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O livro Aníbal Quijano. Reconstrucción de su vida y obra 1948-1968, de Segundo Montoya Huamaní, é o primeiro trabalho de reconstrução sistemática da trajetória e do pensamento de Aníbal Quijano (1930-2018). Embora Quijano tenha sido o... more
O livro Aníbal Quijano. Reconstrucción de su vida y obra 1948-1968, de Segundo Montoya Huamaní, é o primeiro trabalho de reconstrução sistemática da trajetória e do pensamento de Aníbal Quijano (1930-2018). Embora Quijano tenha sido o principal elaborador da teoria da “colonialidade do poder”, pedra angular da “Escola Decolonial”, que ganha notoriedade internacional há duas décadas, sua trajetória ainda é pouco conhecida. Montoya revisita e examina com rigor um material a um só tempo desconhecido e fundamental para se compreender o itinerário biográfico, político, intelectual e sentimental do sociólogo peruano.
Resenha do livro de Marcelo Ridenti, O segredo das senhoras americanas: intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria Cultural, São Paulo, Editora Unesp, 2022.
Este artículo presenta un breve estudio sobre el perfil de Instagram de Kuñangue Aty Guasu, la Gran Asamblea de Mujeres Guarani y Kaiowá de Mato Grosso do Sul (Brasil). A través de un escenario tecnológico de alta sociabilidad y el... more
Este artículo presenta un breve estudio sobre el perfil de Instagram de Kuñangue Aty Guasu, la Gran Asamblea de Mujeres Guarani y Kaiowá de Mato Grosso do Sul (Brasil). A través de un escenario tecnológico de alta sociabilidad y el advenimiento de la cultura digital, se analiza el perfil de Kuñangue Aty Guasu a partir de la sociología de los afectos y la política de las sensibilidades. Nuestra hipótesis es que la producción de noticias, imágenes, videos y discursos vinculados a la práctica social de Kuñangue Aty Guasu, entendida como una acción colectiva, expresa un sentipensante en su existencia social, de esperanza agónica, moldeado por una noción de amor como justicia social y ética comunitaria.
Este ensaio tem como objetivo fazer uma avaliação crítica do livro In the red corner: The marxism of José Carlos Mariátegui, do historiador Mike Gonzalez, recém-publicado nos Estados Unidos. Através de uma incursão neste trabalho, que... more
Este ensaio tem como objetivo fazer uma avaliação crítica do livro In the red corner: The marxism of José Carlos Mariátegui, do historiador Mike Gonzalez, recém-publicado nos Estados Unidos. Através de uma incursão neste trabalho, que consiste em uma biografia política sobre as diversas etapas da trajetória e do pensamento de Mariátegui, é possível observar seus alcances e lacunas a partir da comparação com outros trabalhos produzidos. Oportuniza também esboçar alguns desafios sobre questões metodológicas e políticas tendo em vista pesquisas mariateguianas futuras.
O objetivo deste capítulo é apresentar alguns cruzamentos nas obras de Gramsci e Mariátegui através das produções intelectuais de José Aricó (1931-1991) e Antonio Melis (1942-2016). Ambos seriam, em certo sentido, gramsciáteguistas -... more
O objetivo deste capítulo é apresentar alguns cruzamentos nas obras de Gramsci e Mariátegui através das produções intelectuais de José Aricó (1931-1991) e Antonio Melis (1942-2016). Ambos seriam, em certo sentido, gramsciáteguistas - termo criado pelo artista italiano Gianni Toti - ainda que por trilhas diferentes na militância política e intelectual. Nascido na Argentina, Aricó encontrava-se exilado no México durante a década de 1970 quando dedica-se efetivamente à leitura de Mariátegui e já largamente com uma formação gramsciana. Enquanto Melis, de origem italiana, sua militância socialista tinha Gramsci como referência política e descobre Mariátegui na década de 1960 e o toma como principal objeto de suas reflexões. As análises teóricas e os horizontes políticos sustentados por Aricó e Melis, inserem-se em meio a um contexto de crise e derrota da esquerda mundial, e, nesse contexto, posssibilitam uma atualização crítica do marxismo, através de uma peculiar alquimia: o gramsciáteguismo.
Este artigo pretende oferecer uma contribuição sociológica à história das ciências sociais na América Latina, investigando aspectos da trajetória intelectual de Aníbal Quijano (1930-2018) e de seus cruzamentos com o Brasil durante as... more
Este artigo pretende oferecer uma contribuição sociológica à história das ciências sociais na América Latina, investigando aspectos da trajetória intelectual de Aníbal Quijano (1930-2018) e de seus cruzamentos com o Brasil durante as décadas de 1960 e 1970. Nossa hipótese é que o contato acadêmico e político de Quijano com intelectuais exilados no Chile possibilitou a difusão, ainda que restrita, de parte de sua produção entre brasileiros no exterior e também entre intelectuais que estavam no país tropical, circunscrito na área da “sociologia urbana”. Em contrapartida, tiveram pouca repercussão no Brasil suas produções sobre experiências políticas peruanas em curso, dos movimentos camponeses, da luta armada e do governo militar de Velasco Alvarado (1968-1975). Ao mobilizar as trocas e contatos entre Quijano e intelectuais brasileiros, a partir da perspectiva da circulação internacional das ideias e dos agentes, nosso trabalho apresenta novas questões para pensar a relação entre a sociologia brasileira e a latino-americana.
