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TERAPIA FAMILIAR

Marcielle Aparecida de Fátima Oliveira-Psicóloga


É um método psicoterapêutico realizado através de
sessões conjuntas com os elementos de uma família,
mesmo que a ajuda psicológica seja solicitada apenas
para um dos membros.
A terapia familiar é toda terapia que se centra mais no
sistema da família do que nos elementos que a compõe,
ela busca a teoria geral dos sistemas (cada um
composto por diferentes elementos: escola, grupo
cultural ou social, nação, bairro, emprego).
O nascimento deste modelo ocorreu nos Estados
Unidos, a terapia familiar evoluiu a partir de uma
multiplicidade de influências da formulação da
psicanálise, Freud considerou e ressaltou em seus
estudos as relações familiares. Em Fragmento da
Análise de um Caso de Histeria (1905), ele afirma que
devemos prestar tanto atenção às condições humanas
e sociais dos enfermos quantos aos dados somáticos e
aos dados patológicos, ressaltando que o interesse do
psicanalista deve dirigir – se sobretudo para as relações
familiares dos pacientes.
Freud faz referência à família em vários outros
momentos de sua obra. Em umas das suas conferências
ele se refere às resistências externas, emergentes das
circunstâncias do paciente, de seu ambiente, que
interferem no processo analítico e que podem explicar
um grande número de fracassos terapêuticos.
Torna – se impossível isolar o indivíduo do seu meio,
ambos evoluem simultaneamente e mudam
reciprocamente, a importância do contexto torna – se
mais clara, bem como a noção de evolução, que é
determinante na terapia familiar. (Relvas, 1999).
Entre os mais importantes autores no âmbito da terapia
familiar e do seu desenvolvimento, encontramos Milton
Erikson (Psiquiatra americano) que desenvolveu a
história clínica e uma forma muito particular de fazer
terapia.
A terapia familiar de enfoque psicanalítico dá ênfase ao
passado, à história da família tanto como causa de um
sintoma, quanto como um meio de transforma – lo . Os
sintomas são visto com decorrência de experiências
passadas que foram recalcadas fora da consciência. O
método utilizado, na maior parte das vezes, é
interpretativo com o objetivo de ajudar os membros da
família a tomar consciência do comportamento passado,
assim como do presente e das relações entre eles.
Enquanto entidade, a terapia familiar é atravessada por
inúmeras correntes aparentemente contraditórias
(psicanalíticas, sistêmicas, comportamentais, gestálticas,
etológicas, sociológicas, etc.), supondo sempre um
trabalho prévio de indicações e contra - indicações,
depreendo – se daí um vasto leque de práticas. Da
estrutura interna da terapia familiar podemos salientar
três aspectos unificadores:
A necessidade que o terapeuta tem de se apoiar numa
teoria da família tem de ter sempre em consideração a
dinâmica familiar e o seu processo de mudança, a
organização das relações interpessoais e uma
conceituação sobre a saúde mental versos patologia da
família, à qual se irão ajustar os procedimentos técnicos
(Vetere, 1987, eit in Gameiro, 1992).
O processo terapêutico pode ser definido como a
psicoterapia de um sistema social natural, tendo,
freqüentemente, na base a entrevista interpessoal
conjunta. Aqui o terapeuta deve assinalar quais os
elementos da família que participam na entrevista, em
função do seu posicionamento teórico ou da prática fase
e vicissitudes do processo terapêutico. O ritmo,
periodicidade, número, duração e espaçamento das
sessões variam em função dos modelos (Relvas, 1999).
O setting específico da terapia familiar converte – se
num instrumento terapêutico por excelência. O suporte
instrumental do terapeuta engloba: técnicas particulares,
suporte de análise do caso, e do processo e ainda na
