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Artigo que examina a dinâmica biopolítica entre resistência e controle no contexto religioso da Amazônia, analisando três casos específicos: os recomendadores de almas em Parintins, a prática da umbanda no mesmo município e o... more
Artigo que examina a dinâmica biopolítica entre resistência e controle no contexto religioso da Amazônia, analisando três casos específicos: os recomendadores de almas em Parintins, a prática da umbanda no mesmo município e o neopentecostalismo em Manaus. Em todos esses casos, observamos uma complementaridade na dinâmica biopolítica, com diferentes formas de resistência e controle em jogo. Por um lado, tanto os recomendadores de almas quanto a prática da umbanda representam formas de resistência à marginalização pela igreja tradicional, e o neopentecostalismo se destaca por exercer um controle social mais eficaz e difuso. Por outro lado, tanto entre os recomendadores de alma quanto na Umbanda, há também circulação e exercício de poder, uma vez que se trata de lideranças que fazem circular certos tipos de poder; ao mesmo tempo, no neopentecostalismo há também resistência e certo modo ético de governar a si mesmo, que escapa a uma analítica simplista.

Abstract: This article examines the biopolitical dynamics between resistance and control in the religious context of the Amazon, analyzing three specific cases: the soul recommenders in Parintins, the practice of Umbanda in the same municipality, and neo-Pentecostalism in Manaus. In all these cases, we observe a complementarity in biopolitical dynamics, with different forms of resistance and control at play. On one hand, both the soul recommenders and the practice of Umbanda represent forms of resistance to marginalization by the traditional church, and neo-Pentecostalism stands out for exercising a more effective and diffuse social control. On the other hand, both among the soul recommenders and in Umbanda, there is also circulation and exercise of power, as these are leaders who circulate certain types of power; at the same time, in neo-Pentecostalism, there is also resistance and a certain ethical way of governing oneself, which escapes a simplistic analysis.
Essa produção resulta de um esforço reflexivo no campo da teoria do direito, buscando expandir a compreensão do direito como instrumento de poder e, a partir disso, propondo o seu preenchimento a partir da matriz da teoria crítica dos... more
Essa produção resulta de um esforço reflexivo no campo da teoria do direito, buscando expandir a compreensão do direito como instrumento de poder e, a partir disso, propondo o seu preenchimento a partir da matriz da teoria crítica dos direitos humanos como forma de apropriação contra-hegemônica dessa ferramenta. Partimos do aprofundamento da reflexão do direito como forma a partir da obra de Brewster Kneen, Norbert Rouland, Homi Bhabha e Boaventura de Sousa Santos, entre outros que foram acionados no desenvolvimento. Após, a partir de Joaquim Herrera Flores entramos na teoria crítica dos direitos humanos, então, com a colaboração de Étienne Balibar, Alain Supiot, Alberto Luiz Warat e Edgar Morin, provocamos uma movimentação nas ideias, para visualizar um direito pluricêntrico e como possibilidade de ocupação emancipadora.
A pandemia da Covid-19 transformou profundamente a rotina escolar em todo o mundo. No Brasil, o estado do Amazonas foi um dos mais afetados pela doença, com um elevado número de casos e óbitos. Além do impacto na saúde pública, a pandemia... more
A pandemia da Covid-19 transformou profundamente a rotina escolar em todo o mundo. No Brasil, o estado do Amazonas foi um dos mais afetados pela doença, com um elevado número de casos e óbitos. Além do impacto na saúde pública, a pandemia também gerou grandes prejuízos à educação, especialmente no que se refere ao Ensino Médio. A suspensão das aulas presenciais e a transição para o ensino remoto tiveram impactos significativos na aprendizagem dos estudantes e na prática da docência pelos professores, que foram forçados que se adaptar a um novo formato de ensino e enfrentar desafios tais como: a instabilidade ou mesmo a falta de acesso à internet, e a falta de preparo específico dos professores para o ensino à distância. Neste texto, discutiremos os impactos da Covid-19 no Ensino Médio no estado do Amazonas, a partir da experiência de dois docentes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFAM), um deles lotado no Campus Manaus Centro, o outro no Campus Presidente Figueiredo, que se situa a uma distância de aproximadamente 120 km da capital. Este texto, portanto, tem como objetivo analisar os desafios enfrentados e algumas de suas implicações. Buscamos refletir sobre a resiliência dos professores e dos alunos em lidar com as adversidades do ensino remoto, mas também sobre a fadiga e o descaso que muitos deles têm enfrentado, reflexos de problemas estruturais relacionados ao neoliberalismo e à desvalorização da educação no Brasil.
Este estudo investiga o conhecimento dos cuidadores indígenas em relação à etiologia e prevenção de acidentes ofídicos na região amazônica. Foram entrevistados oito cuidadores pertencentes a três etnias indígenas. As serpentes são... more
Este estudo investiga o conhecimento dos cuidadores indígenas em relação à etiologia e prevenção de acidentes ofídicos na região amazônica. Foram entrevistados oito cuidadores pertencentes a três etnias indígenas. As serpentes são consideradas inimigas dos humanos e seus acidentes podem ser causados por fatores naturais ou sobrenaturais. Alguns cuidadores usam rituais com ayahuasca e tabaco para identificar a causa do ofidismo, enquanto outros enfatizam a importância de comportamentos adequados para evitar a punição da picada de serpente. A compreensão dos acidentes ofídicos como um infortúnio nas comunidades indígenas amazônicas do alto rio Solimões envolve a construção contínua do corpo por meio de rituais e comportamentos próprios, combinados com a interação com outros humanos e não-humanos, incluindo os sobrenaturais.
As well as neo-Kantianism, phenomenology and analytical philosophy, French historical epistemology also had its emergence in the context of the crisis of the sciences at the turn of the 20th century. Due to their own developments, the... more
As well as neo-Kantianism, phenomenology and analytical philosophy, French historical epistemology also had its emergence in the context of the crisis of the sciences at the turn of the 20th century. Due to their own developments, the works of Gaston Bachelard and Georges Canguilhem broke, each in its path, respectively with the neo-Kantianism represented by Brunschvicg (in Bachelard's case) and by Alain (in Canguilhem's case). In this article, we propose to draw some epistemological, ethical, and political consequences of these two ruptures, briefly analyzing the particularities of each of the two cases.
Resumo: Georges Canguilhem não inicia suas publicações no campo da história das ciências da vida. Nas primeiras décadas em que seu pensamento se formulou (1920-1930), sua obra versava sobre temas relacionados à filosofia dos valores e à... more
Resumo: Georges Canguilhem não inicia suas publicações no campo da história das ciências da vida. Nas primeiras décadas em que seu pensamento se formulou (1920-1930), sua obra versava sobre temas relacionados à filosofia dos valores e à moral. Contudo, em decorrência de acontecimentos internos e externos a seu pensamento, a partir de meados da década de 1950 Canguilhem se consagra como um dos maiores expoentes da assim chamada epistemologia histórica francesa, com uma série de publicações sobre o domínio histórico das ciências da vida. Nestes estudos, e de um modo cada vez mais evidente em sua obra, nota-se uma influência decisiva de Gaston Bachelard, a quem pouco se reportava nas décadas anteriores. É também nesse período que se consolida o que se pode conceber como sendo a sua "filosofia biológica". Este estudo propõe tirar algumas consequências desse acontecimento na esfera da filosofia de Georges Canguilhem.

Abstract: Georges Canguilhem does not start his publications in history of life sciences´ studies. In the first decades in which his thought was formulated (1920-1930), his work dealt with themes related to the philosophy of values and moral issues. However, as a result of internal and external events to his thinking, from the mid-1950s Canguilhem has established itself as one of the greatest exponents of so-called French historical epistemology, with a series of publications on the historical domain of the life sciences. In these studies, and in an increasingly evident way in his work, there is a decisive influence ofGaston Bachelard, to whom he barely reported in previous decades. It is also in this period that became consolidated his “biological philosophy”. This paper proposes to draw some consequences of this event in the sphere of Georges Canguilhem's philosophy.
A partir da análise de Faustão (1970), Cabra marcado pra morrer (1984) e Moscou (2009), três obras que figuram em três momentos distintos da produção cinematográfica de Eduardo Coutinho, tentamos encontrar elementos para diferenciar... more
A partir da análise de Faustão (1970), Cabra marcado pra morrer (1984) e Moscou (2009), três obras que figuram em três momentos distintos da produção cinematográfica de Eduardo Coutinho, tentamos encontrar elementos para diferenciar estratégias de composição artística, distantes na forma quanto nos períodos em que foram produzidas, a fim de avançarmos um debate sobre a relação entre estética e política, tendo como problema norteador a morte do cinema.