Examination of the diffusion of the work of José Carlos Mariátegui (1894-1930) among Brazilian social scientists exiled to Chile during the 1960s and 1970s shows that, despite their significant contact with it, there was no discussion of... more
Examination of the diffusion of the work of José Carlos Mariátegui (1894-1930) among Brazilian social scientists exiled to Chile during the 1960s and 1970s shows that, despite their significant contact with it, there was no discussion of it in the main works of the dependency theorists, and therefore there is insufficient evidence to declare it a precursor of that theory. O exame da difusão da obra de José Carlos Mariátegui (1894-1930) entre os cientistas sociais brasileiros exilados no Chile durante as décadas de 1960 e 1970 mostra que, apesar de seu contato significativo com o país, não foi discutido nas principais obras da teóricos da dependência e, portanto, não há evidências suficientes para declará-lo um precursor dessa teoria.
O objetivo deste texto é apontar a riqueza da pesquisa teórica e empírica de Marx nas margens, de Kevin Anderson, pois consideramos que esse trabalho apresenta um novo ciclo de discussão ao conseguir discorrer a ideia de que a teoria... more
O objetivo deste texto é apontar a riqueza da pesquisa teórica e empírica de Marx nas margens, de Kevin Anderson, pois consideramos que esse trabalho apresenta um novo ciclo de discussão ao conseguir discorrer a ideia de que a teoria dialética de Marx não está reduzida à questão de classes e a etapas "universais" de desenvolvimento capitalista, como frequentemente se aponta. Em primeiro lugar, destacaremos a mobilização das fontes, a metodologia de análise e a tradição intelectual e política em que a obra e o autor estão inseridos. Em um segundo momento, apresentaremos os capítulos do livro e, por fim, um breve comentário sobre alguns desafios que o livro suscita para novas agendas de pesquisa capazes, inclusive, de aproximar efetivamente tradição marxista e perspectiva pós/decolonial.
O objetivo deste ensaio interpretativo é apresentar como o peruano José Carlos Mariátegui (1894-1930) construiu uma crítica dialética da modernidade a partir da periferia do Ocidente, contribuindo para uma história intelectual marxista... more
O objetivo deste ensaio interpretativo é apresentar como o peruano José Carlos Mariátegui (1894-1930) construiu uma crítica dialética da modernidade a partir da periferia do Ocidente, contribuindo para uma história intelectual marxista decolonial. Inserido no horizonte intelectual e epistêmico de sua época, o pensador produziu um relato crítico do sistema capitalista periférico, debatendo tanto seu lado moderno quanto seu lado colonial, destrutivo e violento.
A entrevista tem como objetivo discutir a difusão, circulação e apropriação do pensamento de José Carlos Mariátegui no Brasil com o historiador brasileiro Luiz Bernardo Pericás, que, além de estudioso do marxismo brasileiro e... more
A entrevista tem como objetivo discutir a difusão, circulação e apropriação do pensamento de José Carlos Mariátegui no Brasil com o historiador brasileiro Luiz Bernardo Pericás, que, além de estudioso do marxismo brasileiro e latino-americano, tem sido um dos principais divulgadores do pensador peruano no país. Realizada por Deni Alfaro Rubbo e Silvia Adoue por correio eletrônico, em agosto de 2019.
Peruano, latino-americano e internacionalista, marxista "convicto e confesso", organizador cultural e político em seu país, autodidata e de origem plebeia, José Carlos Mariátegui (1894-1930) é o Charlie Parker do pensamento social e... more
Peruano, latino-americano e internacionalista, marxista "convicto e confesso", organizador cultural e político em seu país, autodidata e de origem plebeia, José Carlos Mariátegui (1894-1930) é o Charlie Parker do pensamento social e político latino-americano. Uma obra clássica e desmesurada, que interrogou e questionou seu tempo diante da complexidade de desafios existentes. Com uma curta vida marcada por altos e baixos, a trajetória e a obra do pensador peruano despertam ainda uma mistura de mistério e fascinação para anticapitalistas inconformados. Mesmo depois de 90 anos de sua morte prematura, as novas gerações redescobrem sua trajetória errante, muitas vezes, por "acasos objetivos", em espaços de socialização política, cultural e acadêmica. Mariátegui construiu uma produção extensa e multifacetada. Durante a década de 1910, em plena juventude, escreveu poesias, contos, peças de teatro, crônicas e artigos para jornais e revistas da capital peruana. Na década subsequente, o escritor andino inicia uma nova fase, conhecida como "idade madura"-afinal, um latino-americano tornava-se adulto muito mais precocemente do que um europeu. Depois de sua experiência europeia, entre final de 1919 e início de 1923, Mariátegui retorna ao seu país de origem com novos projetos culturais e políticos.
t is now more than ninety years since the disappearance of José Carlos Mariátegui (1894–1930), the Marxist intellectual, born in Peru. Since then, a lot of water has flowed through the river of diffusion processes, circulation, and... more
