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Roberto Marques e Isadora Lins França propõem uma genealogia do cafuçu, associada ao racismo que é marca de origem do Estado nacional brasileiro. Descrevem o cafuçu como “usualmente vinculado a corpos avaliados por terceiros como carentes... more
Roberto Marques e Isadora Lins França propõem uma
genealogia do cafuçu, associada ao racismo que é marca de origem do
Estado nacional brasileiro. Descrevem o cafuçu como “usualmente vinculado a corpos avaliados por terceiros como carentes de distinção, subalternizados entre convenções e estratégias narrativas que atribuem ao cafuçu uma sensualidade (mais) primitiva em meio a repertórios coloniais de diferenciação, violência e desejo”. Marques e França também comparam o cafuçu com os camponeses celibatários descritos por Bourdieu, uma vez que o cafuçu “exibiria características e gestos acintosamente relacionados a um mundo que foi ou deveria ser deixado para trás”. O  cafuçu, pela sua “origem rural e o modo de
trabalho a ela vinculada como algo primitivo, pouco rentável e degradante
[...] não possuiria os recursos necessários para acessar os bens e prazeres que almeja [...]”. Ao mesmo tempo, os cafuçus também são apresentados e valorizados como objetos de desejo e de consumo alheio. Assim, muitos deles terminam por gerar valor de compra ao deixarem-se consumir em um arranjo de trocas monetárias e sexuais.
A partir de breve contextualização sobre a definição do projeto democrático e as condições necessárias para sua institucionalização, discute-se em que medida a crítica decolonial pode apontar desafios contemporâneos para o ideal de... more
A partir de breve contextualização sobre a definição do projeto democrático e as condições necessárias para sua institucionalização, discute-se em que medida a crítica decolonial pode apontar desafios contemporâneos para o ideal de participação política. Para isso, realiza-se um breve apanhado sobre a crítica pós-colonial e decolonial. A percepção da circulação de corpos marcados pela diáspora, expressos por marcadores de raça e gênero, em relações de subalternização herdadas da experiência colonial apontam a necessidade de pulverizar a ideia de nação e outros significantes abstratos capazes de invisibilizar experiências locais. Se levado à sério, esse desafio pode vir a adensar questões referentes a participação política de sujeitos até agora invisibilizados no projeto democráticos e suas categorias generalizantes.
Fruto de pesquisas na área de Antropologia, os artigos reunidos em Etnobiografia – subjetivação e etnografia pretendem demonstrar o alcance e as tensões da reflexão etnográfica a partir da abordagem biográfica. Ao abrir espaço para a... more
Fruto de pesquisas na área de Antropologia, os artigos reunidos em Etnobiografia – subjetivação e etnografia pretendem demonstrar o alcance e as tensões da reflexão etnográfica a partir da abordagem biográfica. Ao abrir espaço para a individualidade ou a imaginação pessoal criativa, o conceito de etnobiografia propõe, necessariamente, uma problematização dos conceitos-chave do pensamento sociológico clássico; o individual e o coletivo, o sujeito e a cultura. O indivíduo passa a ser pensado a partir de sua potência de individuação enquanto manifestação criativa, pois é justamente através dessa interpretação pessoal que as ideias culturais se precipitam e tem-se acesso à cultura. Os artigos aqui reunidos refletem, página a página, sobre a ideia de que o indivíduo não é simplesmente a manifestação da representação coletiva, e que os mundos socioculturais são produção dos indivíduos que deles fazem parte.
Este artigo discute as normas e os limites estabelecidos na vivência da população LGBT privados de liberdade no Ceará. Ressalta relações de poder e hierarquia baseadas em marcadores de gênero e sexualidade expressos por esses atores em... more
Este artigo discute as normas e os limites estabelecidos na vivência da população LGBT privados de liberdade no Ceará. Ressalta relações de poder e hierarquia baseadas em marcadores de gênero e sexualidade expressos por esses atores em suas relações entre si, com outros presos, visitantes, profissionais e facções. A necessidade de negociação com mediadores de distintas naturezas, no cotidiano prisional, vem impondo dinâmicas dramáticas às pessoas LGBT. Assim, marcações de sexualidade ganham destaque a partir do lugar que a diferença ocupa nas relações sexual-afetivas estabelecidas nas fronteiras entre o dentro e o fora da prisão.
Este artigo discute as fronteiras da prisão definidas nos pontos de verificações que controlam os fluxos e circulações de pessoas, objetos e informações. A partir das performances e narrativas que estabelecem porosidades entre o dentro e... more
Este artigo discute as fronteiras da prisão definidas nos pontos de verificações que controlam os fluxos e circulações de pessoas, objetos e informações. A partir das performances e narrativas que estabelecem porosidades entre o dentro e fora das prisões, discutimos processos de Estado dispostos nas regras, normas e regulamentos que se desenrolam na exigência de documentações, revistas e vistorias de corpos e materiais, atravessados por marcadores de diferenças de gênero, sexualidade e classe. Fontes de dados e metodologias alternativas permitem-nos pensar as fronteiras do Estado como performance de composição do Estado e produção de subjetividade das pessoas por ela implicadas. Palavras-chave: Prisões. Fronteiras. Processos de Estado. Gênero.
