2.09.ET.O Pensamento Pedagógico de Paulo Freire
2.09.ET.O Pensamento Pedagógico de Paulo Freire
2.09.ET.O Pensamento Pedagógico de Paulo Freire
JOVENS E ADULTOS
Paulo Freire foi o mais célebre educador brasileiro, reconhecido mundialmente. Nasceu
em Recife, em 19 de setembro de 1921, e faleceu em São Paulo, em 02 de maio de 1997.
Formou-se no curso de Direito, mas não chegou a exercer a profissão, tendo dedicado
sua vida profissional ao magistério.
Contudo, sua maior contribuição para a educação brasileira foi atribuir ao ato educativo
um caráter assumidamente político. Para ele, o objetivo maior da educação é a
conscientização dos alunos acerca da realidade na qual estão inseridos. Essa
conscientização visa oportunizar às camadas menos favorecidas da população, a
compreensão de sua condição de opressão, para que possam agir em favor da própria
libertação.
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Na perspectiva freiriana, para que a escola pudesse desenvolver a criticidade dos alunos,
era preciso romper com as práticas características do que ele chamou de “educação
bancária” – práticas educativas baseadas na transmissão dos conhecimentos pelo
professor que “depositava” os conhecimentos em alunos passivos, que deveriam os
reproduzir nos momentos de avaliação. Sendo assim, não havia espaço nem para a
conscientização, nem para as mudanças sociais.
Para ele, o papel do professor era outro: cabia ao professor oportunizar aos alunos o
acesso ao conhecimento, visto não como verdade absoluta. De acordo com Paulo Freire,
o professor é alguém que ensina mas, ao mesmo tempo, aprende. Aprende com os
conhecimentos construídos pelos educandos fora da escola, com suas experiências e
suas vivências. Para que essa aprendizagem ocorra, o ambiente de sala de aula precisa
ser afetivo e dialógico, para que todos se sintam à vontade para se expressarem.
A efervescência das suas ideias foi interrompida em 1964 pelo Golpe Militar. Paulo
Freire foi preso e passou setenta dias na prisão antes de se exilar. No exílio no Chile, em
1968, Paulo Freire escreveu um dos seus mais conhecidos e importantes livros, que foi
a “Pedagogia do Oprimido”.
Durante o Governo Militar no Brasil, ele foi professor nos Estados Unidos e na Suíça, e
organizou planos de alfabetização em países africanos.
Paulo Freire voltou ao Brasil em 1979 por conta da anistia, e integrou à vida universitária.
Filiou-se ao Partido dos trabalhadores durante o mandato de Luiza Erundina, na
Prefeitura de São Paulo, e entre 1989 e 1991 foi Secretário Municipal da Educação. Foi
nomeado doutor honoris por 28 universidades em diversos países, e teve suas obras
traduzidas para mais de vinte idiomas. Casou duas vezes e teve cinco filhos, e faleceu
em 1997 de enfarto.
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2.2 O pensamento pedagógico de Paulo Freire
Sua visão militante acerca da educação começa a ser demonstrada em seu livro
“Educação como prática da liberdade” (GADOTTI, 2004), no qual o autor discute a
necessidade de que a sociedade brasileira supere a cultura colonial, para que possa
desenvolver-se economicamente. Nessa discussão, Paulo Freire atribui à educação, um
papel político fundamental para a construção de uma “sociedade aberta”.
Segundo Paulo Freire, essa nova sociedade não poderia ser conduzida pelas elites
dominantes, mas, sim, pelas massas populares. Para as elites não interessavam as
mudanças, e as camadas populares eram vistas por ele como as únicas capazes de
operar as transformações sociais necessárias.
Segundo Gadotti (2004), para Paulo Freire, a educação era o único caminho possível
para ampliar a participação consistente das massas na sociedade e para oportunizar sua
crescente organização. Paulo Freire também apresentou o conceito de consciência
transitiva crítica, entendida como uma “consciência articulada com a práxis, desafiadora
e transformadora” (GADOTTI, 2004, p. 32-33).
Para que se chegasse a essa consciência, segundo Freire, era necessário o diálogo crítico,
a fala e a vivência. O diálogo proposto não é o diálogo das elites, definido por ele como
sendo vertical e rígido. É um diálogo “horizontal”, que “nutre-se de amor, humildade,
esperança, fé e confiança” (Ibid., p. 33).
O diálogo proposto por Paulo Freire, como um aspecto central das práticas educativas,
deveria partir da realidade, dos conhecimentos e das experiências dos educandos, para
que, a partir desses elementos, pudessem ser construídos novos conhecimentos,
vinculados aos seus interesses.
