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2.09.ET.O Pensamento Pedagógico de Paulo Freire

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DE

JOVENS E ADULTOS

Maria Helena Roman


2 O PENSAMENTO PEDAGÓGICO DE PAULO FREIRE

Os primeiros anos da década de 1960 se constituíram como um marco para a Educação


de Jovens e Adultos pela difusão das ideias de Paulo Freire. Ele ficou conhecido
mundialmente, por seu método de alfabetização para jovens e adultos e por ter
atribuído um caráter político à educação. Na perspectiva freiriana, a educação tem por
objetivo maior a conscientização das classes oprimidas, para que elas possam buscar
meio para as transformações sociais que geram as condições de desigualdade.

Suas ideias impulsionaram a criação de várias iniciativas de educação de jovens e adultos


no início da década de 1960, que foram retomadas após o fim da Ditadura Militar no
país. Seus legados continuam até os dias atuais inspirando iniciativas educativas mais
críticas.

2.1 Quem foi Paulo Freire?

Paulo Freire foi o mais célebre educador brasileiro, reconhecido mundialmente. Nasceu
em Recife, em 19 de setembro de 1921, e faleceu em São Paulo, em 02 de maio de 1997.
Formou-se no curso de Direito, mas não chegou a exercer a profissão, tendo dedicado
sua vida profissional ao magistério.

Paulo Freire ficou conhecido, principalmente, pela criação de um método de


alfabetização que leva o seu nome, ao chefiar um programa que alfabetizou trezentas
pessoas em um mês, em Angicos (RN), em 1963.

Contudo, sua maior contribuição para a educação brasileira foi atribuir ao ato educativo
um caráter assumidamente político. Para ele, o objetivo maior da educação é a
conscientização dos alunos acerca da realidade na qual estão inseridos. Essa
conscientização visa oportunizar às camadas menos favorecidas da população, a
compreensão de sua condição de opressão, para que possam agir em favor da própria
libertação.

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Na perspectiva freiriana, para que a escola pudesse desenvolver a criticidade dos alunos,
era preciso romper com as práticas características do que ele chamou de “educação
bancária” – práticas educativas baseadas na transmissão dos conhecimentos pelo
professor que “depositava” os conhecimentos em alunos passivos, que deveriam os
reproduzir nos momentos de avaliação. Sendo assim, não havia espaço nem para a
conscientização, nem para as mudanças sociais.

Para ele, o papel do professor era outro: cabia ao professor oportunizar aos alunos o
acesso ao conhecimento, visto não como verdade absoluta. De acordo com Paulo Freire,
o professor é alguém que ensina mas, ao mesmo tempo, aprende. Aprende com os
conhecimentos construídos pelos educandos fora da escola, com suas experiências e
suas vivências. Para que essa aprendizagem ocorra, o ambiente de sala de aula precisa
ser afetivo e dialógico, para que todos se sintam à vontade para se expressarem.

A efervescência das suas ideias foi interrompida em 1964 pelo Golpe Militar. Paulo
Freire foi preso e passou setenta dias na prisão antes de se exilar. No exílio no Chile, em
1968, Paulo Freire escreveu um dos seus mais conhecidos e importantes livros, que foi
a “Pedagogia do Oprimido”.

A Pedagogia do Oprimido baseava-se na ideia que a

educação libertadora é incompatível com uma pedagogia que, de maneira


consciente ou mistificada, tem sido prática de dominação. A prática da
liberdade só encontrará adequada expressão numa pedagogia em que o
oprimido tenha condições de, reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se
como sujeito de sua própria destinação histórica. (FREIRE, 1987, p. 9).

Durante o Governo Militar no Brasil, ele foi professor nos Estados Unidos e na Suíça, e
organizou planos de alfabetização em países africanos.

Paulo Freire voltou ao Brasil em 1979 por conta da anistia, e integrou à vida universitária.
Filiou-se ao Partido dos trabalhadores durante o mandato de Luiza Erundina, na
Prefeitura de São Paulo, e entre 1989 e 1991 foi Secretário Municipal da Educação. Foi
nomeado doutor honoris por 28 universidades em diversos países, e teve suas obras
traduzidas para mais de vinte idiomas. Casou duas vezes e teve cinco filhos, e faleceu
em 1997 de enfarto.