formação e supervisão. (Fontaine,1993, Bleandonu,
1986, Heivil, 1984).
Sendo assim, as varias escolas da terapia familiar foram
sendo reconcetualizadas, mas hoje em dia a atual
terapia familiar é designada de 2º ordem ou pós –
moderna. De entre as escolas de terapia familiar,
encontramos
A teoria e terapia dos sistemas familiares de Murray
Bowen: elaborou um modelo teórico de compreensão no
sistema familiar e patologias “explicáveis” em que seu
paradigma é sistêmico, postulando que é necessário
compreender o individuo através da forma como se põe
e relaciona com o sistema. A importância atribuída à
família deriva do fato de a considerar como um lugar de
criação e sucessão para gerações humanas, em que o
ser humano é definido como “familiar e potencialmente
criador”. A sua teoria estende – se das relações do
individuo consigo próprio, com a família nuclear, às
famílias de origem e à sociedade. (Relvas. 1999).
A terapia familiar estratégica, a escola de Palo Alto:
existe em certa dispersão de abordagens desta terapia
familiar estratégica, pela grande quantidade de autores
que fizeram parte desta escola. Os elementos
unificadores que parecem interligar – se, encontramos a
importância atribuída à comunicação e aos efeitos que
os seus paradoxos exercem sobre o comportamento, em
termos de compreensão da patologia e da sua utilização
terapêutica. O fato de se tratar de um modelo
estratégico, essa corrente é considerada mais como uma
prática do que uma teoria, está mais correta se falar
teoria da mudança, que postula que os sistemas estão
em permanente mudança e é nela que se centra a
gênese dos problemas. (Relvas,1999).
A terapia familiar estrutural: constitui uma escola que
afirma que uma estrutura é desenvolvida por uma
personalidade original que se elaborou como um todo. O
seu principal representante é Salvador Minuchin e
defende que a família deve ser entendida com uma
organização de sujeitos, que comporta transições
funcionais evolutivas (ciclo vital) que implicam definir
limites e hierarquias, alianças e distanciamentos, bem
coligações, ou seja trata – se da aplicação da noção
estrutura ao grupo familiar em estreita ligação com o
sistema. (Relvas, 1999).
Por fim a terapia familiar de 2º ordem: que engloba as
implicações decorridas da evolução dos modelos de
terapia familiar anteriormente referidos e equacionados
a dois níveis: a própria visão sistêmica da família e da
concepção da intervenção, particularmente no que se
refere à criação do sistema terapêutico formado por
terapeutas e família (Relvas,1999).
Apesar de varias teorias na área da terapia familiar, ela
continua a ser vista como um sistema que integra
influências externas, mas que não está dependente
delas, ao mesmo tempo que existem forças internas que
contribuem para a sua regulação, conferindo – lhe uma
capacidade auto – organizativa, coerência e consistência
no jogo do equilibro dinâmico interior – exterior. Quanto
à criação dos sistema terapêutico: o terapeuta deixa de
ser um mero observador neutro e exterior ao sistema,
passando a ser encarado como um observador
participante da realidade em construção de acordo com
a teoria dos sistemas, implicando sempre uma
acoplagem de dois sistemas (terapeuta e família) que se
perturbam mutuamente, (Relvas, 1999).
A terapia familiar, embora formada por varias correntes,
muito diferentes entre si, não se descurou do seu
elemento principal: a família enquanto agente de
mudança e com poder para mudar seu funcionamento e
progredir ao longo do seu ciclo vital. Sabe se que a
família é entendida como um sistema em constante
transformação e mudança, devendo estes dois pontos
nunca ser esquecidos numa situação de intervenção
terapêutica.
Terapia familiar com enfoque Psicanalítico