Resumo: Assim como o neokantismo, a fenomenologia e a filosofia analítica, também a epistemologia histórica francesa teve sua emergência no contexto da crise das ciências, na virada para o século XX. Por seus desdobramentos particulares,... more
Resumo: Assim como o neokantismo, a fenomenologia e a filosofia analítica, também a epistemologia histórica francesa teve sua emergência no contexto da crise das ciências, na virada para o século XX. Por seus desdobramentos particulares, as obras de Gaston Bachelard e de Georges Canguilhem romperam, cada uma a seu modo, respectivamente com o neokantismo representado por Brunschvicg (no caso de Bachelard) e por Alain (no caso de Canguilhem). Neste artigo, propõe-se retirar algumas consequências epistemológicas, éticas e políticas dessas duas rupturas, analisando brevemente as particularidades de cada um dos dois casos.

Abstract: As well as neo-Kantianism, phenomenology and analytical philosophy, French historical epistemology also had its emergence in the context of the crisis of the sciences at the turn of the 20th century. Due to their own developments, the works of Gaston Bachelard and Georges Canguilhem broke, each in its path, respectively with the neo-Kantianism represented by Brunschvicg (in Bachelard’s case) and by Alain (in Canguilhem’s case). In this article, we propose to draw some epistemological, ethical, and political consequences of these two ruptures, briefly analyzing the particularities of each of the two cases.
Resumo: O texto parte de uma constatação das limitações do uso das mídias digitais e das redes sociais no âmbito educacional, especialmente considerando-se um país tão desigual como o Brasil. Em seguida, contudo, abordamos certos modos... more
Resumo: O texto parte de uma constatação das limitações do uso das mídias digitais e das redes sociais no âmbito educacional, especialmente considerando-se um país tão desigual como o Brasil. Em seguida, contudo, abordamos certos modos possíveis de ações propositivas cuja raiz se encontra na situação de crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, partindo de experiências concretas com a docência, com o atendimento clínico e com o uso das mídias digitais e das redes sociais.

Abstract: This text begins from a constatation about the limits of the use of digital media and social networks in the educational scope, especially considering a country as unequal as Brazil. Then, however, we address certain possible modes of propositional actions that are rooted in the situation of health crisis caused by the new coronavirus, starting from concrete experiences with teaching, with clinical care and with the use of digital media and social networks.
Resumo: O artigo aborda algumas das diferenças entre a "história epistemológica" de Georges Canguilhem e a "história arqueológica", tal como praticada por Michel Foucault. Prioriza-se o estudo do conceito de a priori biológico (ou... more
Resumo:  O artigo aborda algumas das diferenças entre a "história epistemológica" de Georges Canguilhem e a "história arqueológica", tal como praticada por Michel Foucault. Prioriza-se o estudo do conceito de a priori biológico (ou fisiológico), cuja criação Canguilhem atribui a dois autores da tradição filosófica e fisiológica francesa: Auguste Comte e Claude Bernard. Em textos não muito frequentados, Canguilhem recorre a essa tradição para elaborar uma outra interpretação do empreendimento crítico kantiano, que compreende as condições de possibilidade do conhecimento (a priori) num sentido diverso daquele proposto por Foucault.

Abstract: This article examines some of the differences between Georges Canguilhem's “epistemological history” and Michel Foucault´s “archeological history”. Priority is given to the study of the concept of biological (or physiological) a priori, whose creation Canguilhem attributes to two authors from the French philosophical and physiological tradition: Auguste Comte and Claude Bernard. In texts that are not very frequented, Canguilhem resorts to this tradition to elaborate another interpretation of the critical Kantian enterprise, which understands the conditions of possibility of knowledge (a priori) in a different sense from that proposed by Foucault.
Este artigo aborda alguns dos sentidos da crise múltipla pela qual passamos (sanitária, política, econômica, moral etc.). Buscamos, primeiramente, restituir o termo crise ao seu sentido médico-filosófico, aquele referente ao diagnóstico... more
Este artigo aborda alguns dos sentidos da crise múltipla pela qual passamos (sanitária, política, econômica, moral etc.). Buscamos, primeiramente, restituir o termo crise ao seu sentido médico-filosófico, aquele referente ao diagnóstico de um momento no desenvolvimento de uma doença no qual se decide sobre a sua superação ou se sucumbe à morte. Em seguida, abordamos a obra de alguns autores pertencentes a certa tradição médico-filosófica – sobretudo Canguilhem, dentre os mais recentes –, com vistas a examinar o contexto de sua recepção no Brasil. Por fim, abordamos alguns propósitos que podem resultar de um exame crítico acerca da nossa crise atual, salientando a importância da escuta, da clínica e da recriação de nosso modo de vida.
Resumo: A tese defendida neste artigo é a de que a filosofia que Georges Canguilhem passa a desenvolver durante a década de 1940, sobretudo depois da publicação de sua tese em medicina O normal e o patológico, pode ser denominada como um... more
Resumo: A tese defendida neste artigo é a de que a filosofia que Georges Canguilhem passa a desenvolver durante a década de 1940, sobretudo depois da publicação de sua tese em medicina O normal e o patológico, pode ser denominada como um vitalismo crítico. Propomos rastrear algumas das referências utilizadas por Canguilhem na formulação dessa filosofia, bem como afastar algumas leituras que o aproximariam da fenomenologia e do existencialismo, visando demonstrar que uma de suas principais preocupações era a de reformular o estatuto filosófico do homem para além de toda forma de humanismo.

Abstract: The thesis defended in this article is that the philosophy that Georges Canguilhem started to develop during the 1940s, with the publication of his thesis in medicine The normal and the pathological, can be called a critical vitalism. We propose to trace some of the references used by Canguilhem in the formulation of this philosophy, as well as to exclude some readings that would bring him closer to phenomenology and existentialism, aiming to demonstrate that one of his main concerns was to reformulate the philosophical status of man beyond all forms of humanism.
Os textos publicados por Georges Canguilhem durante as décadas de 1920-1930, que desenvolviam uma filosofia dos valores com certa inflexão política, receberam grande influência do neokantiano Alain (pseudônimo de Émile Chartier). O grupo... more
Os textos publicados por Georges Canguilhem durante as décadas de 1920-1930, que desenvolviam uma filosofia dos valores com certa inflexão política, receberam grande influência do neokantiano Alain (pseudônimo de Émile Chartier). O grupo dos intelectuais reunidos em torno de Alain militava em favor do pacifismo, visando evitar um novo conflito mundial. Contudo, a ascensão do fascismo provocou uma nova postura por parte do “jovem Canguilhem”, que publicou anonimamente os resultados de uma pesquisa empírica com o título “Le fascisme et les paysans”, levando sua filosofia axiológica de então a uma nova inflexão política, culminando numa ruptura com o pensamento de Alain e de seu grupo
Este artigo aborda as relações entre Foucault e a assim chamada filosofia do conceito, partindo da famosa clivagem estabelecida pelo próprio Foucault entre duas tradições do pensamento filosófico contemporâneo francês: filosofia do... more
Este artigo aborda as relações entre Foucault e a assim chamada filosofia do conceito, partindo da famosa clivagem estabelecida pelo próprio Foucault entre duas tradições do pensamento filosófico contemporâneo francês: filosofia do conceito versus filosofia do sujeito. Tal clivagem possui uma história, tendo sido proposta inicialmente por Jean Cavaillès em sua obra póstuma finalizada em 1942; adotada, em seguida, por Georges Canguilhem em sua resenha a Les mots et les choses (1966 para o livro de Foucault, 1967 para a resenha de Canguilhem); até ser, enfim, problematizada por Foucault em dois textos dedicados a Canguilhem, de 1978 e de 1984 respectivamente. Propomos que o modo de organizar os debates envolvendo a filosofia francesa contemporânea segundo essa clivagem atende a critérios não somente epistemológicos, mas sobretudo a implicações ético-políticas, em atenção à relação entre saber e poder tal como compreendida por Foucault. Isso é possível demonstrar por contraste a outras formas de organizar a mesma filosofia francesa contemporânea, como aquela proposta por Frédéric Worms com seu conceito de momentos, bem como pela apropriação que Alain Badiou lhe faz.