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2.2 O pensamento pedagógico de Paulo Freire

Um dos principais legados de Paulo Freire ao pensamento pedagógico brasileiro foi a


sua concepção de educação e de pedagogia chamada por Gadotti (2004), de “militante”,
ou seja, com um caráter político e transformador da sociedade.

Sua visão militante acerca da educação começa a ser demonstrada em seu livro
“Educação como prática da liberdade” (GADOTTI, 2004), no qual o autor discute a
necessidade de que a sociedade brasileira supere a cultura colonial, para que possa
desenvolver-se economicamente. Nessa discussão, Paulo Freire atribui à educação, um
papel político fundamental para a construção de uma “sociedade aberta”.

Segundo Paulo Freire, essa nova sociedade não poderia ser conduzida pelas elites
dominantes, mas, sim, pelas massas populares. Para as elites não interessavam as
mudanças, e as camadas populares eram vistas por ele como as únicas capazes de
operar as transformações sociais necessárias.

Segundo Gadotti (2004), para Paulo Freire, a educação era o único caminho possível
para ampliar a participação consistente das massas na sociedade e para oportunizar sua
crescente organização. Paulo Freire também apresentou o conceito de consciência
transitiva crítica, entendida como uma “consciência articulada com a práxis, desafiadora
e transformadora” (GADOTTI, 2004, p. 32-33).

Para que se chegasse a essa consciência, segundo Freire, era necessário o diálogo crítico,
a fala e a vivência. O diálogo proposto não é o diálogo das elites, definido por ele como
sendo vertical e rígido. É um diálogo “horizontal”, que “nutre-se de amor, humildade,
esperança, fé e confiança” (Ibid., p. 33).

O diálogo proposto por Paulo Freire, como um aspecto central das práticas educativas,
deveria partir da realidade, dos conhecimentos e das experiências dos educandos, para
que, a partir desses elementos, pudessem ser construídos novos conhecimentos,
vinculados aos seus interesses.

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O estabelecimento de uma relação educativa dialógica iria se constituir como um ponto
central nas ideias de Paulo Freire, constituindo-se como uma das bases de seu método
histórico e global, que coloca o educando como um sujeito histórico, que se insere no
processo educativo como um momento do seu processo de humanização.

O ponto de partida é o “universo vocabular” e as “palavras geradoras”


extraídas de sua própria experiência vivida, partindo do sensível, do imediato,
do dado, do empírico para o mediatizado, para o concreto. O empírico passa
a ser visto de outra forma, recriado pela reflexão e pela ação (práxis).
Seguindo o modo dialético de pensar, o seu método pedagógico tem no
particular o ponto de partida: da parte para o todo, do empírico para o
abstrato. (Ibid.).

Nessa perspectiva, o saber assume um papel emancipador e a alfabetização assume um


papel importante como instrumento de subversão às ordens sociais estabelecidas pelas
elites dominantes.

A pedagogia libertadora, preconizada por Paulo Freire, é a pedagogia comprometida


com a transformação social, que é, em um primeiro momento, tomada de consciência
da situação existencial e, logo depois, práxis social, engajamento e autocrítica.

Em sua obra seguinte, “Pedagogia do Oprimido”, Paulo Freire completou suas


concepções pedagógicas, ao explicitar sua ótima de classe, ao criticar, de maneira
contundente, a pedagogia capitalista, chamada por ele de “educação bancária”. Na
perspectiva do autor, essa educação baseada no “depósito” de conhecimentos nos
alunos, pelo professor, tem um caráter disciplinador.

Em contraposição à “Educação bancária”, Paulo Freire apresenta a sua proposta de


“educação problematizadora”, fundamentada na relação dialógico-dialética entre
educador e educando, na qual ambos aprendem juntos.

O diálogo é abordado também nessa obra, como sendo uma “exigência existencial”
capaz de possibilitar a comunicação e permitir ultrapassar as vivências imediatas. Ao
ultrapassá-las, educador e educando conseguem ver a realidade de uma maneira
diferente, mais crítica e totalizante.

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Como tal, ele deve ocorrer desde a elaboração dos programas educativos, passando
pelos “temas geradores”, permeando todo o processo de ensino e de aprendizagem, até
chegar à última etapa de desenvolvimento de cada estudo.