Entre os anos de 2017 e 2018, no centro comercial da cidade de Crato- CE, um dos espaços destinados ao comércio popular local passou por uma reforma que modificou sua infraestrutura. Finda a reforma, o antigo “Camelódromo” passou a ser... more
Entre os anos de 2017 e 2018, no centro comercial da cidade de Crato- CE, um dos espaços destinados ao comércio popular local passou por uma reforma que modificou sua infraestrutura. Finda a reforma, o antigo “Camelódromo” passou a ser designado pelas autoridades locais responsáveis pela reforma, pelo público e pelas trabalhadoras daquele espaço como “Shopping Popular”. A partir de observação flutuante, presença contínua no local após a reforma e entrevistas semiestruturadas, intentamos compreender a percepção das trabalhadoras permissionários do “Shopping Popular de Crato” sobre as modificações ocorridas. Dialogamos com lideranças da Associação de Comerciantes Informais do Crato (ACIC) e permissionários associados, ao mesmo tempo em que vivenciamos o cotidiano deste mercado público. Os resultados indicam os novos trânsitos e projetos de bem-estar materializados em novas formas de interação e nomeação desse espaço comercial. Apontam ainda a necessidade de estudos mais aprofundados sobre as lideranças populares que mediaram os conflitos entre o poder público e os permissionários. É possível ainda perceber com imaginários espaciais presentes no Cariri cearense ordenam as formas de organização dos espaços populares e demandas de consumo, associando-os a modelos presentes nas grandes cidades brasileiras.
A partir de breve contextualização sobre a definição do projeto democrático, democracia e as condições necessárias para sua institucionalização, discute-se em que medida a crítica decolonial pode apontar desafios contemporâneos para o... more
A partir de breve contextualização sobre a definição do projeto democrático, democracia e as condições necessárias para sua institucionalização, discute-se em que medida a crítica decolonial pode apontar desafios contemporâneos para o ideal de participação política. Para isso, realiza-se um breve apanhado sobre a crítica pós-colonial e decolonial. A percepção da circulação de corpos marcados pela diáspora, expressos por marcadores de raça e gênero em relações de subalternização herdadas da experiência colonial, aponta a necessidade de pulverizar a ideia de nação e outros significantes abstratos, capazes de invisibilizar experiências locais. Se levado a sério, esse desafio pode vir a adensar questões referentes a participação política de sujeitos até agora invisibilizados no projeto democrático e suas categorias generalizantes.
This article analyzes experiences of individuals in urban realities that are not classified as big cities or metropolis of the country according to Néstor Perlongher. From the researches done in contexts of displacement between cities in... more
This article analyzes experiences of individuals in urban realities that are not classified as big cities or metropolis of the country according to Néstor Perlongher. From the researches done in contexts of displacement between cities in different scales, border areas and tensions between different moralities, Perlongher's work enables making analyzes of complex spatialities in contemporary Brazil. The emphasys in personal tellings, mobility and drift, subjects applied by him, help us to notice the range and the present of his work.
Entrevista com Peter Fry, Edward McRae e Adriana Piscitelli sobre o poeta e antropólogo argentino Néstor Perlongher, a antropologia urbana nos anos 1980, a recepção de Deleuze no Brasil , militância e as redes instituídas pelos encontros... more
Entrevista com Peter Fry, Edward McRae e Adriana Piscitelli sobre o poeta e antropólogo argentino Néstor Perlongher, a antropologia urbana nos anos 1980, a recepção de Deleuze no Brasil , militância e as redes instituídas pelos encontros entre eles e ela.
Apresentação do Dossiê Nestor Perlongher: memórias, poéticas e espacialidades desejantes.
Throughout his forty-year career as singer and activist, on countless occasions, João do Crato has employed the fact of being out of place. He was a rock singer in the interior of Ceará in the 1970s and 80s. He usually presents an... more
Throughout his forty-year career as singer and activist, on countless occasions, João do Crato has employed the fact of being out of place. He was a rock singer in the interior of Ceará in the 1970s and 80s. He usually presents an exaggeratedly sinuous gender performativity for peripheral neighbourhoods where he militates and performs his music. He moves freely between diverse groups of popular culture and manifestations that embody the cultures of African matrices, in the region of Cariri, Ceará. This research examines João do Crato’s narratives and support from fellow activists to reflect on displacements concerning the reception of social markers expressed by the artist. The continuous action engaged in from the stage distinguishes João’s trajector y as na expressive form of lived experiences in the interior of Ceará, while modulating stereotypes concerning the immobility of an authentic popular culture and the immutability of oppositions between male and female in rural and peripheral areas. By treating the rural world and popular culture as scenarios of differences, João enhances the recognition of a place for himself and his audience based on the displacements he provokes.authentic popular culture and the immutability
of oppositions between male and female in rural and peripheral areas. By treating the
rural world and popular culture as scenarios o dierences, João enhances the recognition of a place for himself and his audience based on the displacements he provokes.