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O estabelecimento de uma relação educativa dialógica iria se constituir como um ponto
central nas ideias de Paulo Freire, constituindo-se como uma das bases de seu método
histórico e global, que coloca o educando como um sujeito histórico, que se insere no
processo educativo como um momento do seu processo de humanização.
O diálogo é abordado também nessa obra, como sendo uma “exigência existencial”
capaz de possibilitar a comunicação e permitir ultrapassar as vivências imediatas. Ao
ultrapassá-las, educador e educando conseguem ver a realidade de uma maneira
diferente, mais crítica e totalizante.
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Como tal, ele deve ocorrer desde a elaboração dos programas educativos, passando
pelos “temas geradores”, permeando todo o processo de ensino e de aprendizagem, até
chegar à última etapa de desenvolvimento de cada estudo.
Isso posto, fica claro que o pensamento pedagógico de Paulo Freire vincula a educação
à luta e à organização de classe do oprimido. Ao vinculá-las, o autor deixa claro que o
conhecimento deve ser visto como instrumento de transformação social e, como tal, as
práticas educativas não podem se limitar a transmiti-lo.
A partir do início dos anos 1960, até o final de sua vida, incluindo o período que passou
no exílio, Paulo Freire contribuiu para programas educativos de vários países e
influenciou, sobretudo na América Latina, a Educação de Jovens Adultos. Suas ideias
colocaram a EJA em uma perspectiva popular, crítica e dialógica, que tem por objetivo
o desenvolvimento de todas as potencialidades dos educandos e o exercício pleno da
cidadania.
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De acordo com Paulo Freire, a educação popular é aquela que estimula a participação
organizada das classes sociais populares, na luta por uma sociedade mais democrática e
justa, no sentido da superação das injustiças e desigualdades sociais.
De acordo com Paulo Freire, as classes dominantes instituíram às classes populares, uma
“cultura do silêncio”. O silenciamento das classes populares, segundo ele, se
manifestava também no silenciamento das práticas educativas transformadoras.
Embora Paulo Freire tenha ficado bastante conhecido pelo seu método de alfabetização
para jovens e adultos, suas contribuições para essa modalidade de ensino não ficam
restritas a criação de um método. Suas contribuições o extrapolam, atribuindo à
educação um caráter político, trazendo diretrizes fundamentais tanto para a educação
popular, como para as pedagogias críticas.
Na perspectiva freiriana, a EJA deve permitir aos alunos vencer o analfabetismo político
para oportunizar a leitura crítica do mundo, a partir da sua experiência, da sua cultura e
da sua história.
Para que isso se faça possível, as práticas educativas devem fazer com que os educandos
se reconheçam na condição de oprimidos e que, a partir da tomada de consciência sobre
sua condição, busque libertar-se dela.
A perspectiva freiriana demandou uma revisão das práticas educativas voltadas para a
Educação de Jovens e Adultos, no que diz respeito aos materiais, às estratégias e ao
papel do educador e do educando.
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No que se refere ao educador, para a promoção de uma educação libertadora, ele deve
deixar de assumir o papel de detentor absoluto do saber e de transmissor de
conhecimentos para assumir o papel de organizador de boas situações de
aprendizagem, nas quais os alunos possam se sentir acolhidos para manifestar os
saberes já construídos e de avançar na construção de novos conhecimentos.
O educador passa a assumir um papel de quem ensina e ao mesmo tempo aprende. Seu
conhecimento não é melhor do que o dos educandos, é diferente. E na relação dialógica
com os educandos e na escuta atenta do outro, todos aprendem e ensinam.
Os conhecimentos passam a ser vistos não como um fim em si, mas como instrumentos
para que os alunos possam passar de sua consciência ingênua, para uma consciência
crítica acerca da realidade na qual estão inseridos.
Esse aluno deixa de ser visto como um receptor passivo de conhecimentos e passa a ter
um papel ativo no seu processo de aprendizagem. Sua cultura e seus saberes precisam
ser acolhidos, valorizados e utilizados como pontos de partida para a construção de
novos conhecimentos.
Os materiais devem ser significativos para os alunos. Para isso, precisam contemplar a
realidade desse aluno, oferecendo elementos para que ele a compreenda. As ideias de
Paulo Freire motivam até hoje ações da sociedade civil em prol da efetivação da
cidadania.
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A superação do analfabetismo requeria, então, uma revisão dos métodos de
alfabetização utilizados até então, que se limitam a depositar letras, sílabas e palavras.
A alfabetização não poderia ser realizada com textos que se relacionassem em nada ou
quase nada com a vida dos educandos. Sendo assim, a cultura do aluno deveria estar no
centro das práticas alfabetizadoras, atribuindo-lhe significado.