Isso posto, fica claro que o pensamento pedagógico de Paulo Freire vincula a educação
à luta e à organização de classe do oprimido. Ao vinculá-las, o autor deixa claro que o
conhecimento deve ser visto como instrumento de transformação social e, como tal, as
práticas educativas não podem se limitar a transmiti-lo.

O trabalho pedagógico não pode abordar o conhecimento de maneira informativa,


embora as informações também sejam importantes para a constituição dos sujeitos.
Contudo, ao lado delas, deve ser oportunizada, aos sujeitos, a formação de uma
estrutura do conhecimento que lhes “permita reelaborar e reordenar seus próprios
conhecimentos e apropriar-se de outros”. (Ibid., p. 36-37).

2.3 As contribuições de Paulo Freire para a Educação de Jovens e Adultos

A partir do início dos anos 1960, até o final de sua vida, incluindo o período que passou
no exílio, Paulo Freire contribuiu para programas educativos de vários países e
influenciou, sobretudo na América Latina, a Educação de Jovens Adultos. Suas ideias
colocaram a EJA em uma perspectiva popular, crítica e dialógica, que tem por objetivo
o desenvolvimento de todas as potencialidades dos educandos e o exercício pleno da
cidadania.

Segundo Oliveira e Santos (2018), Paulo Freire

não só influenciou, por meio de seu pensamento educacional, intelectuais e


educadores dos países que viveu no exílio, como também aprendeu e
incorporou em seu discurso pedagógico as experiências vividas e, sobretudo,
manteve a coerência com os pressupostos teóricos e metodológicos de sua
pedagogia libertadora. (OLIVEIRA e SANTOS, 2018, p. 47)

Vários autores (Ibid.) destacaram as contribuições de Paulo Freire em diversas partes do


mundo. Na América Latina, as ideias freirianas foram fundamentais para a consolidação
de um pensamento pedagógico latino-americano, conhecido como “educação popular”.

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De acordo com Paulo Freire, a educação popular é aquela que estimula a participação
organizada das classes sociais populares, na luta por uma sociedade mais democrática e
justa, no sentido da superação das injustiças e desigualdades sociais.

Na América Latina, a pedagogia de Paulo Freire realizou duas tarefas importantes:

1.Reconstruir a memória pedagógica por meio de uma “arqueologia da


consciência”;
2. Recuperar as pedagogias silenciadas durante séculos de dominação.
(Ibid., p. 47).

De acordo com Paulo Freire, as classes dominantes instituíram às classes populares, uma
“cultura do silêncio”. O silenciamento das classes populares, segundo ele, se
manifestava também no silenciamento das práticas educativas transformadoras.

Embora Paulo Freire tenha ficado bastante conhecido pelo seu método de alfabetização
para jovens e adultos, suas contribuições para essa modalidade de ensino não ficam
restritas a criação de um método. Suas contribuições o extrapolam, atribuindo à
educação um caráter político, trazendo diretrizes fundamentais tanto para a educação
popular, como para as pedagogias críticas.

A Educação de Jovens e Adultos se insere no contexto da educação popular de Paulo


Freire como uma educação crítica, engajada politicamente com as classes populares e
que tem como objetivo a transformação social.

Na perspectiva freiriana, a EJA deve permitir aos alunos vencer o analfabetismo político
para oportunizar a leitura crítica do mundo, a partir da sua experiência, da sua cultura e
da sua história.

Para que isso se faça possível, as práticas educativas devem fazer com que os educandos
se reconheçam na condição de oprimidos e que, a partir da tomada de consciência sobre
sua condição, busque libertar-se dela.

A perspectiva freiriana demandou uma revisão das práticas educativas voltadas para a
Educação de Jovens e Adultos, no que diz respeito aos materiais, às estratégias e ao
papel do educador e do educando.

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No que se refere ao educador, para a promoção de uma educação libertadora, ele deve
deixar de assumir o papel de detentor absoluto do saber e de transmissor de
conhecimentos para assumir o papel de organizador de boas situações de
aprendizagem, nas quais os alunos possam se sentir acolhidos para manifestar os
saberes já construídos e de avançar na construção de novos conhecimentos.

O educador passa a assumir um papel de quem ensina e ao mesmo tempo aprende. Seu
conhecimento não é melhor do que o dos educandos, é diferente. E na relação dialógica
com os educandos e na escuta atenta do outro, todos aprendem e ensinam.