Ao longo dos quarenta anos de percurso como cantor e ativista, João do Crato valeu-se inúmeras vezes do fato de estar fora do lugar: foi cantor de rock no interior do Ceará nas décadas de 1970 e 1980; sustenta uma performatividade de... more
Ao longo dos quarenta anos de percurso como cantor e ativista, João do Crato valeu-se inúmeras vezes do fato de estar fora do lugar: foi cantor de rock no interior do Ceará nas décadas de 1970 e 1980; sustenta uma performatividade de gênero excessivamente sinuosa para os bairros periféricos onde se apresenta e milita; consegue transitar livremente entre grupos diversos de cultura popular e manifestações próximas às culturas de matrizes africanas na região do Cariri (CE). Apoiados em narrativas do cantor e companheiros(as) de militância, refletiremos sobre deslocamentos efetuados em torno da recepção de marcadores sociais expressos pelo artista. A ação contínua empreendida a partir dos palcos notabiliza a trajetória de João como forma expressiva das vivências no interior do Ceará, ao tempo que modula estereótipos sobre a imobilidade de uma cultura popular autêntica e fixidez das oposições entre masculino e feminino em áreas rurais e periféricas. Ao tratar mundo rural e cultura popular como cenários de diferenças, João potencializa o reconhecimento de um lugar para si e para seu público a partir dos deslocamentos que provoca.
O conjunto de artigos enfeixados neste número temático pretende apresentar experiências de cunho eminentemente etnográfico capazes de expressar desdobramentos recentes ocorridos na produção brasileira acerca da relação entre sexualidade,... more
O conjunto de artigos enfeixados neste número temático pretende apresentar experiências de cunho eminentemente etnográfico capazes de expressar desdobramentos recentes ocorridos na produção brasileira acerca da relação entre sexualidade, deslocamentos e experiências localizadas em distintas escalas.
Especialmente no que diz respeito às pesquisas que envolvem gênero, sexualidade e outros marcadores sociais da diferença, os deslocamentos provocados pelas reflexões a partir de contextos que não aqueles consagrados pela literatura – os grandes centros urbanos, as capitais e as metrópoles – ensejam questionar alguns lugares-comuns recorrentes, tais como a perspectiva de que a realização plena da sexualidade estaria distante das cidades de origem desses sujeitos, ali percebidos como diferentes, “outros”, impertinentes. Como se experiências afetivo-sexuais deslocadas das cisheteronormatividades só fossem possíveis em contextos cosmopolitas e metropolitanos.
Este artigo discute as normas e os limites estabelecidos na vivência da população LGBT privados de liberdade no Ceará. Ressalta relações de poder e hierarquia baseadas em marcadores de gênero e sexualidade expressos por esses atores em... more
Este artigo discute as normas e os limites estabelecidos na vivência da população LGBT privados de liberdade no Ceará. Ressalta relações de poder e hierarquia baseadas em marcadores de gênero e sexualidade expressos por esses atores em suas relações entre si, com outros presos, visitantes, profissionais e facções. A necessidade de negociação com mediadores de distintas naturezas, no cotidiano prisional, vem impondo dinâmicas dramáticas às pessoas LGBT. Assim, marcações de sexualidade ganham destaque a partir do lugar que a diferença ocupa nas relações sexual-afetivas estabelecidas nas fronteiras entre o dentro e o fora da prisão.
