpretação é especialmente relevante para o caso em tela, posto que o impacto positivo dos movimentos negros sobre o sistema político deriva, amiúde, de estratégias voltadas para a transformação de entendimentos tácitos, ao nível da sociedade civil, sobre o papel do racismo em restringir as oportunidades socioeconômicas e políticas da população afrodescendente. Parte considerável dos estudos sobre relações raciais no Brasil e sobre comunidades negras na Colômbia privilegia, de maneira desproporcional, aportes teóricos mais culturalistas e identitários. Por essa razão o enfoque institucionalista adotado aqui visa preencher uma lacuna no entendimento sobre o impacto das reivindicações dos movimentos negros sobre as arenas político-institucionais.
Parto da ideia de que os movimentos negros mobilizam repertórios de ação coletiva que ou se encontram em consonância com os discursos acadêmicos e políticos preponderantes sobre a temática ou os contradizem. A partir daí, construo as seguintes hipóteses: o impacto – positivo e pro- longado – do ativismo negro sobre as arenas institucionais e formulação de políticas públicas será maior a) caso haja uma maior confluência entre os discursos proferidos pelos atores do movimento social e sua legitimação política por agentes institucionais ou, b) menos efetivo quando o espaço de legitimação do discurso do movimento social for reduzido.
Em relação ao impacto dos movimentos negros sobre a agenda política e sua inserção na burocracia institucional, trabalho com as seguintes hipóteses: no que concerne à sensibilização da agenda política e ampliação do debate público, sugiro que as seguintes variáveis sejam de crucial importância: consistência temporal das demandas vocalizadas pelos movi- mentos negros, ampliação do debate sobre a temática para novos públicos e o tipo de interação/acesso ao sistema político. De maneira subjacente, determinadas características institucionais podem facilitar ou dificultar esse processo. Impactos sobre a agenda política parecem ser facilitados em governos que oferecem canais institucionais abertos às demandas dos movimentos sociais. Além disso, a presença de importantes aliados dentro das instituições políticas também facilita a inserção da temática na agenda política do governo.
Como prefácio: as dores e as delícias de ser do contra Eduardo A. Tomanik Este tal de animal-humano é mesmo estranho. Poderia estar vivendo até hoje, tranquilamente, sua existência de bicho, animal biológico, movido por instintos ou... more
Como prefácio: as dores e as delícias de ser do contra
Eduardo A. Tomanik
 
Este tal de animal-humano é mesmo estranho. Poderia estar vivendo até hoje, tranquilamente, sua existência de bicho, animal biológico, movido por instintos ou determinações naturais como todos os outros, mas não. Preferiu ser, como diriam nossos avós, do contra; fazer o inesperado, agir de forma diferente.
Primeiro, aprendeu a pensar ou inventou o pensamento, já que não temos notícias de outros pensantes antes dele. Diz a Bíblia que pagamos um preço caro por este atrevimento: perdemos todas as mordomias de viver no paraíso. Seria tão mais fácil continuar por lá, sem trabalhar e sem ter preocupações...
Não contente com isto, mais adiante o animal-humano aprendeu a pensar sobre a natureza e criou as ciências. Novamente, teria sido fácil (muito mais fácil, aliás), continuar a aceitar a suposição de que as coisas aconteciam como aconteciam porque um deus ou vários deuses determinavam que assim fosse.
Mas o bicho-humano parece não conseguir se livrar da mania de querer saber mais. Atrevido, inventou-se como objeto e, com isto, obrigou-se a pensar sobre si mesmo. As divergências que surgiram daí foram sérias. Já que os humanos parecem não conseguir viver isolados, um grupo de pensadores começou a tratá-los como membros de um bando e a estudar como as regras do bando agem sobre cada um de seus membros. Outro grupo passou a considerar cada um dos animais humanos como um indivíduo, alguém dotado de características próprias e que precisava e merecia ser estudado em si mesmo.
Poderíamos ter parado por aí e estabelecido uma respeitosa distância entre estes estudos. Com isto, os membros do primeiro grupo, que passaram a chamar-se de cientistas sociais poderiam ter continuado seus trabalhos de mapear e de entender como funcionam as regras e costumes sociais. Alguns continuam, e fazem trabalhos muito bons.
Os do segundo grupo, também conhecidos como psicólogos, poderiam ter ficado quietinhos em seus cantos, cuidando das pessoas e de seus problemas individuais. Alguns ficaram, e também são muito úteis. Aprendemos muito, tanto com estes quanto com aqueles.
Mas, tanto em um lado quanto no outro, mais uma vez, surgiram os do contra. No meio de cada um dos grupos alguns começaram a cismar que o bando também era composto por individualidades ou que o indivíduo, mesmo sendo único, sofria muitas influências do grupo. A saída, aí, foi inventar uma aparente contradição: uma psicologia (ciência do indivíduo) que fosse também social.