This paper discusses the relationship between Foucault and the philosophy of concept, starting from the famous cleavage established by Foucault himself between two traditions of contemporary French philosophical thought: philosophy of concept versus philosophy of subject. Such a cleavage has a history, having been first proposed by Jean Cavaillès in his posthumous work completed in 1942; adopted by Georges Canguilhem in his review of Les mots et les choses (1966 for Foucault's book, 1967 for Canguilhem's review); and finally problematized by Foucault in two texts dedicated to Canguilhem, in 1978 and 1984 respectively. We propose that the way of organizing the debates involving contemporary French philosophy according to this cleavage obeys not only epistemological criteria, but ethical-political implications, in view of the relationship between knowledge and power as understood by Foucault. This can also be demonstrated by contrast to other ways of organizing the same contemporary French philosophy, as that way proposed by Frederic Worms with his concept of moments, as well as by the appropriation that Alain Badiou makes to it.
O artigo se inicia com uma breve análise de três textos tardios de Michel Foucault (1983-1984) que remetem a uma certa herança iluminista no pensamento epistemológico francês, para em seguida avançar algumas considerações a respeito dessa... more
O artigo se inicia com uma breve análise de três textos tardios de Michel Foucault (1983-1984) que remetem a uma certa herança iluminista no pensamento epistemológico francês, para em seguida avançar algumas considerações a respeito dessa herança de uma perspectiva um pouco diversa da foucaultiana. Para isso, recorremos a um texto posterior de Canguilhem (1987) sobre a ideia de progresso, para em seguida fazermos um recuo à obra de Bachelard, antes de retornarmos novamente a Canguilhem. Neste recuo, abordamos a noção de “psicanálise do fogo” em Bachelard, com suas reminiscências nietzschianas e freudianas, para ao cabo concluirmos com uma consideração a respeito da possibilidade de uma “pedagogia da cura”, tal como formulada por Canguilhem.

Abstract: This article begins with a brief analysis of three late texts by Michel Foucault (1983-1984) that refer to a certain Enlightenment heritage in French epistemological thought. Then, it advances some considerations about this heritage from a slightly different perspective than Foucault´s. For we resorted to a later text by Canguilhem (1987) on the idea of progress, to then make a step back from Bachelard's work, before returning again to Canguilhem. In this retreat, we approach the notion of “psychoanalysis of fire” in Bachelard, with his Nietzschean and Freudian reminiscences, to conclude with a consideration of the possibility of a “pedagogy of healing”, as formulated by Canguilhem.
Conceber a vida como o conjunto das funções que resistem à morte, na esteira da célebre definição do fisiologista Xavier Bichat (1771-1802), implica conceber o organismo como resistência ao meio exterior, e não como uma mera adaptação.... more
Conceber a vida como o conjunto das funções que resistem à morte, na esteira da célebre definição do fisiologista Xavier Bichat (1771-1802), implica conceber o organismo como resistência ao meio exterior, e não como uma mera adaptação. Essa é uma das principais questões investigadas por Canguilhem em diversos momentos de sua obra. Neste artigo, propomos compreender o modo como Canguilhem concebeu o meio (num artigo publicado na coletânea O conhecimento da vida), passando depois à sua tese sobre o conceito de reflexo e, por fim, à sua crítica às psicologias adaptacionistas. O objetivo é demonstrar as conotações ético-políticas do seu pensamento, para além de seu mero alcance epistemológico.

ABSTRACT: To conceive life as the sum of the functions by which death is resisted, in the way of the famous definition of the physiologist Xavier Bichat (1771-1802), implies conceiving the organism as resistance to the external milieu, and not as a mere adaptation. This is one of the main questions investigated by Canguilhem at different moments in his work. In this article, we propose to understand how Can-guilhem conceived the milieu (in an article published in the collection The Knowledge of Life), then going on to his thesis on the concept of reflex and, finally, to his critique of adaptationist psychologies. The objective is to demonstrate the ethical-political connotations of his thinking, beyond his mere epistemological reach.
Resumo: A "filosofia do conceito" de Jean Cavaillès, erigida sobre o domínio das matemáticas, costuma ser acusada de eliminar o papel do sujeito da construção do conhecimento científico. Em sua defesa, autores como Canguilhem e Badiou... more
Resumo: A "filosofia do conceito" de Jean Cavaillès, erigida sobre o domínio das matemáticas, costuma ser acusada de eliminar o papel do sujeito da construção do conhecimento científico. Em sua defesa, autores como Canguilhem e Badiou evocaram a ação na Resistência Francesa como argumento para a implicação coerente entre sujeito e conhecimento que essa filosofia suscita. Propomos que essa implicação entre sujeito, resistência e pensamento matemático não é arbitrária, mas é uma decorrência necessária da filosofia de Cavaillès. Palavras-chave: Filosofia das matemáticas. Sujeito. Resistência. Cavaillès. introdução: a filoSofia do conceito Nas linhas finais do texto póstumo Sobre a lógica e a filosofia da ciência, redigido em 1942, enquanto Jean Cavaillès era mantido preso pelos nazistas por combater pela Resistência Francesa, pelo que ainda seria torturado e morto, dois anos depois, o filósofo-resistente propôs uma divisão entre "filosofia da consciência" e "filosofia do conceito", a qual ficaria famosa por ter antecipado, em vinte anos, as tentativas do que seria, em grande medida, todo o estruturalismo francês: Não há uma consciência geradora de seus produtos, ou simplesmente imanente a eles, mas ela está cada vez no imediato da ideia, perdida nela e se perdendo com ela e só se ligando com outras consciências (o que seria tentado a chamar de outros momentos da consciência) por elos internos das ideias às quais estas pertencem. O progresso é material ou entre essências singulares; seu motor, a exigência de ultrapassagem de cada uma 1 Professor de Filosofia pela Universidade do Estado do Amapá (UEAP), Doutor e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). https://orcid.org/0000-0001-5736-2262.
Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative Commons.. VIDA 1 Georges Canguilhem 2 Traduzido por Caio Souto "Quem sabe se a primeira noção de biologia que o homem se pôde formar não seja esta: é possível dar a morte". Essa... more
Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative Commons.. VIDA 1 Georges Canguilhem 2 Traduzido por Caio Souto "Quem sabe se a primeira noção de biologia que o homem se pôde formar não seja esta: é possível dar a morte". Essa reflexão de Valéry em seu Discours aux chirurgiens (1938) 3 vai mais longe do que sua destinação primeira. Talvez não seja possível, ainda hoje, ultrapassar essa primeira noção: um vivente 4 , um objeto do conhecimento biológico, é todo dado da experiência do qual se pode descrever uma história compreendida entre seu nascimento e sua morte. Mas o que é precisamente a vida de um vivente, para além da coleção de atributos próprios a resumir a história desse ser nascido mortal? Se se trata de uma causa, por que sua causalidade é estritamente limitada no tempo? Se se trata de um efeito, por que ele é gerador, dentre aquele dos viventes que se interroga sobre sua natureza, da consciência ilusória de uma força ou de um poder?
Resumo: Em meados da década de 1960, um acontecimento no campo das ciências biológicas virá afetar o pensamento de Georges Canguilhem decisivamente. Trata-se do desenvolvimento da teoria genética, que se tornou possível a partir da... more
Resumo: Em meados da década de 1960, um acontecimento no campo das ciências biológicas virá afetar o pensamento de Georges Canguilhem decisivamente. Trata-se do desenvolvimento da teoria genética, que se tornou possível a partir da descoberta, em 1953, da estrutura hereditária do DNA. Canguilhem só tomará conhecimento um pouco tardiamente do real impacto dessa descoberta, a partir da leitura das obras de Jacques Monod e François Jacob. Tão grande será seu impacto que Canguilhem a designará como sendo uma ruptura epistemológica (termo herdado de Bachelard) no âmbito das ciências da vida. Não obstante, essa ruptura acabou por permitir que seu vitalismo racionalista pudesse reformular as relações entre conceito e vida com um rigor ainda maior. O erro, até então compreendido no sentido da errância da vida, agora será identificado aos erros mutacionais do código genético. Este artigo propõe percorrer algumas ideias implicadas nesta reformulação, terminando por uma consideração a respeito da dimensão social e política do pensamento de Canguilhem, que respondeu com sua filosofia biológica renovada a certas questões colocadas por diversos autores do assim chamado estruturalismo francês dos anos 1960. Palavras-chave: Canguilhem, epistemologia histórica, genética, conhecimento da vida

Abstract: In the mid-1960s, an event in the field of biological sciences will decisively affect Georges Canguilhem's thought. It is the development of genetic theory, which became possible after the discovery, in 1953, of the inherited structure of DNA. Canguilhem will only become aware of the real impact of this discovery after reading the works of J. Monod and Fr. Jacob. This discovery will have such a strong impact on Canguilhem's epistemology that he will designate it as what Bachelard called an epistemological break, but in the realm of the life sciences. However, this break ended up allowing his rationalist vitalism to reshape the relationship between concept and life with even greater rigor. The error, in the sense of the life errancy, will now be identified with the mutational errors of the genetic code. This article proposes to go through some ideas involved in this reformulation, ending with a consideration of the social and political dimension of Canguilhem's biological philosophy, which responded in a renewed way to certain questions posed by several authors of the so-called French structuralism of the 1960s.