Cariri remete a uma comarca, conjunto territorial-estético-cultural e geopolítico que os mapas e ações político-institucionais associam aos estados de Ceará, Paraíba, Piauí e Pernambuco no Brasil. Esse conjunto complexo e multifacetado, a... more
Cariri remete a uma comarca, conjunto territorial-estético-cultural e geopolítico que os mapas e ações político-institucionais associam aos estados de Ceará, Paraíba, Piauí e Pernambuco no Brasil. Esse conjunto complexo e multifacetado, a partir de um nome que articula e distingue um espaço, vem sendo tecido e atravessado por diferentes narrativas que ora o concebem como diferença, ora disputam sua legitimidade, produzindo relações, cisões, hierarquias, formas de vida, artes, distinções e laços sociais. Os contínuos deslocamentos na significação desse cronotropo mostram a complexidade das alianças e as disputas em torno de sua dizibilidade e seus apagamentos. Inventado e reinventado à luz da ideia de tradição, Cariri advém como significante descentrado que conota inúmeros trânsitos, romarias, quilombos, religiosidades, etnias, sítios geológicos, fontes de água subterrâneas e outros arquivos de patrimônios materiais e imateriais, compondo afetos, tensões socioculturais e artísticas com repercussões econômicas, filosóficas, étnico-raciais, teológicas e políticas no cotidiano da diversidade de populações que por ali transitam e habitam. APRESENTAÇÃO DO DOSSIÊ TEMÁTICO Cultura(s) do(s) Cariri(s): artes e f ilosof ias, trânsitos e diversidade: polifonia do Nordeste como profusão da diversidade
Cariri remete a uma comarca, conjunto territorial-estético-cultural e geopolítico que os mapas e ações político-institucionais associam aos estados de Ceará, Paraíba, Piauí e Pernambuco no Brasil. Esse conjunto complexo e multifacetado, a... more
Cariri remete a uma comarca, conjunto territorial-estético-cultural e geopolítico que os mapas e ações político-institucionais associam aos estados de Ceará, Paraíba, Piauí e Pernambuco no Brasil. Esse conjunto complexo e multifacetado, a partir de um nome que articula e distingue um espaço, vem sendo tecido e atravessado por diferentes narrativas que ora o concebem como diferença, ora disputam sua legitimidade, produzindo relações, cisões, hierarquias, formas de vida, artes, distinções e laços sociais. Os contínuos deslocamentos na significação desse cronotropo mostram a complexidade das alianças e as disputas em torno de sua dizibilidade e seus apagamentos. Inventado e reinventado à luz da ideia de tradição, Cariri advém como significante descentrado que conota inúmeros trânsitos, romarias, quilombos, religiosidades, etnias, sítios geológicos, fontes de água subterrâneas e outros arquivos de patrimônios materiais e imateriais, compondo afetos, tensões socioculturais e artísticas com repercussões econômicas, filosóficas, étnico-raciais, teológicas e políticas no cotidiano da diversidade de populações que por ali transitam e habitam.
Nos últimos 06 anos, um conjunto de movimentos sociais relacionados a questões de gênero, sexualidade, liberdade religiosa e raça passou a compor a Frente de Mulheres dos Movimentos do Cariri. Essa coalizão de coletivos formada por... more
Nos últimos 06 anos, um conjunto de movimentos sociais relacionados a questões de gênero, sexualidade, liberdade religiosa e raça passou a compor a Frente de Mulheres dos Movimentos do Cariri. Essa coalizão de coletivos formada por participantes com trajetórias de lutas e pertenças bastante diversas possibilitou uma comunicação mais ágil entre grupos, conferindo maior efetividade e organicidade para movimentos sociais da região. Ao mesmo tempo, a busca de uma linguagem comum muitas vezes explicita especificidades das trajetórias ali articuladas. O assassinato de mulheres ocorrido entre os anos de 2001 e 2003 no Cariri fez com que a gramática da Frente estivesse associada a questões de violência, letal ou não, contra a mulher. Compreensões nativas de “movimento de mulheres” e “movimento feminista”, bem como a participação bastante diversa de algumas protagonistas no ensino superior torna problemática a localização da Frente a questões relacionadas a corpo e gênero, complexificando a possibilidade de referências comuns na literatura feminista. Essa pesquisa refletirá sobre uma dessas tensões: a participação de homens gays e trans na Frente. Através de entrevistas com militantes LGBT e homens trans, problematizaremos como questões relacionadas a diferentes formas de perceber a participação masculina em movimentos de mulheres e feministas localiza esses militantes na Frente.
A partir da tensão ocasionada pela presença e reivindicações de um coletivo de mulheres durante o cortejo de grupos populares na Festa de Santo Antônio em Barbalha (CE), reflete-se sobre diferentes narrativas que tomam forma pelo conflito... more
A partir da tensão ocasionada pela presença e reivindicações de um coletivo de mulheres durante o cortejo de grupos populares na Festa de Santo Antônio em Barbalha (CE), reflete-se sobre diferentes narrativas que tomam forma pelo conflito social. Ali, distintos agentes da festa e na festa disputam a legitimidade em ocupar a rua. A partir dessa disputa, revelam-se dizibilidades sobre o Nordeste da cana de açúcar, culturas populares, memória local, patrimônio e a vida das mulheres da região. Observar essas questões a partir da festa, permite-nos acompanhar a dinâmica e persistência de conflitos sociais que localizam a sociedade brasileira, impondo formas de institucionalização e subjetivação socialmente localizadas.