t is now more than ninety years since the disappearance of José Carlos Mariátegui (1894–1930), the Marxist intellectual, born in Peru. Since then, a lot of water has flowed through the river of diffusion processes, circulation, and reception of his work in Peru, Latin America, and the world. Anniversaries carry a strong symbolic load and can be interesting occasions, not to inscribe posthumous “tributes” but for balances and perspectives for the present time. After all, as Walter Benjamin said, the fundamental purpose of historical materialism is updating. It is in this sense that Mike Gonzalez’s In the Red Corner: The Marxism of José Carlos Mariátegui offers a thought-provoking political biography of Mariátegui’s multidimensionality.
Resenha do livro: TRAVERSO, Enzo. Melancolia de esquerda: marxismo, história e memória. Belo Horizonte/Veneza, Editora Âyiné, 2018.
Professor emérito do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (usp), Sedi Hirano faz parte de uma geração de cientistas sociais uspianos cuja formação intelectual entrelaçou fortemente método, teoria e empiria –... more
Professor  emérito  do  Departamento  de  Sociologia  da  Universidade  de  São  Paulo  (usp), Sedi Hirano faz parte de uma geração de cientistas sociais uspianos cuja formação intelectual entrelaçou fortemente método, teoria e empiria – o que constitui um traço característico e um ethos dos sociólogos dessa geração. Marcado pela influência de  seus  grandes  mestres,  com  destaque  para  Florestan  Fernandes  e  Octavio  Ianni  (e também Fernando Henrique Cardoso, Luiz Pereira e Aziz Simão, entre outros intelectuais), o sociólogo tem uma vasta carreira acadêmica que já ultrapassa meio século, envolvendo a dedicação à docência, à pesquisa e às atividades administrativas, incluindo um período como coordenador da Pós-Graduação em Sociologia, diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (fflch) e Pró-Reitor de Cul-tura e Extensão da usp. Suas contribuições intelectuais e institucionais para a história da fflch e, em especial, para o Departamento de Sociologia da usp são indeléveis. Em dezembro de 2018, Sedi Hirano recebeu-nos para uma conversa de aproximadamente seis horas de duração, realizada em dois encontros, em sua sala na fflch-usp.
Cet article présente chez José Carlos Mariátegui la construction d’une critique dialectique de la modernité depuis la périphérie de l’Occident, contribuant ainsi à une histoire intellectuelle marxiste décoloniale. Inséré dans l’horizon... more
Cet article présente chez José Carlos Mariátegui la construction d’une critique dialectique de la modernité depuis la périphérie de l’Occident, contribuant ainsi à une histoire intellectuelle marxiste décoloniale. Inséré dans l’horizon intellectuel et épistémique de son temps, Mariátegui a produit un récit critique du système capitaliste périphérique, mettant en débat à la fois sa face moderne et sa face coloniale, destructrice et violente. Nous soutenons que l’essayiste péruvien s’est éloigné à la fois de la vision centrée sur l’Ouest, caractérisée par le marxisme orthodoxe, et des interprétations selon lesquelles les lieux périphériques seraient des espaces pratiquement extérieurs à la modernité occidentale.
LÖWY, Michael. A estrela da manhã: surrea-lismo e marxismo. 2. ed., revista e ampliada. São Paulo, Boitempo, 2018.160p CRÍTICA DA MODERNIDADE E "MARXISMO GÓTICO": Michael Löwy e o surrealismo Mais do que curiosidade ou paixão pas-sageira,... more
LÖWY, Michael. A estrela da manhã: surrea-lismo e marxismo. 2. ed., revista e ampliada. São Paulo, Boitempo, 2018.160p CRÍTICA DA MODERNIDADE E "MARXISMO GÓTICO": Michael Löwy e o surrealismo Mais do que curiosidade ou paixão pas-sageira, o marxismo, sua história e suas mani-festações (políticas, econômicas, intelectuais, culturais etc.) tornaram-se um projeto e um horizonte de vida, ou melhor, uma visão de mundo, que marcam decididamente a identi-dade de Michael Löwy (1938-) como intelec-tual público. Com mais de sessenta anos de uma produção intelectual que se desenvolve através de diversas fases, seus trabalhos difun-dem-se e circulam pelo mundo em dezenas de idiomas. Com estilo próprio e posição singular no campo científico, a contribuição do soció-logo franco-brasileiro para o pensamento crí-tico contemporâneo e, particularmente, para a sociologia da cultura mostra-se fundamental para a renovação crítica do marxismo. Apesar disso, Löwy ainda é desconheci-do como militante surrealista. É preciso, por-tanto, distinguir o lugar do surrealismo em sua trajetória, em vista do que a Boitempo Editorial publica no Brasil a segunda edição de A estrela da manhã: surrealismo e marxismo. Esgotada a tradução publicada pela editora Civilização Brasileira, em 2002, acrescentam-se agora à nova edição algumas atualizações e um novo ensaio-nove no total-sobre as dimensões romântico-revolucionárias do surrealismo. Até hoje surrealista convicto e confes-so, Löwy aderiu apaixonadamente à corrente estética e política fundada por André Breton, aos dezesseis anos, momento em que também abraça a militância política revolucionária sob influência do