This paper aims to reconstruct some steps of the emergence and consolidation of the so-called French style in the history of sciences, from the perspective of Georges Canguilhem, one of its main exponents. It begins with a brief... more
This paper aims to reconstruct some steps of the emergence and consolidation of the so-called French style in the history of sciences, from the perspective of Georges Canguilhem, one of its main exponents. It begins with a brief characterization of this style, then seeks the moments in Canguilhem's work in which he defines the more significant contributions of certain authors to the development of this style. First, Fontenelle´s critique of Cartesian thought; after Comte and Claude Bernard, passing by Montpellier School and Paris School of Medicine, until finally reaching the decisive contribution of Bachelard.
A elaboração de um conceito de literatura, por Foucault, esteve atrelada às demais problematizações caras à arqueologia como as da linguagem, da vida e do estatuto filosófico do homem. Após História da loucura, Foucault publica diversos... more
A elaboração de um conceito de literatura, por Foucault, esteve atrelada às demais problematizações caras à arqueologia como as da linguagem, da vida e do estatuto filosófico do homem. Após História da loucura, Foucault publica diversos textos em que analisa o domínio literário. Nessas análises, observa-se o exercício de modificação de um conceito de literatura, o qual obteve uma primeira formulação em meados da década de 1950 nos escritos fenomenológicos de Foucault (particularmente em sua introdução à obra Sonho e existência de Binswanger) e passou a ganhar uma importância cada vez maior na arqueologia foucaultiana. Palavras-chave: Literatura. Arqueologia do saber. Foucault. Abstract To elaborate a concept of literature was, by Foucault, a process implied to other problematizations that are relevant to archeology, such as language, life and the philosophical status of man. After History of madness, Foucault publishes several texts in which he analyzes the literary domain. In these analyzes, we observe the exercise of modifying a concept of literature, which have obtained a first formulation in the mid
A epistemologia histórica, que tem em Gaston Bachelard um de seus principais expoentes, foi criticada muitas vezes como sendo idealista, uma vez que interpretaria a evolução histórica das teorias científicas de um modo relativamente... more
A epistemologia histórica, que tem em Gaston Bachelard um de seus principais expoentes, foi criticada muitas vezes como sendo idealista, uma vez que interpretaria a evolução histórica das teorias científicas de um modo relativamente autônomo, independentemente de seu contexto social ou do sujeito humano produtor da ciência. Este artigo busca demonstrar como, ao menos no caso de Bachelard, há sim uma preocupação para com o sujeito da ciência, que está implicado na construção das teorias científicas, mas não como seu mero produtor, e sim como seu efeito. Trata-se do tema de uma pedagogia científica que se opera constituindo e modificando o sujeito de conhecimento na medida em que os objetos científicos, por sua vez, também são o efeito de uma mise-en-perspective do conhecimento.
RESUMO Este artigo pretende investigar, a partir de um comentário de D. Henrich publicado em 1989 sobre o aspecto jurídico da Dedução transcendental, a relação entre o recurso kantiano à dedução e o problema do jusnaturalismo. Para tanto,... more
RESUMO Este artigo pretende investigar, a partir de um comentário de D. Henrich publicado em 1989 sobre o aspecto jurídico da Dedução transcendental, a relação entre o recurso kantiano à dedução e o problema do jusnaturalismo. Para tanto, propusemo-nos uma estratégia diversa tanto da análise genética quanto da exegese estrutural, detendo-nos sobretudo em questões implícitas que se mostraram inevitáveis à compreensão do princípio admitido pela Dedução transcendental, o qual, por ser, segundo o próprio Kant, apenas um único e mesmo, não pode ser subtraído ao domínio especulativo da razão, donde a necessidade de estender suas implicações à razão prática. Por fim, invocando Foucault, tentamos mostrar que, pelo fato do jusnaturalismo de Kant ser diverso daquele atribuído ao pensamento clássico, o seu argumento não pode ser compreendido segundo os mesmos parâmetros daquele. Por conseguinte, a questão da origem do direito deverá doravante se deslocar da questão sobre a natureza e sua determinação necessária em direção ao sujeito e seu poder normativo reflexivo.

ABSTRACT This article aims to investigate, based on a comment by D. Henrich published in 1989 on the legal aspect of transcendental deduction, the relationship between the Kantian recourse to deduction and the problem of jusnaturalism. To this end, we have proposed a diferente strategy from both genetic analysis and structural exegesis, focusing mainly on implicit questions that have proved inevitable to the understanding of the principle admitted by transcendental Deduction, which, according to Kant himself, is only one and the same cannot be subtracted from the speculative domain of reason, hence the need to extend its implications to practical reason. Finally, by invoking Foucault, we try to show that, because Kant's jusnaturalism is different from that attributed to classical thought, his argument cannot be understood according to the same parameters as that. Consequently, the question of the origin of law must henceforth shift from the question of nature and its determination toward the subject and its normative reflexive power.
O termo estilo de pensamento foi empregado por precursores tanto da “sociologia do conhecimento”, como Mannheim, quanto da “sociologia das ciências”, como Ludwik Fleck. Porém, também é empregado por autores que praticam a assim chamada... more
O termo estilo de pensamento foi empregado por precursores tanto da “sociologia do conhecimento”, como Mannheim, quanto da “sociologia das ciências”, como Ludwik Fleck. Porém, também é empregado por autores que praticam a assim chamada “epistemologia histórica”, como mais recentemente Ian Hacking. A partir de uma breve reconstituição dessas duas tradições da epistemologia no século XX, que têm seus sucedâneos no século XXI, propomos um novo uso possível do conceito de estilo em epistemologia com especial enfoque para as ciências da vida.
Ao final de sua obra, entre as décadas de 1960-1970, Georges Canguilhem cunhou o termo "ideologia científica" para designar certos saberes que reivindicam para si o estatuto de cientificidade, mas que apenas emprestam modelos científicos... more
Ao final de sua obra, entre as décadas de 1960-1970, Georges Canguilhem cunhou o termo "ideologia científica" para designar certos saberes que reivindicam para si o estatuto de cientificidade, mas que apenas emprestam modelos científicos de outras áreas e as degeneram, desviando-lhes a finalidade para servirem a ideologias sociais, políticas ou econômicas. Em 1956, Canguilhem já havia desferido seu ataque ao behaviorismo, mas a obra de Skinner ainda não era de seu conhecimento. Apenas numa conferência de 1980 é que Canguilhem irá se referir ao behaviorismo radical e ao seu principal conceito, o de operante. Propomos reconhecer a inovação produzida por Skinner no âmbito do behaviorismo em toda a sua originalidade, mostrando contudo que ela dá continuidade ao projeto de Watson de conceber os seres vivos como funções derivadas do meio, o que ainda está circunscrito ao que Canguilhem denominou como uma "ideologia científica" com relação às ciências da vida.