Realizada esta quase impossível alquimia, durante um bom tempo, cientistas esforçados e esperançosos dedicaram-se a desvendar como o outro, presente ou não, real ou imaginário, direcionava ou determinava as ações dos indivíduos humanos e a criar teorias sobre como aquela influência era exercida.
Mas para quê serviriam ou deveriam servir estes estudos? Os estudiosos e os praticantes desta psicologia social foram buscar esta resposta nos nossos colegas mais antigos, os estudiosos da natureza.
Quando os seres humanos decidiram tentar explicar os fenômenos naturais por leis também naturais, e não pelas vontades dos deuses, criaram vários motivos para explicar e para justificar estas buscas. Porém, entre aquelas intencionalidades ou motivações, uma se destacou tanto que passou a ser até considerada como natural, de tão aceita: a de que era preciso conhecer para controlar. Se entendêssemos bem as regras que determinam os acontecimentos naturais, poderíamos usar estas regras de forma a fazer com que a natureza nos ajudasse a suprir os nossos interesses de forma muito mais intensa e rápida do que vinha fazendo até então.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, muitos dos chamados cientistas sociais, psicólogos e psicólogos sociais assumiram, como justificativas para seus estudos, as necessidades e conveniências de harmonização da sociedade (eliminando os conflitos e as discordâncias) e de adaptação de cada indivíduo a esta sociedade, que oferecia oportunidades para que todos fossem prósperos e felizes.
Tudo parecia caminhar muito bem, mas, de novo, surgiram os do contra.
Primeiro foram uns revoltosos das ciências sociais que começaram a denunciar que a tal sociedade não era tão boazinha assim e, pior ainda, que aquelas ideias de harmonia eram apenas um tapume feito para esconder que enquanto a grande maioria dos indivíduos carregava o piano (e o pão, a farinha, o cimento, o tijolo e o mundo) nas costas, uns poucos, espertinhos, ficavam com tudo (ou com a maior parte) do que os outros produziam. Além dessa, uma porção de outras desigualdades eram escondidas por trás daquelas ideias sobre uma sociedade boa para todos.
Seguindo este caminho, outros do-contra começaram a se perguntar se valia a pena, mesmo, acalmar e adaptar os que reclamavam ou que não se adaptavam à tal sociedade; se não seria melhor (e mais humano) incentivar estes não adaptados justamente a não se adaptarem e a lutarem por mudar a sociedade. Para ser mais do contra ainda, tanto psicólogos (sociais ou não) quanto cientistas sociais desceram de seu pedestal de cientistas e passaram a participar das lutas, movimentos, associações e tentativas de ação dos não adaptados.
Como resultado deste movimento, mesmo tendo que enfrentar muita reclamação (e muita repressão), cientistas do contra foram construindo uma nova concepção de ciência, na qual a intenção de conhecer para controlar vem sendo substituída por outra: a de desconfiar para transformar.
Assim nasceu uma psicologia social do contra, contra aquela outra psicologia social, adepta da adaptação, mas a favor de mudanças que tor-
nassem a vida de todos cada vez menos desigual.
No Brasil, estes psicólogos sociais do contra fundaram a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). Desde a primeira reunião, com pouco mais de uma dúzia de pessoas, realizada num espaço e num tempo cedidos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência até as condições atuais, em que conta com associados participantes em praticamente todos os Estados e cantos do país, em que seus Encontros Nacionais reúnem mais de 3.000 pessoas, em
que tornou-se uma entidade conhecida e reconhecida, a ABRAPSO vem mostrando que ser do contra pode ser uma boa alternativa.
Como podemos ver pelos textos publicados pela ABRAPSO ao longo de todos estes anos, os participantes e simpatizantes desta psicologia social do contra primam por, como diriam novamente os antigos, se meterem onde não foram chamados; eles insistem em estudar e em participar de espaços e de processos muito diferentes das preocupações que deveriam (ou que foram) as de uma ciência sobre o indivíduo no grupo. Temas como ambiente, estética, mídias, desigualdades e desigualizações sociais, política, manifestações artísticas não-comerciais, migrações, corpos, gêneros e sexualidades, saúdes, trabalho e educação aparecem constantemente naqueles textos, sempre envolvidos em preocupações sobre como aqueles processos influenciam as vidas das pessoas, mas também sobre como as pessoas atuam, diante e dentro deles.