Os conhecimentos passam a ser vistos não como um fim em si, mas como instrumentos
para que os alunos possam passar de sua consciência ingênua, para uma consciência
crítica acerca da realidade na qual estão inseridos.

Esse aluno deixa de ser visto como um receptor passivo de conhecimentos e passa a ter
um papel ativo no seu processo de aprendizagem. Sua cultura e seus saberes precisam
ser acolhidos, valorizados e utilizados como pontos de partida para a construção de
novos conhecimentos.

As práticas educativas não podem se pautar pela memorização e pela mecanização de


procedimentos. Elas devem visar a autonomia cognitiva dos sujeitos para que os
conhecimentos aprendidos na escola possam ser utilizados na leitura crítica do mundo
e no enfrentamento das situações cotidianas e profissionais, nos quais eles venham a
ser requeridos.

Os materiais devem ser significativos para os alunos. Para isso, precisam contemplar a
realidade desse aluno, oferecendo elementos para que ele a compreenda. As ideias de
Paulo Freire motivam até hoje ações da sociedade civil em prol da efetivação da
cidadania.

2.4 Análise da Metodologia de Paulo Freire para Educação de Jovens e Adultos

Paulo Freire (1982) mudou radicalmente a visão que se tinha do analfabeto e do


analfabetismo no Brasil, difundindo a ideia de ambos como expressões concretas de
uma estrutura social injusta e desigual.

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A superação do analfabetismo requeria, então, uma revisão dos métodos de
alfabetização utilizados até então, que se limitam a depositar letras, sílabas e palavras.
A alfabetização não poderia ser realizada com textos que se relacionassem em nada ou
quase nada com a vida dos educandos. Sendo assim, a cultura do aluno deveria estar no
centro das práticas alfabetizadoras, atribuindo-lhe significado.

A valorização da cultura dos educandos era também o ponto de partida para o processo
de conscientização promovido pelas práticas educativas. Visando uma alfabetização que
fosse coerente com seu pensamento pedagógico, Paulo Freire criou um método de
alfabetização que recebeu o seu nome, o qual tornava mais rápido e acessível o
aprendizado e habilitava os alunos para a “leitura do mundo”, antes mesmo que fosse
capaz de “ler as palavras”.

O primeiro momento do método criado por Paulo Freire, com o objetivo de ensinar os
analfabetos a lerem as palavras e o mundo, consistia no levantamento do universo
vocabular dos alunos, ou seja, das palavras utilizadas com maior frequência por eles. O
educador realizava o levantamento desse universo vocabular indo até a residência dos
educandos, ouvindo-os, identificando as palavras mais frequentes e catalogando-as.

A equipe de educadores selecionava um conjunto de palavras, dentre as catalogadas,


que tivessem maior densidade de sentido e que pudessem contemplar os diversos
padrões silábicos da Língua. Essas palavras eram chamadas de “palavras geradoras” e
eram organizadas de acordo com a complexidade dos padrões. Elas sugeriam situações
da vida comum e eram significativas para os integrantes de comunidade na qual as ações
educativas estavam sendo realizadas. As aulas eram chamadas de círculos de cultura, e
contavam com os alunos e o professor sentados em uma disposição circular.

Fonte: Figuras de UNIÃO CATARINENSE DE ESTUDANTES, 1964.

Figura 2.1 – Slides para alfabetização com Método Paulo Freire do projeto-piloto do
PNA em Santa Catarina

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Antes do trabalho com os padrões silábicos da Língua, o educador utilizava uma das
palavras geradoras, acompanhada de sua ilustração. Contendo a palavra e a ilustração,
os cartazes eram utilizados como pontos de partida de discussões que visavam a
conscientização dos educandos, que abordavam o papel ativo dos homens como
produtores de cultura, sobre os diferentes tipos de cultura (letrada, não letrada, arte,
trabalho, religião, diferentes padrões de comportamento e sociabilidade) e colocavam
os educandos no papel de sujeitos da própria aprendizagem.

Feito isso, as palavras geradoras eram desdobradas em sílabas que eram estudadas e
registradas em um quadro das famílias silábicas. As sílabas já aprendidas eram utilizadas
para a escrita de outras novas palavras. Entre dez e vinte palavras geradoras
possibilitavam a alfabetização, em nível rudimentar, em um período de três meses.