As Reflexões sobre a mentira foram publicadas inicialmente em Nova Iorque, no primeiro volume da revista trimestral Renaissance, publicada pela École libre des Hautes Études (vol. 1, fascículo 1, janeiro-março de 1943). Por conta de... more
As Reflexões sobre a mentira foram publicadas inicialmente em Nova Iorque, no primeiro volume da revista trimestral Renaissance, publicada pela École libre des Hautes Études (vol. 1, fascículo 1, janeiro-março de 1943). Por conta de suas raízes judaicas, Koyré teve de deixar a Europa para escapar ao Holocausto, radicando-se momentaneamente nos Estados Unidos, onde passou a lecionar, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento dos estudos em história das ciências nesse país. Dentre seus célebres alunos, estão Thomas Kuhn e I. Bernard. Também na década de 1940, mais precisamente em 1947, pouco depois do desfecho da Segunda Guerra Mundial, portanto, Koyré fez publicar o volume Epimênides, o mentiroso, uma compilação de alguns escritos de juventude que versavam sobre o problema da mentira, mas desta vez segundo seu aporte lógico-epistemológico. Já estas Reflexões sobre a mentira, cuja tradução apresentamos pela primeira vez ao leitor lusófono, é por sua vez uma das raras incursões de Koyré no domínio político, ficando ainda por ser feita uma análise que levasse em consideração as relações entre esses dois textos, que permitiriam lançar luz sobre as relações entre epistemologia e política neste autor.
O artigo expõe alguns aspectos da leitura foucaultiana a respeito da Segunda extemporânea de Nietzsche e sua relação com a genea-logia tal como Foucault a compreende e pratica. Também são levanta-das algumas críticas à leitura de... more
O artigo expõe alguns aspectos da leitura foucaultiana a respeito da Segunda extemporânea de Nietzsche e sua relação com a genea-logia tal como Foucault a compreende e pratica. Também são levanta-das algumas críticas à leitura de Heidegger sobre o referido texto de Nietzsche, demonstrando como suas denúncias metafísica e antropo-lógica resultam, antes, de compromissos metafísicos e antropológicos aos quais o próprio Heidegger manteve-se preso malgré lui. Reto-mando a leitura foucaultiana, buscamos demonstrar como o conceito nietzschiano de "extemporaneidade" (Unzeitgemäßheit) serve como ferramenta conceitual para uma interpretação genealógica da Aufklä-rung kantiana, tal como problematizada em seus últimos textos em que Foucault formula o oximoro "ontologia do presente", produzindo um inusitado encontro entre Kant e Nietzsche. Por fim, apresentamos algumas das implicações ético-políticas dessa leitura.
Este artigo tem como objetivo sugerir, a partir da leitur de autores como Foucault e Deleuze, limites e perspectivas de superação do método estrutural em história da filosofia desenvolvido no Brasil. Para tanto, ele é divido em dois... more
Este artigo tem como objetivo sugerir, a partir da leitur de autores como Foucault e Deleuze, limites e perspectivas de superação do método estrutural em história da filosofia desenvolvido no Brasil. Para tanto, ele é divido em dois movimentos bastante precisos: (1) apresentar em linhas gerais o método estrutural em história da filosofia a partir da leitura de textos de seus mais importantes expoentes; (2) pensar formas de superação de tal paradigma a partir de análises pontuais do recurso à história da filosofia tal como encontramos em Foucault e Deleuze.
Harald Høffding nasceu em 1843, em Copenhague, cidade onde iniciou seus estudos de teologia. O aprofundamento na obra de seu conterrâneo Søren Kierkegaard o conduziu à tênue fronteira entre teologia e filosofia. Em 1870, doutorou-se com... more
Harald Høffding nasceu em 1843, em Copenhague, cidade onde iniciou seus estudos de teologia. O aprofundamento na obra de seu conterrâneo Søren Kierkegaard o conduziu à tênue fronteira entre teologia e filosofia. Em 1870, doutorou-se com uma tese sobre a con-cepção grega da vontade humana, passando então a lecionar sobre filosofia contemporânea na Alemanha e na Inglaterra, até retornar em 1880 à sua cidade natal, ao ser aceito como professor universitá-rio. Em 1882 publicou o influente Esboço de uma psicologia fundada sobre a experiência, logo traduzido para o alemão, o inglês, o russo, o polonês e o francês. Em 1887, publicou Moral, também traduzi-do para o inglês e o francês, obra em que buscou encontrar uma matriz comum entre a filosofia transcendental alemã e a psicologia experimental inglesa, o que marcaria todo o seu pensamento. Sua obra compreende ainda o volume enciclopédico História da filosofia moderna, traduzido para o inglês, o francês, o alemão e o espanhol, além de outros cinco volumes que compõem sua obra principal: O pensamento humano (1910); Totalidade como categoria (1925); Re-lação como categoria (1925); Teoria do conhecimento e concepções de vida (1927); e O conceito de analogia (1931). Além disso, publicou livros sobre moral, filosofia da religião e também sobre filósofos em particular, como Kierkegaard, Pascal, Nietzsche, Rousseau, Bergson, Spinoza, e o volume Filósofos contemporâneos (1924). Seu epistolá-rio compreende importante troca de correspondências com É. Meyer-son (1939). Bergson (1917) também lhe enviou uma conhecida carta, como resposta ao livro em que Høffding examina sua obra. Outros intelectuais célebres também comentaram ou prefaciaram seus livros, como fizeram Boutroux, Janet, Delbos e William James. Høffding admitia ter sido influenciado diretamente por Spinoza, Kant e Scho-penhauer, mas também reconheceu a importância de muitos filósofos e psicólogos contemporâneos para seu pensamento, como Spencer, Bergson, Wundt e William James. Høffding faleceu no ano de 1931, em Copenhague. O texto "O conceito de vontade" foi publicado em francês como o primeiro artigo da edição n° XV (1) da Revue de métaphysique et de morale, no ano de 1907. Seu autor, quase desconhecido no Brasil, onde nenhum de seus numerosos trabalhos se encontra traduzido, foi um dos protagonistas da querela envolvendo a relação entre psico-logia e filosofia na virada do século XIX para o XX. Dinamarquês, Høffding acompanhou com a postura peculiar ao estrangeiro as pu-blicações de pensadores franceses, ingleses, americanos e alemães, expressando-se nas línguas mais correntes do pensamento ocidental, que conhecia bem, e nas quais teve seus textos, quando escritos em seu idioma natal, com frequência traduzidos. A Revue de métaphysi-que et de morale, fundada em 1893 por um grupo de pensadores que constituiria alguns anos depois a Société française de philosophie,
Segue-se um debate característico sobre a vontade na psicologia de nossa época. Por um lado, não se admite que a vontade possa ser posta como um ponto de vista particular da vida consciente, como um lado particular ou um elemento... more
Segue-se um debate característico sobre a vontade na psicologia de nossa época. Por um lado, não se admite que a vontade possa ser posta como um ponto de vista particular da vida consciente, como um lado particular ou um elemento seu-pouco importa a expressão que se escolha. Por outro lado, sustenta-se que a vontade denota, ao contrário, o ponto de vista mais fundamental de onde conside-rar a vida consciente: vida esta que é, de um polo a outro, vontade, de modo que as sensações, as representações e os sentimentos só são compreensíveis em sua relação com a vontade. Historicamente, a primeira teoria remonta a Hume; na psicologia moderna, ela é repre-sentada por Münsterberg, Ehrenfels, Ebbinghaus e Lapie. A segunda teoria é esposada por Fichte e Schopenhauer; na psicologia moderna, ela é representada por Wundt, William James, Fouillée e Jodl. É esta última teoria que eu adoto e buscarei, no presente artigo, fundamen-tar a minha maneira de ver. O problema está intimamente ligado à posição da psicologia como ciência empírica. Podemos formulá-lo assim: pode uma vonta-de ser o objeto de uma observação simples e direta? E, ao revés, temos o direito de pôr a vontade como uma manifestação independente da vida consciente? Quanto a mim, respondo negativamente à primeira pergunta e, contudo, afirmativamente à segunda. Estou portanto de acordo com a primeira teoria em suas premissas, mas nego a exatidão de sua conclusão, por negligenciar alguns fatos fundamentais. Se nos ativermos, quanto a isso, à direta e simples observação de si mesmo, nunca encontraremos mais do que sensações, sentimen-tos e representações. Os chamados fenômenos da vontade aparecem acompanhados por algumas sensações próprias da inquietude, do de-sejo, do esforço que parecemos aí colocar, da energia que parecemos aí aplicar. São sensações mais agitadas, menos em equilíbrio do que as sensações de cor e de som, mas não, a princípio, de outra espé-cie. Podemos considerá-las como sensações sinestésicas, sensações de tensão muscular. Diferentes músculos já reagem à mera ideia de uma ação que desejamos fazer ou que iremos fazer, e uma sensação particular correspondente se produz. É sobretudo no momento de re-solução que essa sensação é forte. Ao lado dela, encontramos aí re-presentações de fins e de meios, de ideais e de normas, de obstáculos e de efeitos; mas essas representações se desenvolvem inteiramente como outras representações e não parecem poder reclamar um capí-tulo particular da psicologia. Além disso, observamos sentimentos de prazer e de dor, de esperança e de medo, de entusiasmo e de horror etc., mas tudo isso pertence à psicologia do sentimento. É essa análise exaustiva, ou se deixou escapar-lhe alguma coisa?