This chapter discusses how digital Black feminist activism mobilizes aesthetics and romantic relationships to advance its cause. We build on our findings to further understand recent transformations in activism and discuss their... more
This chapter discusses how digital Black feminist activism mobilizes aesthetics and romantic relationships to advance its cause. We build on our findings to further understand recent transformations in activism and discuss their implications for broader Black women’s activism. With this aim, we analyzed 835 Blogueiras Negras (Black Women Bloggers [BN]) blog posts and conducted observational research to determine how people interact and behave in debates around gender and race in the Facebook group Afrodengo
In this chapter, the author analyzes the political negotiations that preceded the declaration of the 1991 Constitution, the subsequent debates within the Special Commission for Black Communities (responsible for elaborating Law 70 of 1993... more
In this chapter, the author analyzes the political negotiations that preceded the declaration of the 1991 Constitution, the subsequent debates within the Special Commission for Black Communities (responsible for elaborating Law 70 of 1993 which replaced AT55), the organizational reconfiguring of the Afro-Colombian movement after Law 70, and the eventual institutional rapprochement with the state. The chapter demonstrates that there was a strong pluralization and specialization on an organizational level of the Afro-Colombian movement throughout the 1990s. Furthermore, the chapter discusses how the multi-cultural turn of the Colombian state, the peace accords established between the Colombian government, the guerrillas and paramilitary groups, the increase in forced displacement of rural Black communities, and the political-economic relations between Colombia and the United States played an influential role on the way Afro-Colombian movements organized.
Despite the exponential growth of distinct kinds of Black feminist activism in Brazil and its interconnections with similar phenomena in other parts of the world, systematized studies of its local, national, and international importance... more
Despite the exponential growth of distinct kinds of Black feminist activism in Brazil and its interconnections with similar phenomena in other parts of the world, systematized studies of its local, national, and international importance are rare. This chapter aims to fill the gap by presenting an empirical as well as theoretical discussion, on the one hand analyzing political and historical contexts that have enabled the emergence, consolidation, and pluralization of Black feminism in the country, and on the other hand showing the changes in its political discourse over the years and the rise of new co-operation and confrontation strategies with the state and other political agents.
This chapter is divided into three sections. The first, “In between the Women’s Movement and the Black Movement, We Continue to Be Black Women,” presents the emergence of the Black Women’s Movement in the 1980s, analyzing its cooperation and confrontation strategies with the Black and feminist movements and in the discourses that appear in Nzinga Informativo, “perhaps the first periodical in the history of Brazil’s black feminism as an autonomous movement” (Rios and Freitas 2018, 29). The second, “Institutional Advocacy and Realignment of the Feminist and Antiracist Political-Discursive Camps,” analyzes changes in the political discourse within Black feminist activism in the 1990s and early 2000s, characterized by the attempt to establish formal channels of political engagement for Black women within state bureaucracy and inter- national organizations.
The third section, “Intersectional Feminism: Shaking up Existing Structures to Promote Good Living,” discusses the resurgence of street demonstrations in the 2010s along with two emerging political movements led by young Black activists. The first can be interpreted as a movement to “occupy politics,” represented by the growing presence of Black women in legislative positions. The second is the emergence of a generation of young Black feminists who are reformulating and creating new political discourses as well as street protests, social networks, and political representation.
neste capítulo, abordaremos aspectos relacionados às normas eleitorais que guardam relevância para a inclusão de grupos excluídos ou com restrições significativas quanto ao acesso à representação política. Dessa forma, iremos focar em... more
neste capítulo, abordaremos aspectos relacionados às normas eleitorais que guardam relevância para a inclusão de grupos excluídos ou com restrições significativas quanto ao acesso à representação política. Dessa forma, iremos focar em três aspectos: (a) os avanços e os desafios das candidaturas coletivas; (b) o financiamento público de mulheres e pessoas negras; e (c) a relação entre partidos políticos e candidaturas indígenas. Entendemos a importância de mobilizar uma discussão específica sobre os três aspectos suscitados e a legislação sobre partidos políticos e sua organização. Em todas essas discussões, pesa a necessidade de refletir sobre o grau de autonomia partidária e em que medida ela deve ser compreendida como um princípio absoluto.
Este capítulo tem como objetivo recuperar essa agenda de pesquisa sobre raça e política, formulada nos anos 1960 e 1970, mas pouco explorada nas décadas subsequentes. Como sugere seu tí- tulo, não pretendemos reconstruir as relações entre... more
Este capítulo tem como objetivo recuperar essa agenda de pesquisa sobre raça e política, formulada nos anos 1960 e 1970, mas pouco explorada nas décadas subsequentes. Como sugere seu tí- tulo, não pretendemos reconstruir as relações entre teorias e os casos analisados, o que seria impossível em se tratando de uma área temá- tica tão subdesenvolvida. Nossa pretensão é trazer à luz as premissas básicas de uma agenda de pesquisa formulada nos momentos funda- cionais da Ciência Política brasileira, e reconectá-la à produção mais recente. Espera-se, assim, não apenas retratar um subcampo disci- plinar, mas contribuir para sua própria organização e consolidação.
"If you're a Negro you're the target for everybody's fantasies. If you're a black woman, you know how to do dirty things! And if you're a black boy, you wouldn't believe the holocaust that opens over your head-with all these despicable... more
"If you're a Negro you're the target for everybody's fantasies. If you're a black woman, you know how to do dirty things! And if you're a black boy, you wouldn't believe the holocaust that opens over your head-with all these despicable males-looking for somebody to act out their fantasies on. And it happens in this case-if you're sixteen years old-to be you!" James Baldwin.