A partir de pesquisa etnográfica desenvolvida em uma localidade de pequeno porte no interior do Ceará, pensamos as noções de diferença, interseccionalidade, sociabilidades e espacialidades ali vivenciadas. As cenas etnográficas... more
A partir de pesquisa etnográfica desenvolvida em uma localidade de pequeno porte no interior do Ceará, pensamos as noções de diferença, interseccionalidade, sociabilidades e espacialidades ali vivenciadas. As cenas etnográficas apresentadas centram-se em ambientes tais como instaurados pela música funk, que reverbera das caixas de som acopladas a automóveis nos finais de semana. Nesses cenários, arranjos erótico-sexuais não heterossexuais; circulação de corpos marginalizados e do ritmo usualmente associado a ambientes urbanos deslocam compreensões de identificação, pertença e liberdade. Música, drogas recreativas e arranjos eróticos criativos parecem guiar os jovens ali presentes na imaginação de novos lugares para si, distantes da imagética usual sobre comunidade, localidade e mundo rural. PALAVRAS-CHAVE: Paredões de som. (homo)sociabilidades. interseccionalidade. Cidades de pequeno porte.
O artigo analisa disjunções e conjunções existentes entre as ações dos feminismos no Cariri e o imaginário espacial que modula a patrimonialização da Festa do Pau de Bandeira de Santo Antônio, na cidade de Barbalha (CE). No ano de 2019,... more
O artigo analisa disjunções e conjunções existentes entre as ações dos feminismos no Cariri e o imaginário espacial que modula a patrimonialização da Festa do Pau de Bandeira de Santo Antônio, na cidade de Barbalha (CE). No ano de 2019, durante o cortejo de grupos de cultura popular que antecede a Festa do Pau da Bandeira, aconteceu a sexta Marcha das Mulheres. Ao longo do percurso, participantes da marcha foram continuamente interpeladas por representantes da organização institucional da Festa. A ação dos organizadores acionava formas de localização do movimento de mulheres, uma compreensão nativa dos debates sobre gênero e sobre a cultura popular naquela manifestação. Pensamos a expressão desse conflito social como disputa entre diferentes projetos para a região do Cariri cearense, para os debates sobre gênero e para a vida das mulheres na região. A patrimonialização da Festa e seus personagens acessam uma romantização do mundo rural incompatível com a denúncia da morte de mulheres na região do Cariri pelos feminismos locais, embora ambas as narrativas estejam conectadas à ideia de um Brasil rural, atávico, distante da cidadania e urbanidade. As fricções ocorridas na Festa de Santo Antônio relembram, portanto, imagens que circulam em momentos em que grupos à margem do imaginário nacional brasileiro empunham símbolos diacríticos das ideias de participação política e memória nacional. Tensões acessadas como clichês de uma utopia generalizante de abrigo à diversidade de demandas compostas pela e para a nação.
Este artigo discute as normas e os limites estabelecidos na vivência da população LGBT privados de liberdade no Ceará. Ressalta relações de poder e hierarquia baseadas em marcadores de gênero e sexualidade expressos por esses atores em... more
Este artigo discute as normas e os limites estabelecidos na vivência da população LGBT privados de liberdade no Ceará. Ressalta relações de poder e hierarquia baseadas em marcadores de gênero e sexualidade expressos por esses atores em suas relações entre si, com outros presos, visitantes, profissionais e facções. A necessidade de negociação com mediadores de distintas naturezas, no cotidiano prisional, vem impondo dinâmicas dramáticas às pessoas LGBT. Assim, marcações de sexualidade ganham destaque a partir do lugar que a diferença ocupa nas relações sexual-afetivas estabelecidas nas fronteiras entre o dentro e o fora da prisão.
LGBT Relations and Relationships in Male Prison: Between Standards and Limits from Inside and Out of Prison discusses the norms and limits established in the experience of the LGBT population deprived of freedom in Ceará. It emphasizes power and hierarchy relationships based on gender and sexuality markers expressed by these actors in their relations with each other, with other prisoners, visitors, professionals and factions. The need for negotiation with mediators of different natures in daily prison has been imposing dramatic dynamics on LGBT people. Thus, sexuality markings gain prominence from the place that difference occupies in sexual-affective relationships established on the borders between inside and outside the prison. Palavras-chave: população LGBT, diferença, sexualidade, prisão, relações de poder/ hierarquia
Paisagens musicais nas festas de forró eletrônico: pensando sobre as representações sonoras faz uma etnografia das festas de forró eletrônico no Cariri, procurando perceber diferentes maneiras de apropriação do típico como forma de... more
Paisagens musicais nas festas de forró eletrônico: pensando sobre as representações sonoras faz uma etnografia das festas de forró eletrônico no Cariri, procurando perceber diferentes maneiras de apropriação do típico como forma de representação e apresentação de si aos outros. Em dissonância à referência do forró como dança de pares em uma paisagem marcada pela tradição e pessoalidade, mostra como sua prática contemporânea como espetáculo possibilita a incorporação criativa de diferentes projetos pelos sujeitos ali presentes, tecidos a partir de citações comumente associadas ao mundo urbano. A livre apropriação e confluência de ritmos, as formas criativas de mediação do contato e limites entre os jovens que frequentam essas festas para um grande público apontam antes para uma possibilidade de articular horizontes para além das relações face a face, em uma gestão bastante particular do anonimato pela corporificação de espaços supostamente antagônicos ao mundo rural.