Na etapa posterior, essas palavras eram substituídas por temas geradores que
permitiam o aprofundamento da análise dos problemas e um maior engajamento nas
atividades comunitárias ou associativas.

Segundo Ferrari (2008), embora o trabalho desenvolvido por Paulo Freire tenha ficado
conhecido como um “método”, essa não é a palavra mais adequada por se constituir
como um reducionismo das ideias do educador. Para ele, o trabalho de Paulo Freire se
constitui como um reflexão sobre o caráter político da educação e seu papel na
construção de uma sociedade mais humana e igualitária.

2.5 O MOVA

Nas eleições para a Prefeitura de São Paulo realizadas em novembro de 1988, a


candidata de Partido dos Trabalhadores, Luiza Erundina, foi escolhida para governar a
maior metrópole da América do Sul. Ao assumir a Prefeitura em janeiro de 1989, ela se
propôs a inverter as prioridades adotadas até então, ampliando a participação popular
e as iniciativas voltadas para as mudanças sociais. Nessa perspectiva, a educação passou
a ser prioritária e Paulo Freire foi convidado a assumir a Secretaria Municipal da
Educação.

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Nessa ocasião, em um movimento de grande valorização da Educação de Jovens e
Adultos o município de São Paulo introduziu o ensino noturno em todas as escolas de
Ensino Fundamental e transferiu o Programa de Educação de Adultos (EDA) da
Secretaria do Bem Estar Social para a Secretaria da Educação.

O Programa de Educação de Adultos (EDA) havia sido criado, em São Paulo, no início da
década de 1970, constituía-se como um programa de alfabetização e de pós
alfabetização em nível de Suplência, em convênio com a Fundação MOBRAL.

O que realmente marcou a gestão da prefeita Luiza Erundina, no que diz respeito à
Educação de Jovens e Adultos, foi a criação do MOVA-SP (Movimento de Alfabetização
de Jovens e Adultos da cidade de São Paulo), em parceria com a sociedade civil.

O MOVA-SP foi lançado no dia 29 de outubro de 1989, na Câmara Municipal de São


Paulo, com a ampla participação de movimentos sociais e populares da capital paulista.
Vale ressaltar que esses movimentos haviam surgido para ocupar o espaço não ocupado
pelo Estado no provimento da Educação de Jovens e Adultos.

Na nova gestão, esses movimentos encontraram seu espaço na luta conjunta com os
órgãos municipais, contra o grave problema do analfabetismo. Com isso, colocaram a
experiência já construída a serviço do governo municipal.

A criação do MOVA-SP teve por objetivos (GADOTTI, 2013):

• o desenvolvimento de um processo de alfabetização que instrumentalizasse os


educandos para uma leitura crítica da realidade;

• contribuir, por meio do Movimento de Alfabetização, para o desenvolvimento de


uma consciência crítica tanto por parte dos educandos como dos educadores;

• incentivar a participação popular na luta pelos direitos sociais do cidadão, com


ênfase no direito básico à educação pública e popular;

• reforçar e ampliar a atuação dos grupos populares que já vinham trabalhando com
a alfabetização de jovens e adultos nas regiões periféricas da cidade.

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Segundo Gadotti (2013), o MOVA-SP reuniu três condições essenciais para que um
programa de Educação de Jovens e Adultos pudesse ser bem-sucedido, sendo elas: a
vontade política da administração; o empenho e a organização dos movimentos sociais
e populares e; o apoio da sociedade.

Os núcleos de alfabetização e pós-alfabetização do MOVA-SP foram sediados


em equipamentos da própria comunidade e concebidos como focos
aglutinadores e irradiadores da cultura local que incluía a história do próprio
movimento popular da região, procurando ler, dessa maneira, a sua
realidade, de forma crítica. (GADOTTI, 2013, p. 27).

O trabalho pedagógico desenvolvido, pautado na tomada de consciência da realidade


na qual os indivíduos estavam inseridos e na construção de novos conhecimentos, visou
a formação de sujeitos capazes de transformar a sua própria realidade.

A maior parte dos professores que atuavam no programa pertenciam à própria


comunidade na qual as ações educativas eram desenvolvidas. O pertencimento à
comunidade fazia com que esses professores estivessem comprometidos com as lutas
locais. Esses professores recebiam cursos de formação promovidos pela Secretaria
Municipal da Educação. Dentre os professores, eram escolhidos os Supervisores que
recebiam uma formação específica para assumir a nova função.