Publicado em março deste ano, o livro Afro-Latinos em Movimento: Protesto Negro e Ativismo Institucional no Brasil e na Colômbia, de autoria de Cristiano Rodrigues e editado pela Appris, chega ao país em tempos conturbados. Convivemos, no... more
Publicado em março deste ano, o livro Afro-Latinos em Movimento: Protesto Negro e Ativismo Institucional no Brasil e na Colômbia, de autoria de Cristiano Rodrigues e editado pela Appris, chega ao país em tempos conturbados. Convivemos, no presente, com a tomada do espaço público por discursos oficiais que negam o racismo, enunciados por políticos e representantes de cargos institucionais marcadamente avessos ao reconhecimento das desigualdades e à elaboração de políticas públicas para combatê-las.

Fruto de tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj), Afro-Latinos em Movimento mobiliza os conceitos de “oportunidades políticas” e “oportunidades discursivas” para explicar a capacidade dos ativistas negros impactarem a agenda política. Ao explorar a relação entre movimentos sociais e estado, o autor busca acrescentar à literatura de diferentes maneiras, a começar por adotar um enfoque institucionalista. Tão relevante quanto isso é a abertura à comparação de dois casos latino-americanos em períodos históricos que antecedem e procedem a criação de novas constituições nacionais: o próprio Brasil e a Colômbia.

Além dos venezuelanos, as proporções mais significativas de afrodescendentes na América Latina pertencem aos brasileiros e colombianos*. Embora partilhem essa característica demográfica, intensas assimetrias raciais e registros de políticas para atenuá-las, há poucas comparações sobre os dois países. É isso que o trabalho de Cristiano faz: dá protagonismo aos paralelos entre contextos periféricos, destoando da centralidade usual dos Estados Unidos nas pesquisas de relações raciais nas ciência sociais. Emerge, ao final, a chance de acompanharmos como as disposições territoriais de comunidades nacionais, divididas em meios urbanos ou rurais, os modos de construção de discursos e saberes, as características de governos e as influências de quadros internacionais estão atreladas aos tipos de organização e êxito dos ativismos negros.

A obra de Rodrigues permite enxergar em detalhe diversas etapas das trajetórias dos movimentos sociais e possibilita uma abertura ao entendimento da luta antirracista a longo prazo. Trata-se de uma leitura importante não só por nos deslocar dos horrores do tempo atual, mas também por demonstrar, com ampla investigação empírica, a fragilidade da conquista de direitos para grupos oprimidos, tão difícil de alcançar, nem sempre certeira em suas consequências e facilmente exposta à revogação.

É com prazer, portanto, que a Horizontes ao Sul divulga um trecho da publicação. Na Introdução, que apresentamos a seguir, os leitores poderão entender quais são as hipóteses de pesquisa, as motivações que levaram à escolha dos países analisados e o conteúdo que será desenvolvido em cada capítulo da edição.
“I can’t breath” – frase/cântico entoada por milhares de pessoas ao redor do mundo nas últimas semanas remete, na superfície, ao vídeo que circulou amplamente pelas redes sociais mostrando um policial branco de Minneapolis asfixiando... more
“I can’t breath” – frase/cântico entoada por milhares de pessoas ao redor do mundo nas últimas semanas remete, na superfície, ao vídeo que circulou amplamente pelas redes sociais mostrando um policial branco de Minneapolis asfixiando George Floyd por 8 minutos e 46 segundos. Seu significado, porém, vai muito além. O cântico que agora veio à superfície revela, sobretudo, que a cor da pele pode ser determinante para a biopolítica do deixar viver ou fazer morrer.
Ao longo da última década, temos assistido a um crescente interesse acadêmico pelo feminismo negro e pelo conceito de interseccionalidade, criado e operacionalizado inicialmente por feministas negras. Importantes feministas, como Sonia... more
Ao longo da última década, temos assistido a um crescente interesse acadêmico pelo feminismo negro e pelo conceito de interseccionalidade, criado e operacionalizado inicialmente por feministas negras. Importantes feministas, como Sonia Alvarez (2014), têm revisitado algumas de suas abordagens teórico-metodológicas à luz do impacto do ativismo de mulheres negras no Brasil e na América Latina no conjunto do movimento feminista na região. Há também uma nova geração de mulheres negras – pesquisadoras, ativistas e gestoras de políticas públicas, entre outras – empenhadas em reconstruir a historiografia das mulheres no Brasil, mas, desta feita, dando vez e voz ao papel desempenhado por mulheres negras em diferentes lutas contra a opressão do período colonial aos tempos atuais (Cf. Pereira, 2016; Cardoso, 2012; Ratts, Rios, 2010).