A terapia familiar de enfoque psicanalítico dá ênfase ao


passado, à história da família como causa de um
sintoma, quanto como um meio de transforma – lo. Os
sintomas são visto como decorrência de experiências
passadas que foram recalcadas fora da consciência. O
método utilizado, na maior parte das vezes, é
interpretativo com o objetivo de ajudar os membros da
família a tomar consciência do comportamento passado,
assim como do presente e das relações entre eles.
Influenciados pelo trabalho estritamente psicanalítico,
desenvolvido na clinica Tavistock de Londres, Pincus &
Dare (1978) formulam suas hipóteses que fundamentam
a prática clínica com famílias e casais a partir de um
grande interesse na trama inconsciente dos seus
sentimentos, desejos, crenças e expectativas que unem
os membros de uma família entre si e aos passados
individuais e familiar.
Estes autores interessam – se particularmente pelos
efeitos dos segredos e dos mitos na dinâmica familiar.
Ressaltam que os segredos podem pertencer a um
membro da família ou serem compartilhados com outros,
inconscientemente.
Terapia Familiar Sistêmica
Esta abordagem privilegia a observação, no seio da
família, das condutas interativas e das trocas
comportamentais manifestadas das quais se tende a
denunciar os efeitos patogênicos. A terapia sistêmica
possui as suas próprias técnicas (contra- paradoxo,
conotação positiva, desqualificação, redefinição,
reenquadramento e provocação) para clarificar a
comunicação perturbada no sistema familiar (Doron &
Poirot, 2001).
◼ A noção de família: é o conceito – chave da terapia
familiar. Andolfi (1995) considera a família como um
sistema de interação que supera e articula dentro dela
os vários componentes individuais, e normas que
regulam a sua vida como grupo.
A família como um sistema aberto, social e auto –
organizado: constituído por várias unidades ligadas no
conjunto, por regras de comportamento e por funções
dinâmicas em constante interação e com trocas com o
exterior.
◼ A família é como um sistema ativo regulado: por
regras desenvolvidas e modificáveis no tempo através de
tentativas e erros que irão permitir aos vários membros
experimentar o que é permitido na relação e aquilo que
não é permitido. A família não é um ser passivo, mas sim
um sistema intrinsecamente ativo, em que a mudança
no seu interior (nascimento dos filhos, separação, luto,
divórcio) ou no seu exterior (mudanças de trabalho, ou
contexto de valores) irá repercutir – se no sistema de
funcionamento familiar, exigindo um processo constante
de adaptação (Andolfi, 1995).
◼ A familiar é um sistema aberto com interação com
outros sistemas ( escola, emprego, bairro): as
relações intra- familiares mantêm uma relação dialética
com as relações sociais: irão condiciona – La ao mesmo
tempo que será condicionadas pelas normas e valores da
sociedade onde está inserida.
A família é um sistema em constante
transformação: e que se adapta às diferentes
exigências das diversa fases do seu ciclo de
desenvolvimento, assim como às mudanças e
solicitações sociais com o fim de assegurar a
continuidade e o crescimento psicossocial dos seus
membros. A idéia de mudança, ou seja, cada família vai
– se transformando ao longo do seu tempo de vida em
três aspectos fundamentais: estrutural, inteireção e o
funcional. A mudança é um conceito fundamental para
perceber a família dentro do conceito sistêmico.
A escolha da intervenção sistêmica: a consulta
psicológica da terapia familiar
A terapia familiar no âmbito da consulta psicológica, irá
atravessar diversas etapas que vão conduzir a
concretização de um determinado objetivo. Optar por
uma intervenção sistema leva que a família deve ser
entendida e analisada como um todo, em que se um
membro tem um determinado problema, toda a família
contribui para a sua manutenção ou resolução.
A intervenção sistêmica defende que o terapeuta deve
convocar toda a família procurando estabelecer, desde
logo, uma atmosfera de cooperação e confidencialidade.
Dentro da terapia familiar o terapeuta deve se apoiar em
uma teoria da família e deve satisfazer os seguintes
requisitos:
◼ 1 – Descrever e explicar a estrutura familiar, a sua
dinâmica, processo e mudança
◼ 2 – Descrever as estruturas interpessoais e as dinâmicas
emocionais dentro da família
◼ 3 – Ter em conta a família como ligação entre o
individual e a cultura
◼ 4 - Descrever o processo de individuação e a
diferenciação dos membros da família
◼ 5 - Prever a saúde e a patologia dentro da família, isto
é, ter um conjunto de hipóteses acerca do
funcionamento familiar e das causas da disfunção.
◼ 6 - Prescrever estratégias terapêuticas para lidar com a
disfunção familiar. (cit. Em Gameiro, 1992).
O processo terapêutico pode ser definido como a
psicoterapia de um sistema social natural, utilizando a
técnica base que é a entrevista interpessoal conjunta (o
terapeuta vai – se desenrolando através de diversas
entrevistas com os elementos da família, o terapeuta
pode trabalhar diretamente com um só individuo, ou
com mais subsistema. O ritimo e periodicidade das
entrevistas variam conforme o terapeuta, podem ser
mais ou menos espaçadas, regulares ou não.
A função do terapeuta é ainda, a de compreender o
problema em termos e interação de todos os membros
da família, o objetivo da terapia não é apenas mudar,
mas fundamentalmente aprender a mudar, a mudança é
a condição dessa aprendizagem, pois é necessário que o
sistema mude para aprender a mudar.
◼ BIBIOGRAFIA
◼ Andolfi, M. (1995). A terapia familiar (cap. I). Lisboa:
Veja Universidade
◼ Bloch, D. (1979) Techniques de base em therapie
familiale. (p.21-49). Paris: Jean – Pierre Delarge.
◼ Doron, R.& Parot, F. (2001) Dicionário de Psicologia:
Lisboa: CLlimepsi
◼ Gameiro, M. (1992): Voando sobre a Psiquiatria. Porto:
Edições Afrontamento
◼ Graham, P. (2002). Cognitive – Behaviour Therapy for
children and families. (Cap. 11).
◼ Relvas, A. P. (1999) Conversas com famílias: discursos e
perspectivas em terapia familiar (p.11-38). Porto:
Afrontamento.
◼ Sampaio. D & Gameiro, M. (1995) Terapia Familiar:
Porto: Edições Afrontamento.
◼ Relvas, A. P. (2002). A terapia familiar em Portugal.
Psychologica (nº31). Coimbra: Faculdade de Psicologia e
Ciências da Educação.

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