economista Paul Singer (1932-2018), que aproveitava para indicar ao jovem a obra de Rosa Luxemburgo. O filho de judeus austríacos descobre (e define) o surrealismo como um conjunto "ao mesmo tempo" poético, artístico e revolucionário. Consequentemen-te, a incipiente militância política-primeiro como membro da Liga Socialista Independente (LSI) e, posteriormente, da Organização Revo-lucionária Marxista Política Operária (Polop)-não deixava que o surrealismo fosse apenas uma escola artística, bem como não permitia que a militância fosse compreendida como uma função burocrática. Afinal, uma parcela significativa dos surrealistas aproximara-se explicitamente das posições de Trotsky e da Oposição Comunista de Esquerda na década de 1930, o que selou em definitivo o rompi-mento com stalinismo. Era preciso conjugar sonho e ação, poesia e subversão, independên-cia e liberdade individual-pontos ausentes do "realismo estreito" do comunismo soviético. Naquela época, portanto, identificar-se com o universo surrealista era também posicionar-se favorável à crítica da "burocracia stalinista" elaborada pelo líder da IV Internacional. O lema asseverado por Breton sobre transformar o mundo (Marx) e mudar a vida (Rimbaud) parecia cair perfeitamente bem nos projetos de Löwy, morador da cidade de São Paulo na década de 1950. É curioso que esse interesse nutrido pela potencialidade da ima-ginação, da magia, do inconsciente e da poesia o tenha feito aderir especificamente ao surrea-lismo, que nessa época se encontrava em baixa tanto no Brasil quanto na própria França. Tal-vez sua adesão "tardia e um tanto anacrônica" ao surrealismo seja, como sugere Enzo Traver-so (2012), (mais) um indício do seu "lugar in
Este trabalho procura discutir a difusão e a circulação da obra de José Carlos Mariátegui (1894-1930) entre cientistas sociais brasileiros exilados no Chile durante as décadas de 1960 e 1970. O artigo tem quatro objetivos: traçar... more
Este trabalho procura discutir a difusão e a circulação da obra de José Carlos Mariátegui (1894-1930) entre cientistas sociais brasileiros exilados no Chile durante as décadas de 1960 e 1970. O artigo tem quatro objetivos: traçar convergências teóricas e políticas entre a obra mariateguiana e a dos dependentistas; apresentar a circulação do autor peruano no Chile por meio de empreendimentos bibliográficos e de agentes de difusão; rastrear o contato dos intelectuais dependentistas brasileiros com a obra mariateguiana durante suas experiências de exílio; e, a despeito desse contato, apontar a “ausência” de discussão dessa obra entre os dependentistas.
O enigma da revolução As revoluções fazem parte dos grandes mistérios da história que despertam anseios, inquietações e esperanças. Essa "imprudência criadora", como falava Daniel Bensaïd, carrega a imagem de um mar agitado, moldada por... more
O enigma da revolução As revoluções fazem parte dos grandes mistérios da história que despertam anseios, inquietações e esperanças. Essa "imprudência criadora", como falava Daniel Bensaïd, carrega a imagem de um mar agitado, moldada por reviravoltas imprevisíveis. "Elas nascem no nível do solo, do sofrimento e da humilhação" 1. Plurais em sua natureza, as revoluções são temidas e desejadas, tecidas por múltiplos processos em ritmos desiguais e combinados. E, na periferia do capitalismo, especialmente no Brasil, teria ocorrido uma revolução? Ela é, afinal, uma ação, um processo ou um acontecimento? Definitivamente a resposta não é fácil. Desvendar o enigma da revolução brasileira (mesmo em sua imaginação histórica-sociológica) implica equacionar a formação social do país e suas idiossincrasias culturais, com a dinâmica contraditória do capitalismo e as antinomias da modernidade. Este é o assunto do livro Caminhos da revolução brasileira, organizado pelo historiador Luiz Bernardo Pericás. Um de seus grandes méritos é salvar do esquecimento ou da indiferença textos e autores-uns mais, outros menos-da tradição marxista brasileira que, longe ser homogênea, revela uma longa controvérsia pluralista, de seus termos, formas e conteúdos adotados. Pericás faz uma introdução crítica de praticamente noventa páginas e apresenta um caleidoscópio de "intérpretes" que deslindaram sobre a revolução brasileira, estruturada em diversos períodos na história política do país no século XX. Em sua prosa sóbria e objetiva, cercada por um extenso aparato bibliográfico, costura pacientemente os nexos entre autores, textos e contextos. De partida, é possível constatar rapidamente que os profusos usos da noção "revolução" pelo campo da esquerda brasileira (ainda que a direita também a incorpore) parece, muitas vezes, mais um sofá velho e grande, em que todos segmentos se acomodam, cada qual na peleja sobre a "melhor" definição. Segundo o autor: No painel ideológico daquele momento, ativistas de diferentes vertentes políticas, debateram intensamente os caminhos da revolução no território nacional. Nesse sentido, é possível perceber claramente, nas discussões sobre o assunto ao longo das décadas, um amplo leque de influências sobre as distintas tendências e partidos, como o leninismo clássico, o stalinismo, o trotskismo, as políticas khruschovianas, o maoísmo e as ideias de Fidel Castro e Che Guevara, assim como aquelas oriundas do arcabouço teórico cepalino, do nacionalismo de esquerda e da T[eoria] M[arxista] [da] D[ependência] 2. É mais do que claro, por conseguinte, que mediações políticas e ideológicas tiveram pesos significativos nos esquemas de explicações sobre a "revolução brasileira" entre as décadas de 1920 e 1980. Muitos dos personagens trazidos no livro viveram intensamente o desenvolvimento cultural e político do país, o que inclui oposição ou colaboração com