Contribuindo com o debate sobre Direitos Humanos como forma legítima de atingir uma sociedade menos desigual, recorremos a temas clássicos da antropologia para demonstrar que a noção romantizada de humanos na expressão Direitos Humanos... more
Contribuindo com o debate sobre Direitos Humanos como forma legítima de atingir uma sociedade menos desigual, recorremos a temas clássicos da antropologia para demonstrar que a noção romantizada de humanos na expressão Direitos Humanos confere uma face de atraso aos grupos periféricos e distante das áreas urbanizadas da cidade. Essa sobreposição trata grupos marcados por gênero, sexualidade, origem social e etnia dissidentes como comunidades passivas, destituídas de riqueza cultural ou agentes à espera da ação do Estado. Por fim, esboçamos uma agenda que auxilia a complexificação do discurso sobre Direitos Humanos a partir do reconhecimento de múltiplas cosmografias e lideranças em diferentes formas de agenciar os mundos. Pensar Direitos Humanos nesses termos é pensar outras formas de mediação do humano que não apenas sob o ponto de vista do Estado.
Resumo Este artigo discute as fronteiras da prisão definidas nos pontos de verificações que controlam os fluxos e circulações de pessoas, objetos e informações. A partir das performances e narrativas que estabelecem porosidades entre o... more
Resumo Este artigo discute as fronteiras da prisão definidas nos pontos de verificações que controlam os fluxos e circulações de pessoas, objetos e informações. A partir das performances e narrativas que estabelecem porosidades entre o dentro e fora das prisões, discutimos processos de Estado dispostos nas regras, normas e regulamentos que se desenrolam na exigência de documentações, revistas e vistorias de corpos e materiais, atravessados por marcadores de diferenças de gênero, sexualidade e classe. Fontes de dados e metodologias alternativas permitem-nos pensar as fronteiras do Estado como performance de composição do Estado e produção de subjetividade das pessoas por ela implicadas. Palavras-chave: Prisões. Fronteiras. Processos de Estado. Gênero. Abstract This article is concerned with the boundaries between the inside and the outside of prisons. It is part of a broader ethnographic research on the imprisonment of transvestites in Ceará. Here, observing the porosities of prison, we address the boundaries defined in the checkpoints that control the flows and movements of people, objects, and information. Therefore, we intend to discuss the processes of state crossed by social markers of difference-such as gender, sexuality, and class-and embedded in the rules, norms, and regulations deployed in the requirement of documentation, searches, and inspections of bodies and materials. Alternative sources and methodologies allow us to think of the borders of the state as performances of composition of the state and understand the production of subjectivity of the people involved in that process. Introdução As fronteiras, cada vez mais borradas, entre o prisional e o urbano têm tensionado o paradigma clássico de pensar as prisões como "instituições totais" (GOFFMAN, 1987). A perspectiva que se empenha em verificar a potencialidade analítica de pensar a continuidade entre o dentro e fora das instituições prisionais destaca as variadas formas de conexão presentes nos fluxos penitenciários (GODOI, 2015b); na porosidade econômica e administrativa (CUNHA, 2008); no trânsito incessante de corpos entre as muralhas e o mundão (MALLART; RUI, 2017); nas ligações atravessadas por redes afetivas e relações de ajudas que permeiam as prisões (PADOVANI, 2018). A variedade de conexões citadas é acompanhada de perto por processos de gestão das circulações, materializados em diversos pontos de verificação e controle de entrada e saída de pessoas, objetos e informações.
A partir de depoimentos de jovens artistas da década de 1980, trata-se da variedade de projetos existentes na cidade de Crato, no interior do Ceará após os anos 70. Ali, relações políticas, ideais de comportamento e sexualidade,... more
A partir de depoimentos de jovens artistas da década de 1980, trata-se da variedade de projetos existentes na cidade de Crato, no interior do Ceará após os anos 70. Ali, relações políticas, ideais de comportamento e sexualidade, inspirações estéticas tensionam a oposição entre rural e urbano materializada em jornais, músicas, peças de teatro inspiradas na contracultura.