Outro aspecto importante a ser ressaltado é o esforço conjunto capitaneado por acadêmicas e ativistas em trazer para o centro dos debates contemporâneos conceitos, ferramentas analíticas e metodológicas produzidos por mulheres negras e que permaneceram, por um longo período, à margem das teorizações feministas. Nessa empreitada em torno da consolidação de um pensamento feminista negro para além das margens um conjunto amplo de intelectuais negras têm sido recuperadas e suas obras disponibilizadas em diferentes espaços. A reabilitação de autoras do porte de Virgínia Bicudo, Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez no contexto brasileiro, e a criação de espaços, por vezes informais, para o debate, tradução e divulgação do trabalho de intelectuais estrangeiras de renome, como Audre Lorde, bell hooks, Kimberlé Crenshaw, Patricia Hill Collins, Angela Davis, entre outras, são o exemplo desse projeto coletivo de, para parafrasear Sueli Carneiro, enegrecer o feminismo acadêmico.
Neste artigo, eu examino alguns aspectos analíticos envolvidos nesse interjogo entre gênero, raça e classe, além de outros marcadores de hierarquia social, que tem sido trazidos à baila no debate público e nas produções acadêmicas nas ciências sociais especialmente por feministas negras. Analiso de maneira detida como esses debates tomaram corpo a partir dos anos 1980, quando feministas negras passaram a sistematicamente desafiar um modelo hegemônico e essencializante de se pensar sobre gênero e raça, e seus impactos teóricos e sociopolíticos desde então. Na segunda parte do artigo discuto o conceito de interseccionalidade, sua proximidade e distanciamento em relação às políticas de identidade que adquiriram certa centralidade na luta política a partir dos anos 1990.
By investigating the constitution of gender and feminist studies in Brazil as part of the larger 'feminist discursive field of action' (Alvarez 2014), we claim that throughout its development and particularly in its struggle with... more
By investigating the constitution of gender and feminist studies in Brazil as part of the larger 'feminist discursive field of action' (Alvarez 2014), we claim that throughout its development and particularly in its struggle with mainstream academia and science governance to contest its scientific marginalisation, this portion of the feminist field ended up producing some other exclusions of its own. Thus, and unintentionally, it contributed to perpetuating part of the mar-ginalisation that is characteristic of hegemonic modes of thinking and knowledge production. More specifically, besides attaching itself to rather reductive notions of what its political subject is (femaleness/womanhood), it also did not create the conditions and the space within which voices articulated from the far margins, such as that of Black women, could flourish. Along these lines, we claim that in the Brazilian context, one of the ways for gender studies and research to continue to be asserted as scientifically and socially useful and relevant is to continuously confront the exclusions that it itself produces. Therefore, a commitment to radical inclusion, which in our article appears through the acknowledgment of Black feminist knowledge production in Brazil, appears as an important and effective means to reassert gender studies' social usefulness .
Research Interests:
Research Interests:
Movimentos Sociais e Sociedade Civil Ementa: Ação coletiva. Identidades coletivas. Conceito de sociedade civil: principais autores, trajetória, redefinições conceituais e debates. Elementos da participação popular e associativismo.... more
Movimentos Sociais e Sociedade Civil Ementa: Ação coletiva. Identidades coletivas. Conceito de sociedade civil: principais autores, trajetória, redefinições conceituais e debates. Elementos da participação popular e associativismo. Trajetórias dos movimentos sociais no Brasil contemporâneo, com ênfase nos movimentos em defesa dos direitos humanos, de minorias e do meio ambiente. Contribuições teóricas para a análise dos movimentos sociais. Esfera pública e democracia deliberativa: experiências brasileiras. Movimentos sociais e cidadania no contexto da globalização. Terceiro Setor e Organizações Não Governamentais.
Artigos em revistas científicas são o principal mecanismo de comunicação científica que conhecemos. Há duas razões especiais para publicar artigos acadêmicos: 1) disponibilizar suas pesquisas para os demais integrantes do campo... more
Artigos em revistas científicas são o principal mecanismo de comunicação científica que conhecemos. Há duas razões especiais para publicar artigos acadêmicos: 1) disponibilizar suas pesquisas para os demais integrantes  do campo disciplinar no qual atua e contribuir para o enriquecimento da área a partir de diálogos, críticas e possíveis replicações metodológicas geradas pelo trabalho; 2) adquirir reconhecimento entre os pares e aprimorar o currículo. No Brasil, professores universitários e pesquisadores são usualmente selecionados via concursos públicos e a quantidade e qualidade das publicações apresentadas têm um peso importante para a classificação do candidato.