Resumo O objetivo deste artigo é discutir alguns desdobramentos presentes na trajetória intelectual e política de Aníbal Quijano (1930-2018). Procura-se reconstruir especialmente o contexto de "crise dos paradigmas" das ciências sociais e... more
Resumo O objetivo deste artigo é discutir alguns desdobramentos presentes na trajetória intelectual e política de Aníbal Quijano (1930-2018). Procura-se reconstruir especialmente o contexto de "crise dos paradigmas" das ciências sociais e de declínio da esquerda marxista, que se manifestaram de modo acentuado na década de 1980, examinando como o sociólogo peruano encontrou soluções para a encruzilhada histórica que se anunciava a uma geração de cientistas sociais engajados na América Latina. Parte-se da hipótese de que a cristalização de um ciclo de derrotas políticas possibilitou um novo redirecionamento teórico para Quijano entender a história latino-americana em sua moldura política e epistêmica. Por fim, analisa-se o movimento de aproximação e distanciamento que o autor faz com a tradição marxista a partir da perspectiva adotada da "colonialidade do poder". Palavras-chave: Aníbal Quijano, América Latina, marxismo, ciências sociais, colonialidade.
Este artigo tem como objetivo discutir a perspectiva “decolonial” de Aníbal Quijano (1930-2018) e seus usos a partir de José Carlos Mariátegui. Em primeiro lugar, relacionamos o contexto histórico latino-americano desde a década de 1980... more
Este artigo tem como objetivo discutir a perspectiva “decolonial” de Aníbal Quijano (1930-2018) e seus usos a partir de José Carlos Mariátegui. Em primeiro lugar, relacionamos o contexto histórico latino-americano desde a década de 1980 ao esforço de interpretação de Mariátegui por Aníbal Quijano, balizado, sobretudo, pela formulação de uma teoria fundacional (filosófica, epistemológica, ética e política) sobre a especificidade da América Latina. Na sequência, Quijano redescobre, assim, certo Mariátegui associado à renovação crítica da teoria social latino-americana. Através de múltiplos mecanismos de difusão, ele estabelece uma reconhecida caracterização filosófica e epistemológica do arsenal mariateguiano, visto como bastião da crítica eurocêntrica (“racionalidade alternativa”), para legitimá-lo como referência fundamental da teoria da “colonialidade do poder”.
This thesis is a study about José Carlos Mariátegui´s work reception (1894-1930) on Latin America social science. It deals with the social diffusion and appropriations of Mariteguiana´s ideas on the series of intellectual social science... more
This thesis is a study about José Carlos Mariátegui´s work reception (1894-1930) on Latin America social science. It deals with the social diffusion and appropriations of Mariteguiana´s ideas on the series of intellectual social science history and the history of Marxism in this continent. The first part is dedicated to a social and intellectual study, to investigate Mariátegui literacy incursions in journalism, his position on political Peruvian debate, some aspects of his European intellectual background, the style of his production as well as certain analytical perspectives and political tensions due to his role as a socialist militant. On the second part, it seeks to expose the diffusion process of his work, especially from 1960´s onwards. It considers the hypothesis of a meeting between a notable editorial enterprise coordinated by the author´s relatives and social-political and cultural circumstances experienced in Peru and Latin America favoured the construction of Mariátegui´s transnational ideas reception. In a critical process of traditional Latin American left discourse, of modernization perspectives and dualistic thesis on social science, it is possible to observe that the heterodox image of Mariátegui emerge as one of the most important update referential on Marxism. From the decade of 1990 onwards, Mariátegui becomes incorporated to a colonial perspective, especially by Aníbal Quijano, as a epistemological reference about Eurocentric critic view. The third and last part of this research builds a reflexion on Mariátegui´s reception by Brazilian sociology based on mapping readers (and readings) of the Peruvian intellectual, notably Florestan Fermandes and Michael Löwy.
Research Interests:
Nesta entrevista, no espaço da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema(SP), ocorrida em novembro de 2011, Gilmar Mauro, dirigente nacional do MST, aborda um tema que ainda é um desafio teórico e político para o tempo... more
Nesta entrevista, no espaço da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema(SP), ocorrida em novembro de 2011, Gilmar Mauro, dirigente nacional do MST, aborda um tema que ainda é um desafio teórico e político para o tempo presente: o internacionalismo,