Rosa Luxemburgo e Michel Foucault, a menos no que respeita à maneira como se deu uma fusão entre obra e vida e entre teoria e prática, estão muito próximos. A partir de uma breve reflexão sobre o modo como conceberam a vida e a morte, bem... more
Rosa Luxemburgo e Michel Foucault, a menos no que respeita à maneira como se deu uma fusão entre obra e vida e entre teoria e prática, estão muito próximos. A partir de uma breve reflexão sobre o modo como conceberam a vida e a morte, bem como viveram e morreram, faz-se visível a possibilidade de uma estética da existência. Isso se comprova também pela morte que cada um encontrou, e sua postura diante dela.
A articulação saber-poder no debate entre Chomsky e Foucault Resumo O debate entre Chomsky e Foucault pode ser dividido em duas partes. Na primeira, ambos discutem a noção de natureza humana do ponto de vista epistemológico. Na segunda,... more
A articulação saber-poder no debate entre Chomsky e Foucault Resumo O debate entre Chomsky e Foucault pode ser dividido em duas partes. Na primeira, ambos discutem a noção de natureza humana do ponto de vista epistemológico. Na segunda, fazem-no segundo a perspectiva política. É possível interpretar a articulação entre essas duas perspectivas em relação com os dois primeiros eixos de pesquisa em que é divida a obra de Foucault: a arqueologia e a genealogia. Nesse sentido, é possível extrair mais elementos para compreender a divergência entre os dois pensadores no que tange principalmente à relação entre o saber (nele compreendido os con-teúdos científicos, bem como as estruturas linguísticas ou neurais) e o poder que articuladamente a ele se exerce. Por fim, tentaremos mostrar que as duas vertentes filosóficas em questão podem ser concebidas como dois modos de leitura e de apropriação divergen-tes da filosofia kantiana. O debate entre Chomsky e Foucault (1971) No ano de 1971, Foucault e Chomsky protagonizaram um debate para uma TV holandesa que ficou muito famoso e que agora foi transcrito, traduzido e publicado no Brasil (2014). Conduzido por Fons Elder, o debate pode ser divido em dois principais momentos. O primeiro deles tem como tema o saber teórico e a noção de natu-reza humana compreendida como um conceito científico com apor-te filosófico. Neste primeiro momento, ambos os filósofos parecem concordar em sua interpretação a respeito da natureza humana como estrutura, embora Chomsky priorize o fato de que essa estru-tura não se altere substancialmente nas diferentes culturas e perí-odos da história da humanidade, enquanto para Foucault haveria uma diferença em cada cultura e período histórico que não permite que se fale numa natureza humana imutável, ou numa espécie de estrutura inata. No segundo momento do debate, no entanto, enta-bulado pelo mediador que mobilizou o fluxo da conversa, vieram à tona as consequências de uma divergência que, quando se tratava de um domínio estritamente teórico, não era tão explícita entre os dois pensadores. Aparece então um aspecto da admissão de uma natureza humana imutável, de que Chomsky não abre mão, e que Foucault fulmina. Os dois momentos deste instigante debate, cujas possibilidades e influências ainda não foram esgotadas, traduzem, ademais, a articulação entre os dois primeiros dos três períodos em que comumente se divide a obra madura de Foucault: o período da arqueologia (década de 1960), em que o autor priorizou a análise do campo do saber, e o período da genealogia (década de 1970), em que passou a priorizar as análises acerca do poder.
Iremos limitar nossa exposição a dois problemas concernentes à conceituação da norma no que se refere aos organismos vivos, os quais acreditamos serem os que mais propiciam uma articulação entre as obras O normal e o patológico, de... more
Iremos limitar nossa exposição a dois problemas concernentes à conceituação da norma no que se refere aos organismos vivos, os quais acreditamos serem os que mais propiciam uma articulação entre as obras O normal e o patológico, de Georges Canguilhem, e O nascimento da clínica, de Michel Foucault: o primeiro deles reporta à natureza da diferença entre os estados normal (ou fisiológico) e anormal (ou patológico); o segundo se refere ao papel exercido pela clínica nessa diferenciação. Pretendemos abordar, com a primeira dessas questões, a crítica que a epistemologia histórica proposta por Canguilhem dirige ao positivismo científico, bem como a qualquer forma idealista de compreensão da ciência, a partir da consideração sobre a impossibilidade de determinação científica da norma; com a segunda, trataremos o papel que o campo das práticas externas ao conteúdo intrínseco de uma ciência exerce na elaboração dos conceitos mesmos dessa ciência. Ao final, mencionaremos algumas das principais relações entre esse pensamento e a arqueologia do saber praticada por Foucault em sua inflexão sobre o domínio médico, apenas apontando para a abertura que o autor iria dar à questão nos seus livros posteriores, notadamente em As palavras e as coisas, quando estenderia sua análise a todas as chamadas ciências do homem. *** Canguilhem dividiu a redação do ensaio original de O normal e o patológico, apresentado como tese de doutorado em medicina no ano de 1943, em duas partes. Na primeira delas, encarregou-se de refutar o argumento positivista, atribuído a Augusto Comte e, parcialmente, a Claude Bernard 2 , segundo o qual haveria uma identidade entre os estados fisiológico e patológico de um organismo vivo. Ampliando a concepção nosológica estabelecida por Broussais, Comte teria postulado que qualquer modificação na ordem própria a um organismo seria devida a uma variação de intensidade de um ou de alguns dos seus fatores constitutivos. Nesse sentido, uma disfunção do organismo não alteraria a natureza de nenhum componente existente em seu funcionamento.
No terceiro capítulo de Diferença e repetição, Gilles Deleuze desenvolve o tema da imagem do pensamento em Filosofia, por meio de postulados que buscaremos retomar como ponto de partida deste trabalho. Primeiramente, o autor demonstra que... more
No terceiro capítulo de Diferença e repetição, Gilles Deleuze desenvolve o tema da imagem do pensamento em Filosofia, por meio de postulados que buscaremos retomar como ponto de partida deste trabalho. Primeiramente, o autor demonstra que o real começo em Filosofia, somente possível no momento em que todos os pressupostos, objetivos e subjetivos, fossem eliminados, não foi de fato alcançado pelos filósofos que o intentaram. O princípio primeiro do Cogito em Descartes, o princípio de não-contradição em Aristóteles (bem como o de identidade e o do terceiro excluído), a dedução das categorias do entendimento em Kant, o eu=eu em Fichte, todos repousariam sobre pressupostos os quais deveriam ser eliminados para que a Filosofia, o pensamento que visa romper com o senso comum de fato pudesse começar. Segundo Deleuze, tradicionalmente, uma filosofia se desenvolveria a partir de um princípio primeiro (o qual não se poderia demonstrar, o que aproximaria Deleuze a Wittgenstein-ver Bento Prado Jr. em Erro, ilusão, loucura). Porém, embora indemonstrável, tal princípio deveria ser ou autoevidente (caso de Fichte), ou decorrente de uma dedução quid juris (caso de Kant), ou de uma irrefutabilidade (caso de Descartes). Em todos os casos, contudo, a validade deste princípio repousaria em pressupostos do tipo "todo mundo sabe": porque ninguém há de negar que duas proposições contraditórias podem ser ambas sustentadas, deduzo o princípio de não-contradição; porque ninguém pode negar que aquele que pensa existe, deduzo o princípio do Cogito como primeiro a todos os outros. Para Deleuze, nos bastidores do pensamento filosófico conceitual havia uma imagem do pensamento anterior, "pré-filosófica e natural, tirada do elemento puro do senso comum. Segundo essa imagem, o pensamento está em afinidade com o verdadeiro, possui formalmente o verdadeiro e quer materialmente o verdadeiro" (2009, p. 192). Contra essa imagem, Deleuze reivindica um começo em Filosofia que fosse buscado numa violação ao modo do "todo mundo sabe". Como disse com razão A. Bouaniche (2004), a ambição de Deleuze teria sido a de, enquanto filósofo, libertar o pensamento das potências que o impediriam de se exercer e de ser plenamente criador. Tal imagem estaria ancorada num princípio que chamou cogitatio natura universalis. Esse princípio, encontrado explícita ou implicitamente entre os mais diversos filósofos, quer dizer, simplificadamente, que há uma predisposição ao verdadeiro da qual é dotada naturalmente a razão. Ancorada nesse princípio que, por sua vez, tem total amparo no senso comum (pois "todo mundo sabe" ser essa a afinidade natural da razão) a Filosofia se dá como mera formalização dos elementos desse modo de pensar e se contenta com uma aptidão à verdade. Eis que tal princípio, para Deleuze, é quem possibilita a imagem do pensamento: "uma só Imagem em geral, que constitui o pressuposto subjetivo da Filosofia em seu conjunto" (2009, pp. 192-193). A esse princípio corresponderia um acordo entre as faculdades do pensar que formariam o Eu do eu penso, a funcionar conjugadas. Deleuze quer fazer da Filosofia, ao contrário, uma prática isenta de preconceitos e de pressupostos, estranha à doxa e ao senso comum, que obrigatoriamente deveria se erigir numa luta rigorosa contra uma tal Imagem. Ainda segundo Diferença e repetição, haveria um modelo específico a erigir a imagem do pensamento filosófica, ao qual o autor chamou o "modelo da recognição".