Based on ethnographic material collected at Forró Electrônico dance parties in the Cariri region of Northeast Brazil, I try to perceive different ways of appropriating tradition as a means of representing and presenting our identities to... more
Based on ethnographic material collected at Forró Electrônico
dance parties in the Cariri region of Northeast Brazil, I try to
perceive different ways of appropriating tradition as a means of
representing and presenting our identities to others. Key texts in
the Social Sciences cite parties and spatialities as models of
structured spaces. From this perspective, forró has been
represented as a couples dance in a landscape marked by tradition and intimacy. I show that the contemporary practice of forró
as spectacle allows creative incorporation of different projects
by those present, inspired by citationalities and mimeses
commonly associated with the urban world. This complex
model, communicated at the parties, has as tropes the ideas of
"woman-drink-agency". At the same time, the participants
benefit from the unexpected and from zones of light and shadow
to insinuate the possibility of creating characters for themselves
in the saturated space of that dance party. Forró eletrônico also
associates, by opposition and irony, the ideas of tradition and
rurality, founders of the idea of the Brazilian Northeast, inviting
the production of new spatial presentations based on urbanity,
youth and anonymity.
RESUMEN Entre las décadas de 1940 y 1950, el forró de Luiz Gonzaga divulgó la sensibilidad modernista de la relación entre desarrollo económico, mundo rural y migración. Esta relación objetivó el Nordeste como espacio y a los nordestinos... more
RESUMEN Entre las décadas de 1940 y 1950, el forró de Luiz Gonzaga divulgó la sensibilidad modernista de la relación entre desarrollo económico, mundo rural y migración. Esta relación objetivó el Nordeste como espacio y a los nordestinos como hijos identificados con las márgenes del Brasil en cuanto nación. Cinco décadas después una variación del ritmo musical es difundida por nuevos canales de distribución de signos. Las imágenes asociadas con la tradición ceden espacio a un ritmo pop, acompañado por guitarras eléctricas, pantallas de LCD, reflectores y humo de hielo seco. El forró electrónico busca en la tecnología imágenes de transformación del ritmo. En el público, por su parte, las tecnologías de producción de selves articulan el espacio de los conciertos de forma creativa, insinuando la posibilidad de ser y poseer aquello que extrapola los límites de los lugares de origen. En esos cálculos complejos entre espacio, ritmo, tecnología y bienes de consumo los cuerpos femeninos actúan como señales diacríticas para evidenciar las posibilidades de tránsito de los sujetos.
Esse artigo problematiza a textualização da região do Cariri (CE) a partir das narrativas e performances do artista e militante João do Crato. Ao tempo que lança luzes sobre os deslocamentos de tempos e espaços que produzem novas formas... more
Esse artigo problematiza a textualização da região do Cariri (CE)
a partir das narrativas e performances do artista e militante João
do Crato. Ao tempo que lança luzes sobre os deslocamentos de
tempos e espaços que produzem novas formas de compor lugares e sujeitos no interior do Ceará, tenta-se indicar perspectivas
metodológicas de usos das narrativas em antropologia. A partir
do palco, demonstra-se como João do Crato cria um lugar para si
como diferença e um lugar de diferença habitável por seu público
e companheiros e companheiras de militância política.
Avaliação da relação entre as ciências sociais e os espaços que lhes inspiram. Levantamento sobre a produção do campo na cidade de Juazeiro do Norte. Bibliografia relevante para estudo da cidade.
Research Interests:
Considerando a renovação da produção cultural ocorrida na cidade de Crato nas décadas de 1970, o presente artigo discute a importância da história oral na cartografia de identificações cada vez mais fugazes e desprendidas da relação face... more
Considerando a renovação da produção cultural ocorrida na cidade de Crato nas décadas de 1970, o presente artigo discute a importância da história oral na cartografia de identificações cada vez mais fugazes e desprendidas da relação face a face. Nessa relação fecunda entre signos da tradição e o desejo de estar em dia com a produção cultural nacional , como pensar a memória local? Como dar visibilidade à diferença , sempre marcante nas falas sobre o Cariri cearense? Que lugar ocupam os guardiães da memória nesses jogos de atravessamento tipicamente modernos?
Research Interests:
Resumo: A partir de uma breve revisão sobre a relação dos campos de História das mulheres e Estudos de gênero, tentamos entrecruzar as contribuições de Joan Scott e James Clifford para pensar como alegorias do masculino implicam... more
Resumo: A partir de uma breve revisão sobre a relação dos campos de História das mulheres e Estudos de gênero, tentamos entrecruzar as contribuições de Joan Scott e James Clifford para pensar como alegorias do masculino implicam inelutavelmente uma construção sobre o espaço, a partir de instituições que consolidam e divulgam imagens sobre a diferença masculino-feminino. O alcance desse raciocínio é testado a partir da reflexão sobre alegorias do masculino no Cariri cearense partindo de três instituições específicas: artigos jornalísticos sobre um conjunto de assassinatos de mulheres ocorridos entre os anos de 2001 e 2003; as festas de forró eletrônico e dados levantados junto as Delegacias da Mulher na região. Nos três conjuntos de fontes, são evidenciadas imagens complexas do homem e do espaço, a partir de alegorias que comunicam a organização social a partir de imagens das diferenças sexuais.