com foco especialmente na América Latina. Ele aborda como esse processo e princípio acompanhou constantemente a trajetória histórica do MST, seja nos cursos de formação, seja no processo de articulação com outras organizações populares do campo, seja nos acampamentos e assentamentos, seja na criação de inúmeras brigadas de solidariedade.
Este artículo dividido en dos partes tiene como objetivo presentar y sistematizar la evolución de la lectura peculiarmente crítica de Michael Löwy sobre el pensamiento de José Carlos Mariátegui. En un primer mo mento, el sociólogo... more
Este artículo dividido en dos partes tiene como objetivo presentar
y sistematizar la evolución de la lectura peculiarmente crítica de Michael Löwy sobre el pensamiento de José Carlos Mariátegui. En un primer mo
mento, el sociólogo franco-brasileño realiza un análisis predominantemente anclado en la figura política de Mariátegui, destacando su pensamiento como expresión más vigorosa y original frente al cuadro histórico de surgimiento del marxismo en América Latina. En un segundo momento,  bajo la nítida influencia de “Sobre el concepto de la Historia” de Walter Benjamin –punto de inflexión que altera su visión del mundo marxista–, la comprensión de Löwy con relación a la obra mariateguiana es (re)dimensionada. Ella aproxima el pensamiento del periodista peruano a la corriente romántico-revolucionaria –distanciándolo de manera resuelta del ideario positivista y del “culto supersticioso de la idea de Progreso” – en la cual la dimensión espiritual, ético-social y religiosa de la lucha revolucionaria asume vital importancia. Tal lectura amplía el espectro de análisis del conjunto de la obra de Mariátegui, lo que puede suscitar lecturas comparativas aunque inexploradas, principalmente en el dominio de la sociología de la cultura y de la religión.
Nesta entrevista, feita por correio eletrônico, no final de 2012, o intelectual e militante político argentino Miguel Mazzeo aborda as várias facetas do pensamento vivo e inesgotável de José Carlos Mariátegui, em especial sua dimensão... more
Nesta entrevista, feita por correio eletrônico, no final de 2012,  o intelectual e militante político argentino Miguel Mazzeo aborda as várias facetas do pensamento vivo e inesgotável de José Carlos Mariátegui, em especial sua dimensão utópico-religiosa, mas também a ênfase acerca da solidariedade internacionalista nas lutas sociais contemporâneas. Mais do que um exercício exegético de interpretar a obra do marxista peruano, Mazzeo tem se destacado por resgatar o pensamento heterodoxo de José Carlos Mariátegui relacionando-o com os movimentos populares da atualidade,  cada vez mais caracterizados por uma irredutível pluralidade social, impondo desafios imensos à teoria social e, sobretudo, a práxis política dos subalternos do continente latino-americano.
Embora José Carlos Mariátegui mencione em poucos momentos o nome de Rosa Luxemburgo, é possível flagrar um vivo interesse do pensador peruano a respeito da obra e vida da marxista. O objetivo principal deste artigo... more
Embora José  Carlos  Mariátegui mencione  em  poucos  momentos  o  nome  de  Rosa  Luxemburgo, é possível flagrar um vivo interesse do pensador peruano a respeito da obra e vida da  marxista. O  objetivo  principal  deste  artigo  é  apresentar  e  analisar,  de  maneira
necessariamente  exploratória,  em  quais  momentos  se  faz  presente  a  apropriação  de  Rosa  e  sua importância  no  pensamento  de  Mariátegui.  Podemos  vislumbrar  esse  percurso  em  dois
momentos: 1) na análise política que leva a cabo sobre a Revolução Alemã e o lugar que a judia polonesa  ocupa  nessa  explicação;  e  2)  na  comparação  ético-política  entre  a  mística  dos revolucionários e de religiosos cristãos do passado, como Teresa D’Ávila. Somado a isso, ambos demarcam  uma  análise  similar  sobre  vários  aspectos  da  socialdemocracia  e  do  marxismo positivista  da  Segunda Internacional,  caracterizados  por  uma  concepção  fechada,  rígida, mecânica do marxismo, o que é motivo de rechaço por ambos os pensadores, signatários de um marxismo “aberto”.
O objetivo deste artigo é discutir alguns dos desdobramentos da interpretação da teoria do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo, presente em várias passagens da obra de Michael Löwy, a fim de indicar sua importância para a... more
O objetivo deste artigo é discutir alguns dos desdobramentos da interpretação da teoria do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo, presente em várias passagens da obra de Michael Löwy, a fim de indicar sua importância para a renovação crítica do marxismo latino-americano. Para tanto, buscaremos avançar por três momentos: 1) em primeiro lugar, iremos apresentar os delineamentos gerais da teoria do desenvolvimento desigual e combinado na obra de Löwy; 2) na sequência, vamos destacar a importância do contexto histórico latino-americano entre os anos de 1959 e 1979 no esforço interpretativo e político de Löwy, balizado, sobretudo, pela atualização da teoria do desenvolvimento desigual e combinado; finalmente, 3) argumentaremos que a fecundidade da interpretação de Löwy, no tocante ao contexto latino-americano, advém de sua familiaridade com o pensamento do marxista peruano José Carlos Mariátegui.