O grande número de periódicos publicados torna a tarefa de acompanhar tudo que é produzido num determinado campo científico praticamente impossível. Por isso, professores e pesquisadores priorizam uma quantidade limitada de revistas e congressos acadêmicos para se manterem atualizados acerca dos desenvolvimentos temáticos e metodológicos de sua área. Este é um dos aspectos relevantes a se levar em consideração ao escolher onde publicar, pois a opção por submeter artigos a meios desconhecidos ou acessíveis a poucos, torna provável que o trabalho se perca diante do grande volume de pesquisas produzidas e disponíveis.

A revisão por pares é outro aspecto significativo, conforme acentuado por Luiz Augusto Campos, em post publicado neste blog em 2019,  para a divulgação da produção científica. De um modo geral, os pareceres elaborados por pares tendem a ser construtivos e úteis, contribuindo para melhorar a qualidade final do artigo. Ademais, à medida em que recebem feedbacks em relação aos seus textos, os autores passam a compreender com maior facilidade os erros mais comuns e aprimoram a redação e capacidade de comunicar suas ideias.

Apesar de sua inequívoca importância, o treinamento específico para a escrita e preparação de manuscritos para publicação é pouco comum na academia, o que gera bastante apreensão e ansiedade entre pesquisadores iniciantes. O objetivo deste post é apresentar, em linhas gerais, as principais etapas e elementos a serem considerados na preparação de um texto que contenha os requisitos mínimos a serem enviados para apreciação em revistas acadêmicas.
O relato que apresento nesse memorial retrata minha inserção acadêmica tanto na condição de estudante como de docente e pesquisador. Organizado de forma cronológica, inicio com os anos dedicados à minha graduação em Psicologia, passando... more
O relato que apresento nesse memorial retrata minha inserção acadêmica tanto na condição de estudante como de docente e pesquisador. Organizado de forma cronológica, inicio com os anos dedicados à minha graduação em Psicologia, passando pelo mestrado em Psicologia Social e o doutorado em Sociologia para, em seguida, discorrer sobre minha experiência docente e, por fim, chegar ao meu estágio profissional atual e discutir minhas perspectivas acadêmicas para o futuro próximo dentro do campo de estudos sobre gênero e relações étnico-raciais.
O meu percurso acadêmico, iniciado em 1998, tem sido marcado por inúmeros desafios, mas também pelo imenso privilégio de poder estudar em diversas instituições de renome nacional e internacional e, ao longo do caminho, estabelecer interlocuções com várias pessoas – entre professores, colegas e ativistas – que marcaram profundamente minha formação profissional e humana. Vale ressaltar ainda que, desde o meu primeiro ano de graduação, tenho pautado minha carreira por uma constante articulação entre engajamento político e busca por excelência acadêmica. Acredito que esta seja a chave para dar visibilidade a temáticas que, de outra forma, permaneceriam à margem dos debates acadêmicos nas ciências humanas.
Esse memorial está organizado em três eixos: a) formação e pesquisa, tendo as temáticas da identidade étnico-racial, feminismo negro e mobilização política de afrolatinos como eixos condutores; b) docência, com destaque para minha experiência lecionando em diferentes contextos socioculturais e com acentuada ênfase para o caráter interdisciplinar dessa atuação e c) perspectivas profissionais e projetos acadêmicos futuros, em que delineio os contornos de uma pauta de ensino e pesquisa – articulando debates sobre estudos de gênero, relações étnico-raciais e teoria de movimentos sociais – que planejo continuar a desenvolver no decorrer dos próximos anos e, espero, seja acolhida dentro do Departamento de Ciência Política da UFBA.
Este curso tem como objetivo apresentar abordagens interpretativas e qualitativas em Ciência Política. O curso parte da premissa de que uma boa pesquisa em Ciência Política pode se valer de evidências qualitativas ou quantitativas (ou... more
Este curso tem como objetivo apresentar abordagens interpretativas e qualitativas em Ciência Política. O curso parte da premissa de que uma boa pesquisa em Ciência Política pode se valer de evidências qualitativas ou quantitativas (ou ambas) e que abordagens qualitativas não devem ser vistas apenas como secundárias aos métodos e dados quantitativos. O curso cobre questões centrais sobre métodos e abordagens qualitativas, com o intuito de oferecer treinamento específico para usá-los com eficiência e considerando os trade-offs envolvidos na escolha de determinada técnica ou tipo de evidência. Após uma breve introdução sobre as tradições de pesquisa positivista e interpretativista, o curso enfocará aspectos teóricos e práticos de diferentes abordagens e técnicas, tais como entrevistas, estudos de caso ampliado, pesquisa documental, etnografia, estudos comparativos, multi-métodos, análise de conteúdo e análise de discurso. Serão privilegiados exemplos de pesquisa em ciência política e/ou que dialoguem diretamente com a disciplina.