Este artigo aborda as relações entre linguagem e subjetividade tomando como mote o pensamento de Nietzsche e de Foucault. Nietzsche trabalhou a questão da linguagem pelo menos em dois momentos cruciais de sua pesquisa: na juventude, em... more
Este artigo aborda as relações entre linguagem e subjetividade tomando como mote o pensamento de Nietzsche e de Foucault. Nietzsche trabalhou a questão da linguagem pelo menos em dois momentos cruciais de sua pesquisa: na juventude, em textos como Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral, e na maturidade, como no Livro V de A gaia ciência e em outras publicações da época. Foucault também conferiu atenção ao tema em fases diferentes de sua produção. Já suas primeiras publicações, como a "Introdução a Binswanger", constituíam pesquisas acerca do tema da linguagem, bem como As palavras e as coisas, até finalmente, em seus últimos textos, tratar a questão da relação entre a linguagem, a produção de verdade e a constituição de si. Percorreremos brevemente essas diferentes fases do pensamento dos dois autores para tentar encontrar relações de toque entre linguagem e subjetividade tal como cada um deles as concebeu e, por fim, demonstrar em que Foucault se afasta de Nietzsche nos seus últimos escritos no que tange a uma relação entre linguagem e subjetividade, em direção a uma política da verdade.
Uma vez tendo vivido o Ocidente o desaparecimento da forma-Deus, antigo centro de gravidade para todos os saberes, encontrou-se novamente ancorado numa forma nova, a forma-homem. Foucault quis mostrar que a tese de Nietzsche de que Deus... more
Uma vez tendo vivido o Ocidente o desaparecimento da forma-Deus, antigo centro de gravidade para todos os saberes, encontrou-se novamente ancorado numa forma nova, a forma-homem. Foucault quis mostrar que a tese de Nietzsche de que Deus está morto seria, antes, uma constatação, cuja verdadeira novidade estaria, outrossim, em revelar-nos que não devemos nos contentar com a morte de Deus, mas sim nos encaminharmos para uma nova conjuntura de disposição e configuração dos saberes em que o homem igualmente não ocupe o centro. Não a morte de todos os homens, nem a simples mudança de um conceito, como disse Deleuze: é a forma-homem que deve ser colocada em xeque, bem como o conjunto de saberes que a tem como centro, as ciências humanas.
A literatura, uma noção tardia: reflexão sobre As palavras e as coisas de Michel Foucault Caio Augusto T. Souto * RESUMO As palavras e as coisas (1966), assim como os demais ensaios de Foucault da época, afirmam ser a literatura uma noção... more
A literatura, uma noção tardia: reflexão sobre As palavras e as coisas de Michel Foucault Caio Augusto T. Souto * RESUMO As palavras e as coisas (1966), assim como os demais ensaios de Foucault da época, afirmam ser a literatura uma noção tardia. Embora textos muito antigos, como os atribuídos a Homero, sejam considerados literatura, ela, enquanto noção, só encontrou seu lugar na modernidade, numa data que Foucault não precisou exatamente, mas indicou as transformações gerais na ordem do saber que a inauguraram, algo situado no limiar entre os séculos XVIII e XIX. A fim de entender por que o autor pôde dizer ser a noção de literatura eminentemente moderna, retomaremos a idéia de epistémê, central em As palavras e as coisas. Das três epistémês analisadas naquele livro (a do Renascimento, a da Idade Clássica e a da Modernidade), apenas a terceira pôde comportar a noção de literatura, embora seja aplicável, uma vez cunhada, a textos muito mais antigos. Esta reflexão recai sobre quais são, em linhas gerais, as mudanças profundas no saber ocidental que permitiram o "nascimento" ou a "emergência" dessa especificidade discursiva à qual se passou a denominar como literatura, e por que não poderia ter existido (enquanto função discursiva) em épocas precedentes. PALAVRAS-CHAVE: Foucault, literatura, epistémê. Os estudos literários de Michel Foucault não são algo marginal em seu pensamento, mas estão inseridos perfeitamente dentre os principais objetivos da arqueologia do saber e mantém relações com os diferentes objetos de pesquisa que se dedicou a estudar. Tanto em seus ensaios e conferências, quanto em seus grandes livros da época (História da loucura, As palavras e as coisas), importantes passagens são inteiramente consagradas a estudos literários, sempre em articulação com os temas mais gerais que abordava.
Elementos que comprovam que O Alienista de Machado de Assis é uma paródia do que poderia ser uma cópia de Revolução Francesa no Brasil não faltam. O texto foi escrito entre 1881-1882, portanto sete anos antes da Proclamação da República... more
Elementos que comprovam que O Alienista de Machado de Assis é uma paródia do que poderia ser uma cópia de Revolução Francesa no Brasil não faltam. O texto foi escrito entre 1881-1882, portanto sete anos antes da Proclamação da República pelos militares e seis antes da Lei Áurea. O tráfico externo de escravos já havia se tornado ilícito, por força de determinações estrangeiras, mas o tráfico interno subsistia; a Lei do Ventre Livre tornava anunciada a abolição. Os ideais que norteavam os interessados no fim da monarquia, a exemplo do que ocorrera na França revolucionária, eram burgueses e pretensamente científicos. O racismo científico, repudiado por Machado de Assis, aliava-se ao determinismo geográfico dos positivistas, que diziam ser a raça branca superior à negra, e os habitantes de países onde havia mais calor e sol intenso mais preguiçosos. A burguesia nacional em ascensão, notadamente a cafeeira dos Estados do Sul e Sudeste, organizava-se cautelosamente para adaptar as condições políticas a seus interesses econômicos, com os olhos voltados ao que ocorria nos outros países do mundo. Clarificava-se dia após dia a necessidade de um regime "republicano" (nos moldes que viríamos a conhecer), quanto mais após as conseqüências da Guerra do Paraguai.
Este trabalho abordará a importância da literatura na filosofia de Gilles Deleuze tendo como ponto de partida a crítica elaborada pelo autor a uma certa imagem do pensamento filosófico da qual a literatura constituiria uma subversão. Para... more
Este trabalho abordará a importância da literatura na filosofia de Gilles Deleuze tendo como ponto de partida a crítica elaborada pelo autor a uma certa imagem do pensamento filosófico da qual a literatura constituiria uma subversão. Para tanto, traremos à análise o capítulo terceiro de Diferença e repetição, tencionando esclarecer quais os principais elementos dessa crítica. Após isso, pretendemos mostrar que a literatura desempenha um papel primordial na obra de Deleuze, porque seria, segundo ele, a mais apta a romper com essa imagem do pensamento e com o chamado modelo da recognição que a embasa, abrindo o pensamento a experimentações que o libertam da clausura implicada por tal modelo.