Resenha do livro Roberto Schwarz (et al). Nós que amávamos tanto: O Capital: leituras de Marx no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2017.
Florestan Fernandes é um dos pioneiros na divulgação da obra de José Carlos Mariátegui no Brasil. O objetivo central deste artigo é analisar e interpretar algumas manifestações do encontro entre Florestan e Mariátegui. Em primeiro lugar,... more
Florestan Fernandes é um dos pioneiros na divulgação da obra de José Carlos Mariátegui no Brasil. O objetivo central deste artigo é analisar e interpretar algumas manifestações do encontro entre Florestan e Mariátegui. Em primeiro lugar, levantaremos algumas das principais ocorrências da obra do pensador peruano nos textos, entrevistas e intervenções públicas do sociólogo brasileiro. Em segundo lugar, disponibilizaremos o resultado de uma pesquisa no arquivo Fundo Florestan Fernandes, que lança luz sobre o trabalho materializado ao longo das leituras feitas por Florestan: são inúmeros grifos, anotações, questionamentos inscritos nos livros do pensador peruano que o sociólogo tinha disponíveis em sua biblioteca particular. Assim, procuraremos reforçar a ideia de que muitos dos problemas levantados pelo Amauta no Peru na década de 1920 e, por extensão, na América Latina, suscitaram realmente o interesse daquele que é considerado o maior sociólogo brasileiro.
Trata-se de uma resenha do livro Caio Prado Júnior, uma biografia política, de Luiz Bernardo Pericás (Boitempo, 2016)
Research Interests:
Trata-se da resenha do livro Javier Mariátegui Chiappe "José Carlos Mariátegui: formación, contexto e influencia de un pensamiento". (Lima: Editorial Universitaria, 2012)
Trata-se da resenha do livro José Carlos Mariátegui Revolução Russa:
história, política e literatura. (Organização, tradução e prefácio: Luiz Bernardo Pericás). São Paulo: Expressão Popular, 2012.
Trata-se da resenha do livro Ruy Braga  Pulsão plebeia: trabalho, precariedade e rebeliões sociais (Alameda, 2015).
Research Interests:
Desde seu nascimento, há quase trinta anos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem se destacado pela perenidade de sua organização e disposição de estimular uma diversidade de vínculos capilares com a sociedade civil o... more
Desde seu nascimento, há quase trinta anos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem se destacado pela perenidade de sua organização e disposição de estimular uma diversidade de vínculos capilares com a sociedade civil o que constitui uma das maiores novidades da história política contemporânea do campesinato brasileiro e voz mais expressiva da questão agrária na América Latina. Diante dessa constatação, o objetivo deste livro é apresentar e analisar como a dimensão internacionalista do MST enquanto elemento real e ativo de construção de um lócus político constitui-se historicamente, a fim de destacar as diversas influências políticas e ideológicas e a composição heterogênea de seu ativismo transnacional, que foram desenvolvidas (e assimiladas) tanto por circunstâncias políticas e econômicas em que o país enveredou quanto pela atuação das lideranças do MST. A hipótese central é de que, a partir da metade da década de noventa, o MST alcança o auge de sua projeção no exterior, não apenas pela referência mundial simbólica e política da luta camponesa, mas pela percepção de que o internacionalismo está enraizado nas condições materiais da luta de classes na agricultura mundializada. Desde então, inicia-se um processo de redefinição de sua estratégia política que passa a ser ampliada internacionalmente, na busca de convergência de linhas políticas e agendas em comum, principalmente com a Coordinadora Latinoamericana de Organizaciones del Campo (CLOC) e Via Campesina. Todavia, a política internacionalista do MST não nasce, cresce e amadurece politicamente apenas como reflexo passivo do avanço do capitalismo internacional do campo. O desenvolvimento desigual do capitalismo no campo brasileiro e a trajetória internacionalista do MST não constituem duas retas paralelas que podem ser relacionadas ponto a ponto. Na verdade, ambas adquirem configurações espaciais e temporais mais complexas e são estabelecidas em um constante encontro e desencontro. Por exemplo, a dimensão ética-moral e religiosa principalmente da fonte da Teologia da Libertação e da pastoral da terra é um fator essencial na motivação subjetiva de uma consciência humanista e universal latino-americana e de uma cultura política de solidariedade internacionalista permanente que o MST desenvolve a partir da própria formação específica que aqui se propõe estudar.
Trata-se da resenha do livro Jean Tible, Marx Selvagem (São Paulo: Annablume, 2013)
Trata-se da resenha de Eleni Varikas, A escória do mundo: figuras do pária (São Paulo: UNESP, 2014).
Sumário Prefácio Aldo Casas Apresentação Deni Alfaro Rubbo e Silvia Adoue Para situar Mariátegui Alberto Flores Galindo Mariátegui e o marxismo latino-americano – história, lutas e ideias Entrevista com Luiz Bernardo Pericás... more
Sumário