Este curso apresenta aos alunos os debates contemporâneos sobre raça/etnia nas Américas e examina especificamente o papel da raça/etnia na política latino-americana. Neste curso partimos de uma abordagem interdisciplinar que incorpora... more
Este curso apresenta aos alunos os debates contemporâneos sobre raça/etnia nas Américas e examina especificamente o papel da raça/etnia na política latino-americana. Neste curso partimos de uma abordagem interdisciplinar que incorpora distintas tradições teóricas, empíricas e ensaísticas para compreender as intersecções entre raça e política no continente americano e, a partir de aproximações comparativas, lançar luz sobre suas especificidades, continuidades e rupturas no contexto brasileiro. Para entendermos as intersecções entre raça/etnia e política, iremos explorar algumas questões, incluindo: Qual é a origem da raça? Qual é a origem da etnia? Como trabalhar com raça/etnia nas ciências sociais, de maneira geral, e na ciência política em específico? Como a raça/etnia tem sido definida/redefinida e empregada por instituições e atores políticos latino-americanos? Qual é a natureza da representação de grupos minoritários e como isso afeta a polity e a política? Como dinâmicas inter e intragrupais afetam as visões de mundo dos indivíduos e o ambiente político? Em que medida mudanças demográficas nas Américas influenciam a política racial atualmente e no futuro próximo?
Tópicos em Política Contemporânea: Gênero, Raça e Política no Brasil Ementa: O curso tem por objetivo discutir as intersecções entre gênero, raça e política no Brasil contemporâneo. Enfocaremos tanto perspectivas mais amplas sobre... more
Tópicos em Política Contemporânea: Gênero, Raça e Política no Brasil Ementa: O curso tem por objetivo discutir as intersecções entre gênero, raça e política no Brasil contemporâneo. Enfocaremos tanto perspectivas mais amplas sobre política, entendida aqui como o controle sobre – e/ou o acesso diferencial a – recursos materiais e simbólicos, quanto questões relativas à participação e representação de mulheres, afrodescendentes e outras minorias sociais em partidos políticos, movimentos sociais e no interior da burocracia estatal. O curso será organizado em três partes. Na primeira, mais teórica, exploraremos alguns conceitos básicos de análises feministas e antirracistas sobre política e sobre o Estado. Na segunda, analisaremos, à luz das teorias discutidas na primeira parte, a proposição e adoção de políticas públicas de gênero e raça no Brasil. A última parte se volta para os estudos sobre a ampliação de participação e de representação política de mulheres e negros no país.
Research Interests:
In The Two Faces of Institutional Innovation, Leonardo Avritzer revisits his discussions about democratic innovations in order to offer a nuanced approach to the potential and the dangers of recent transformations in political... more
In The Two Faces of Institutional Innovation, Leonardo Avritzer revisits his discussions about democratic innovations in order to offer a nuanced approach to the potential and the dangers of recent transformations in political institutions. The book provides a compelling argument about the need to investigate if, how and when innovations can deepen democracy, as it shows innovations do not only have a positive face. Avritzer dives into diverse case studies in Latin America, building a comparative study that indicates factors worthy of consideration in the analysis of institutional innovations.
Por que as pessoas protestam? Essa pergunta tem ocupado a cabeça de inúmeros psicólogos sociais, sociólogos e cientistas políticos interessados em compreender como indivíduos avaliam os custos e benefícios de sair de casa para protestar... more
Por que as pessoas protestam? Essa pergunta tem ocupado a cabeça de inúmeros psicólogos sociais, sociólogos e cientistas políticos interessados em compreender como indivíduos avaliam os custos e benefícios de sair de casa para protestar nas ruas junto a centenas, talvez milhares de desconhecidos, e o impacto que protestos podem gerar nas instituições políticas.
Minha coluna de estreia neste site, em tom otimista, aventava para a emergência de um novo contrato social no Brasil, não mais marcado pela negação da dimensão estrutural do racismo, mas sim por sua explicitação como o primeiro de muitos... more
Minha coluna de estreia neste site, em tom otimista, aventava para a emergência de um novo contrato social no Brasil, não mais marcado pela negação da dimensão estrutural do racismo, mas sim por sua explicitação como o primeiro de muitos e dolorosos passos em direção à sua superação. Retorno ao tema poucos meses depois, porém sem o mesmo otimismo de antes.
Diversidade se tornou a palavra da moda dentro e fora no mundo corporativo. Definida de maneira pouco criteriosa a ideia, cujo potencial transformador é inegável, corre sério risco de se converter em significante vazio e produzir efeitos... more
Diversidade se tornou a palavra da moda dentro e fora no mundo corporativo. Definida de maneira pouco criteriosa a ideia, cujo potencial transformador é inegável, corre sério risco de se converter em significante vazio e produzir efeitos opostos aos que se propõe.
Viralizou nos últimos dias um vídeo gravado em um jantar promovido pelo ex-presidente Michel Temer na casa de Naji Nahas, famoso especulador financeiro, no qual os comensais, todos homens, riem de uma imitação do Bolsonaro, feita por um... more
Viralizou nos últimos dias um vídeo gravado em um jantar promovido pelo ex-presidente Michel Temer na casa de Naji Nahas, famoso especulador financeiro, no qual os comensais, todos homens, riem de uma imitação do Bolsonaro, feita por um dos convidados.