Resumo: Este artigo intenta abordar a questão do papel do direito no nascimento e consolidação da sociedade panóptica, bem como de seu engajamento na opção pela prisão como forma precípua escolhida para punição de uma categoria... more
Resumo: Este artigo intenta abordar a questão do papel do direito no nascimento e consolidação da sociedade panóptica, bem como de seu engajamento na opção pela prisão como forma precípua escolhida para punição de uma categoria determinada de ilegalismos que, pela própria maneira como o poder se exerce nas sociedades modernas, não se pode tolerar: a delinqüência. Para tanto, procura refazer brevemente o percurso da reforma penal humanista do século XVIII e o nascimento da prisão, a fim de mostrar que tanto o direito quanto o controle dos ilegalismos sempre estiveram em primeiro plano nas discussões que se travaram nesse âmbito e que são essenciais para a manutenção do regime de forças nas sociedades atuais, às quais Foucault chamou normalizadoras. Por fim, busca demonstrar por que se pode dizer que o nosso direito é justamente normalizado-normalizador.
Tese que reconstitui toda a trajetória do pensamento de Georges Canguilhem, buscando demonstrar a imprevisibilidade das mutações ocorridas em sua obra, bem como a originalidade de cada reformulação pela qual ela passou, sem que nunca se... more
Tese que reconstitui toda a trajetória do pensamento de Georges Canguilhem, buscando demonstrar a imprevisibilidade das mutações ocorridas em sua obra, bem como a originalidade de cada reformulação pela qual ela passou, sem que nunca se apagasse totalmente a conservação de uma herança dos períodos anteriores. Divide-se em quatro capítulos, para cada um dos quais foi priorizado um acontecimento externo como índice de modificação da filosofia canguilhemiana. O primeiro capítulo (1926-1939) inicia-se reconstituindo a influência exercida sobre ele por Alain e pela Wertphilosophie, tendo como marco de mudança os acontecimentos políticos que conduziram à Segunda Guerra Mundial, o que levará Canguilhem a romper com o pacifismo de seu primeiro mestre e a constituir um pluralismo axiológico que se coloca para além do neo-kantismo. O segundo capítulo (1940-1956) tem como acontecimento sua incursão no domínio médico, já iniciada alguns anos antes, mas que terá suas consequências com a publicação de suas três teses, em que reelabora sua filosofia dos valores inserindo agora a vida como valor a coordenar os demais valores. Entre o segundo e o terceiro períodos analisados, Canguilhem passa a emprestar conceitos à epistemologia bachelardiana na prática da história das ciências, o que permitirá que ele aborde o acontecimento que analisaremos no terceiro capítulo de um modo novo. Assim, o terceiro capítulo (1957-1966) prioriza a ruptura realizada pelo advento da genética no domínio das ciências da vida, o que exigirá uma retificação do conceito de vida por Canguilhem, o que ele fará concebendo essa novidade em biologia como uma “ruptura epistemológica”. O quarto e último capítulo (1966-1995) analisa um acontecimento na esfera das ciências sociais e humanas na França, ocorrida sobretudo com as obras de Althusser e Foucault. Canguilhem formulará um último conceito, o de “ideologia científica”, que permitirá responder a seus jovens colegas e revigorar o empréstimo que já fizera à epistemologia histórica de Bachelard, ensejando também um reexame de toda sua obra pregressa. Desse modo, a filosofia na qual a obra de Canguilhem culmina pode definir-se como: um pluralismo dos valores (cap. 1), coordenado nos termos de um vitalismo racionalista (cap. 2), que se nutre dos resultados colhidos a partir da prática de uma epistemologia histórica das ciências da vida (cap. 3), cujo objetivo é reformular o estatuto filosófico do homem enquanto ser vivente, investigando as condições de possibilidade práticas para uma pedagogia da cura (cap. 4).
A presente Dissertação visa explorar as condições apresentadas pela obra de Michel Foucault à constituição de um conceito de literatura como alternativa à opção oferecida pela fenomenologia e pelo existencialismo. Os escritos pioneiros do... more
A presente Dissertação visa explorar as condições apresentadas pela obra de Michel Foucault à constituição de um conceito de literatura como alternativa à opção oferecida pela fenomenologia e pelo existencialismo. Os escritos pioneiros do autor, aqueles considerados como anteriores à primeira formulação da arqueologia do saber, filiavam-se aos pressupostos de uma fenomenologia, cujo objeto de pesquisa teria sido ampliado por uma psicologia existencial, a qual Foucault se dedicava a estudar a partir de uma perspectiva histórica. Circunscrita a esse âmbito, uma noção precisa de literatura se perfilava no horizonte teórico do autor. No entanto, com a guinada arqueológica a qual viria reformular aqueles pressupostos fenomenológicos até então admitidos, Foucault passaria a conceber a literatura de modo diverso. É a esse conceito específico de literatura então criado pelo autor que este estudo se propõe dedicar. Para tanto, busca-se auxílio em duas outras noções que manteriam com a literatura uma relação íntima: a noção de espaço e a noção de fora. Se a literatura busca compor um espaço próprio, autônomo ante a todos os outros espaços, ela igualmente está no limite de todos os outros, atraindo-os para fora de si mesmos, entrelaçando-se com eles e os subvertendo. É possível pensar que uma tal tensão estabelecida no espaço literário o qual se mantém fora de todos os outros espaços e, ao mesmo tempo, na virtualidade dos seus limites, remete-o a uma condição paradigmática, a qual poderia encontrar correlatos noutros momentos da produção foucaultiana.
A revolução consiste no ato pelo qual a humanidade puxa o freio de urgência para parar o trem suicida da civilização capitalista industrial moderna.
Entrevista
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Entrevista
Entrevista
Reproduz as aulas dadas na disciplina de "História e Sistemas Psicológicos: Behaviorismo" no 2o semestre de 2015 e no 2o semestre de 2016 (concluído em 2017) no Curso de Psicologia da UFSCar. Inicia-se por uma história interna dos... more
Reproduz as aulas dadas na disciplina de "História e Sistemas Psicológicos: Behaviorismo" no 2o semestre de 2015 e no 2o semestre de 2016 (concluído em 2017) no Curso de Psicologia da UFSCar. Inicia-se por uma história interna dos conceitos fundamentais da reflexologia entre os séculos XVIII e XIX, acompanhando a formação do behaviorismo por Watson no século XX. Também são exploradas diversas vertentes, como as de Thorndike, Hull, Tolman e finalmente o behaviorismo radical de Skinner. Apresentamos o conceito de "condicionamento operante" como uma ruptura epistemológica com relação ao behaviorismo metodológico de Watson. Por fim, são abordadas consequências ético-políticas do behaviorismo e sua dimensão social.
CANGUILHEM, Georges. [1949] “Hegel en France”. IN: Revue d´histoire et
de philosophie religieuses2, vol. 28-29, nr. 4, 1948-1949, p. 282-297.
CANGUILHEM, Georges [1971] « De la science et de la contre-science » IN:
Hommage à Jean Hyppolite. « Épiméthée », Paris: PUF, 1971, p. 173-180.
"A decadência da ideia de progresso" por Georges Canguilhem

IN: CANGUILHEM, Georges [1987] « La décadence de l´idée de progrès ». Paris: Revue de métaphysique et de morale, vol. 92, n° 4, 1987, p. 437-454.
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O presente estudo tem como objetivo analisar o terreiro de São Sebastião (Oxóssi), dirigido por Mãe Bena, localizado no município de Parintins/AM, a partir de uma abordagem sociocultural que destaca a pluralidade e a singularidade das... more
O presente estudo tem como objetivo analisar o terreiro de São Sebastião (Oxóssi),
dirigido por Mãe Bena, localizado no município de Parintins/AM, a partir de uma
abordagem sociocultural que destaca a pluralidade e a singularidade das práticas de
resistência presentes nesse espaço. Considerando a importância histórica desse
patrimônio cultural e religioso, o texto busca valorizar os sujeitos que colaboraram para
sua formação social, destacando o papel desse ambiente como emissor de valores
simbólicos para a sociedade contemporânea. O terreiro de São Sebastião (Oxóssi) é um
espaço regido por símbolos históricos, capazes de criar e recriar significados para seus
adeptos, que contribuem para a permanência das práticas umbandistas em Parintins.
Nesse sentido, a análise sociocultural proposta busca compreender a dinâmica social,
cultural e espacial que se configura nesse ambiente, bem como as estratégias de
resistência adotadas pelos praticantes da Umbanda, que buscam preservar suas tradições
e crenças diante das pressões sociais e políticas que enfrentam, numa relação entre
resistência e história (TRAMONTE, 2014).