Prefácio
Aldo Casas

Apresentação
Deni Alfaro Rubbo e Silvia Adoue

Para situar Mariátegui
Alberto Flores Galindo

Mariátegui e o marxismo latino-americano – história, lutas e ideias
Entrevista com Luiz Bernardo Pericás

Considerações para o estudo do jovem Mariátegui: os escritos juvenis
Ricardo Portocarrero Grados

A luta de José Carlos Mariátegui na frente cultural
Antonio Melis

José Carlos Mariátegui e a cultura revolucionária: do romantismo ao surrealismo
Michael Löwy

Mariátegui: intelectuais, literatura e questão nacional
Bernardo Soares

Mito, religião e socialismo nos escritos de José Carlos Mariátegui
Sydnei Melo

Mariátegui, uma visão de gênero
Sara Beatriz Guardia

Mariátegui e a questão negra
Roland Forgues

Retomadas Guarani e Kaiowá: o socialismo indo-americano e a busca da Terra sem Mal
Felipe Johnson e Silvia Adoue

O marxismo hediondo: notas para um estudo comparativo entre José Carlos Mariátegui e Rodolfo Kusch
Miguel Mazzeo

Difusão e circulação do marxismo na periferia: Mariátegui e a “teoria da dependência”
Deni Alfaro Rubbo

Afinidades entre Mariátegui e Caio Prado: questão nacional, metodologia e práxis
Yuri Martins Fontes

Sobre os autores