A valorização da cultura dos educandos era também o ponto de partida para o processo
de conscientização promovido pelas práticas educativas. Visando uma alfabetização que
fosse coerente com seu pensamento pedagógico, Paulo Freire criou um método de
alfabetização que recebeu o seu nome, o qual tornava mais rápido e acessível o
aprendizado e habilitava os alunos para a “leitura do mundo”, antes mesmo que fosse
capaz de “ler as palavras”.
O primeiro momento do método criado por Paulo Freire, com o objetivo de ensinar os
analfabetos a lerem as palavras e o mundo, consistia no levantamento do universo
vocabular dos alunos, ou seja, das palavras utilizadas com maior frequência por eles. O
educador realizava o levantamento desse universo vocabular indo até a residência dos
educandos, ouvindo-os, identificando as palavras mais frequentes e catalogando-as.
Figura 2.1 – Slides para alfabetização com Método Paulo Freire do projeto-piloto do
PNA em Santa Catarina
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Antes do trabalho com os padrões silábicos da Língua, o educador utilizava uma das
palavras geradoras, acompanhada de sua ilustração. Contendo a palavra e a ilustração,
os cartazes eram utilizados como pontos de partida de discussões que visavam a
conscientização dos educandos, que abordavam o papel ativo dos homens como
produtores de cultura, sobre os diferentes tipos de cultura (letrada, não letrada, arte,
trabalho, religião, diferentes padrões de comportamento e sociabilidade) e colocavam
os educandos no papel de sujeitos da própria aprendizagem.
Feito isso, as palavras geradoras eram desdobradas em sílabas que eram estudadas e
registradas em um quadro das famílias silábicas. As sílabas já aprendidas eram utilizadas
para a escrita de outras novas palavras. Entre dez e vinte palavras geradoras
possibilitavam a alfabetização, em nível rudimentar, em um período de três meses.
Na etapa posterior, essas palavras eram substituídas por temas geradores que
permitiam o aprofundamento da análise dos problemas e um maior engajamento nas
atividades comunitárias ou associativas.
Segundo Ferrari (2008), embora o trabalho desenvolvido por Paulo Freire tenha ficado
conhecido como um “método”, essa não é a palavra mais adequada por se constituir
como um reducionismo das ideias do educador. Para ele, o trabalho de Paulo Freire se
constitui como um reflexão sobre o caráter político da educação e seu papel na
construção de uma sociedade mais humana e igualitária.
2.5 O MOVA
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Nessa ocasião, em um movimento de grande valorização da Educação de Jovens e
Adultos o município de São Paulo introduziu o ensino noturno em todas as escolas de
Ensino Fundamental e transferiu o Programa de Educação de Adultos (EDA) da
Secretaria do Bem Estar Social para a Secretaria da Educação.
O Programa de Educação de Adultos (EDA) havia sido criado, em São Paulo, no início da
década de 1970, constituía-se como um programa de alfabetização e de pós
alfabetização em nível de Suplência, em convênio com a Fundação MOBRAL.
O que realmente marcou a gestão da prefeita Luiza Erundina, no que diz respeito à
Educação de Jovens e Adultos, foi a criação do MOVA-SP (Movimento de Alfabetização
de Jovens e Adultos da cidade de São Paulo), em parceria com a sociedade civil.
Na nova gestão, esses movimentos encontraram seu espaço na luta conjunta com os
órgãos municipais, contra o grave problema do analfabetismo. Com isso, colocaram a
experiência já construída a serviço do governo municipal.
• reforçar e ampliar a atuação dos grupos populares que já vinham trabalhando com
a alfabetização de jovens e adultos nas regiões periféricas da cidade.
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Segundo Gadotti (2013), o MOVA-SP reuniu três condições essenciais para que um
programa de Educação de Jovens e Adultos pudesse ser bem-sucedido, sendo elas: a
vontade política da administração; o empenho e a organização dos movimentos sociais
e populares e; o apoio da sociedade.
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A iniciativa desenvolvida no município de São Paulo deu origem a muitos outros MOVAs,
em todo o território nacional, oferecendo formação a milhares de educadores e
alfabetização a milhares de educandos jovens e adultos.
Conclusão
Para ele, o papel maior da educação era conscientizar os educandos da sua condição de
oprimido, instrumentalizando-os para empreender lutas por mudanças. Nas palavras de
Paulo Freire, cabia à educação transformação a consciência ingênua dos educandos, em
consciência crítica.
Essa transformação só seria possível pela revisão das práticas educativas, antes
pautadas em uma educação bancária, alteradas para uma educação transformadora,
baseada no diálogo.
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REFERÊNCIAS
FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz & Terra,
1982.
GADOTTI, M. Lições de Freire. Rev. Fac. Educ., São Paulo, v. 23, n. 1-2, jan. 1997.
Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-25551997000100002>. Acessado em
27 mar. 2020.
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