As formações oferecidas visavam, sobretudo, a formação de educadores e supervisores


capazes de ver a alfabetização como um ato político, capaz de desenvolver a consciência
crítica dos sujeitos.

Para o fortalecimento da parceria criada entre a prefeitura e os movimentos sociais e


populares, foi criado o Fórum dos Movimentos Populares de Educação de Adultos da
Cidade de São Paulo. A criação do Fórum e a sua realização com periodicidade mensal,
possibilitou a unificação e a ampliação das experiências.

Já no seu primeiro ano de funcionamento, o MOVA-SP implementou 626 núcleos de


alfabetização, formou 2001 alfabetizadores de jovens e adultos e possibilitou que
12.185 pessoas deixassem a condição de analfabetas.

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A iniciativa desenvolvida no município de São Paulo deu origem a muitos outros MOVAs,
em todo o território nacional, oferecendo formação a milhares de educadores e
alfabetização a milhares de educandos jovens e adultos.

Conclusão

Paulo Freire é um dos mais importantes educadores brasileiros, conhecido


mundialmente e teve sua obra traduzida para vários idiomas. Suas ideias começaram a
ficar conhecidas no início dos anos 1960, quando ele criou um método para alfabetizar
jovens e adultos em três meses. Era um método muito inovador para a época, na medida
em que preconizava a necessidade de que a realidade e os interesses dos educandos
fossem contemplados na alfabetização.

Suas ideias inspiraram a criação de várias iniciativas de Educação de Jovens e Adultos,


que foram interrompidas pelo Golpe Militar, em 1964. Embora tenha ficado bastante
conhecido pelo método criado, suas contribuições para a Educação de Jovens e Adultos
não se restringem a ele.

Paulo Freire atribuiu um caráter político à educação e, especialmente, à educação de


jovens e adultos, ao atribuir-lhe um caráter de instrumento para as transformações
sociais necessárias e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Para ele, o papel maior da educação era conscientizar os educandos da sua condição de
oprimido, instrumentalizando-os para empreender lutas por mudanças. Nas palavras de
Paulo Freire, cabia à educação transformação a consciência ingênua dos educandos, em
consciência crítica.

Essa transformação só seria possível pela revisão das práticas educativas, antes
pautadas em uma educação bancária, alteradas para uma educação transformadora,
baseada no diálogo.

Suas ideias influenciaram muitas iniciativas de educação e muitos programas de


Educação de Jovens e Adultos, no Brasil e no mundo. Até hoje, são bastante discutidas
no cenário educacional, e continuam a embasar ações educativas mais críticas.

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REFERÊNCIAS

FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz & Terra,
1982.

______. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1987.

FERRARI, M. Paulo Freire, o mentor da Educação para a consciência. Revista Nova


Escola, out. 2008. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/460/mentor-
educacao-consciencia>. Acessado em 25 mar. 2020.

GADOTTI, M. Lições de Freire. Rev. Fac. Educ., São Paulo, v. 23, n. 1-2, jan. 1997.
Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-25551997000100002>. Acessado em
27 mar. 2020.

______. Pensamento Pedagógico Brasileiro. São Paulo: Ática, 2004.

______(org.). MOVA-Brasil 10 anos: Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos.


São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2013.

OLIVEIRA, I. A. de; SANTOS, T. R. L. A contribuição de Paulo Freire para a Educação de


Jovens e Adultos na América Latina. Revista Internacional de Educação de Jovens e
Adultos, v. 01, n. 01, p. 45-52, jan./jun. 2018. Disponível em:
<https://www.revistas.uneb.br/index.php/rieja/article/viewFile/5227/3294>.
Acessado em 25 mar. 2020.

UNIÃO CATARINENSE DE ESTUDANTES. Slides para alfabetização com Método Paulo


Freire do projeto-piloto do PNA. Grupo Assessorias em Programas, Projetos e
Campanhas e Movimentos Nacionais de Educação; Subgrupo Programa Nacional de
Alfabetização. Material doado por Rosamaria da Silva Beck, do Instituto Federal de
Santa Catarina (IFSC). DSpace, Acervo Paulo Freire, 1964. Disponível em:
<http://www.acervo.paulofreire.org:8080/jspui/handle/7891/3440>. Acessado em 25
mar. 2020.

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