O funk, gênero musical brasileiro criado e popularizado nas favelas e subúrbios do Rio de Janeiro, ocupa, no início do século 21 o lugar que, um século antes, foi ocupado pelo samba. Assim como ocorreu com o samba no período pósabolição,... more
O funk, gênero musical brasileiro criado e popularizado nas favelas e subúrbios do Rio de Janeiro, ocupa, no início do século 21 o lugar que, um século antes, foi ocupado pelo samba. Assim como ocorreu com o samba no período pósabolição, o funk é severamente criticado e perseguido. Os bailes funk são frequentemente alvos de abordagens policiais violentas, injustamente associados ao tráfico e à criminalidade e seguem imersos em controvérsias sobre sua importância cultural. Além disso, alguns de seus expoentes, como o DJ Renan da Penha, são perseguidos e presos com base em alegações frágeis ou inverídicas.
Sérgio Buarque de Holanda, um dos maiores e mais influentes intelectuais brasileiros do século XX, popularizou, em Raízes do Brasil, livro publicado originalmente em 1936, a expressão "homem cordial", para definir as características do... more
Sérgio Buarque de Holanda, um dos maiores e mais influentes intelectuais brasileiros do século XX, popularizou, em Raízes do Brasil, livro publicado originalmente em 1936, a expressão "homem cordial", para definir as características do brasileiro médio. Ele afirma que "a contribuição brasileira para a civilização será a cordialidade-daremos ao mundo o 'homem cordial'. A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal".
Ano passado, no início da pandemia de COVID-19, vários especialistas previram um aumento considerável no número de diagnósticos de transtornos psiquiátricos, especialmente depressão e ansiedade.
Na segunda-feira, 08 de março, o ministro Edson Fachin, do Superior Tribunal Federal (STF), anulou todas as condenações do ex-presidente Lula pela 13ª Vara Federal de Curitiba, repassando à Justiça Federal do Distrito Federal a... more
Na segunda-feira, 08 de março, o ministro Edson Fachin, do Superior Tribunal Federal (STF), anulou todas as condenações do ex-presidente Lula pela 13ª Vara Federal de Curitiba, repassando à Justiça Federal do Distrito Federal a competência para julgar os casos nos quais o ex-presidente é réu. A decisão, monocrática, ainda precisa ser avaliada pelo plenário do Supremo, mas, se mantida, torna Lula elegível e pode suspender o julgamento do ex-juiz Sergio Moro por suspeição.
O mito da democracia racial foi, até recentemente, um dos pilares da sociedade brasileira. De maneira geral, chamamos de mito da democracia racial a ideia, largamente difundida, de que a relação entre brancos, negros e indígenas no país é... more
O mito da democracia racial foi, até recentemente, um dos pilares da sociedade brasileira. De maneira geral, chamamos de mito da democracia racial a ideia, largamente difundida, de que a relação entre brancos, negros e indígenas no país é marcada, fundamentalmente, pela harmonia e que situações de racismo e discriminação seriam apenas episódicas.
Quando a pandemia da Covid-19 chegou ao país os otimistas vieram nos tranquilizar e garantir que a humanidade sairia melhor após uma crise sem precedentes. A solidariedade e o empenho mundial em prol do bem comum prevaleceriam sobre... more
Quando a pandemia da Covid-19 chegou ao país os otimistas vieram nos tranquilizar e garantir que a humanidade sairia melhor após uma crise sem precedentes. A solidariedade e o empenho mundial em prol do bem comum prevaleceriam sobre interesses particulares e casuísmos de ocasião. Porém, a pandemia apenas revelou quem somos, mas foi incapaz de alterar de maneira drástica nossa essência. Então, o que a crise da Covid-19 tem revelado sobre a sociedade brasileira?
Vivemos atualmente um período de acelerada transformação social, em diferentes dimensões. Diversos intelectuais do final do século 20 passaram a identificar uma mudança em curso nas sociedades democráticas ocidentais que consistiria na... more
Vivemos atualmente um período de acelerada transformação social, em diferentes dimensões. Diversos intelectuais do final do século 20 passaram a identificar uma mudança em curso nas sociedades democráticas ocidentais que consistiria na passagem da primazia das lutas por redistribuição material de recursos para aquelas concernentes a? gramática das formas da vida. No bojo da emergência de novos atores políticos e da pluralização crescente de identidades e demandas por inclusão cidadã, há uma reivindicação constante de que as sociedades multiculturais apresentem soluções que garantam a representação e a participação das minorias. Há, nesse sentido, do ponto de vista da teoria e prática das democracias, uma tentativa de se avançar em questões relacionadas a? inclusão política e ampliação da igualdade formal.