Palavras-Chave: Espaço; Gênero; Alegoria
Research Interests:
O artigo propõe uma aproximação entre duas obras que tematizam o Cariri (CE) entre as décadas de 1960 e 1970: o curta-metragem Os Imaginários, do cineasta baiano Geraldo Sarno e o livro O Folclore no Cariri, do intelectual cratense J. de... more
O artigo propõe uma aproximação entre duas obras que tematizam o Cariri (CE) entre as décadas de 1960 e 1970: o curta-metragem Os Imaginários, do cineasta baiano Geraldo Sarno e o livro O Folclore no Cariri, do intelectual cratense J. de Figueiredo Filho. A partir da descrição e contextualização dos autores e das obras, busca-se perceber o lugar devotado em ambas aos personagens ali apresentados. Tenta-se demonstrar como entre as décadas de 1960 e 1970 a produção simbólica do Cariri como espaço distinto e particular, sob a inspiração do modelo estado-nação, foi conduzida a partir de processos de apagamento dos interlocutores e personagens apresentados nas obras analisadas. A partir de então, são propostos algumas sugestões metodológicas objetivando uma relação dialógica com os interlocutores das pesquisas em Ciências Sociais, a fim de se observar a produção narrativa da região incorporada em seus agentes.

This article approaches two works about the Cariri region (CE) between the 1960s and 1970s: the short film Imaginários, by the film maker from Bahia, Geraldo Sarno, and the book O Folclore no Cariri, written by the intellectual from Crato, J. de Figueiredo Filho. After the description and contextualization of the authors and their works, we seek to realize the place devoted to the characters presented there. We try to demonstrate how between the 1960s and 1970s the symbolic production of Cariri as a distinct and particular space, under the inspiration of the nation-state model, was conducted by erasing the characters presented in the analyzed works. Since then, some methodological suggestions are proposed aiming a dialogical relationship with the interlocutors of research in social sciences in order to observe the production of the region embodied in its agents.
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Resumo: Quarenta anos após o início de sua carreira como cantor, João do Crato ainda transita na região do Cariri(CE) com os cabelos longos em desalinho e roupas exóticas. É identificado com os artistas da geração da década de 1980 e com... more
Resumo: Quarenta anos após o início de sua carreira como cantor, João do Crato ainda transita na região do Cariri(CE) com os cabelos longos em desalinho e roupas exóticas. É identificado com os artistas da geração da década de 1980 e com o movimento de contracultura local. Apresenta-se em shows em centros culturais da região e é um de seus artistas mais respeitados.
João tem desenvolvido militância contínua junto a grupos da cultura popular locais, tais como as mulheres do coco da Batateira, o reisado de mestre Aldenir, o maneiro pau de mestre Cirilo e os penitentes de Barbalha. Milita também com jovens de periferia e cultiva ali encontros musicais como forma de sensibilização desses jovens. Nosso interesse aqui é pensar como se deu a articulação de João a mundos aparentemente distintos, que se comunicam através da agência desse personagem.
Para isso, nos reportaremos às descrições realizadas por ele de suas performances em palco, refletindo sobre como tais narrativas revelam o Cariri e a ele mesmo como personagem e como pessoa nesse mundo em movimento.
A importância das imagens e dos sons na produção contemporânea do Cariri localiza o agente como sujeito na criação de mundos. Intentamos com o presente experimento apresentar João do Crato não como sujeito exemplar no Cariri, tipificando-o, mas como agente da produção do Cariri, uma região que se reapresenta a partir de atos no mundo.
Palavras-chave: Performances e Narrativas; Cariri; Cultura Popular.
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Em sua primeira edição no ano de 2022, a revista O Público e o Privado traz como número temático um relevante e instigante debate para as ciências sociais contemporâneas: a discussão sobre distintas expressões de gênero e sexualidade e... more
Em sua primeira edição no ano de 2022, a revista O Público e o Privado traz como número temático um relevante e instigante debate para as ciências sociais contemporâneas: a discussão sobre distintas expressões de gênero e sexualidade e como trânsitos de corpos a partir de significados expressos e lidos a partir de marcadores sociais da diferença interseccionados materializam sujeitos, localidades, territórios e lugares sociais hierarquizados e distintos para esses sujeitos. Amparados em abordagens eminentemente etnográficas, os artigos enfeixados no Número Temático Sexualidades, localidades e deslocamentos em diferentes escalas, organizado por Roberto Marques (PPGS/UECE); Silvana de Souza Nascimento (USP) e Guilherme Passamani (UFMS), expressam avanços institucionais e teórico-metodológicos inaugurados em meados dos anos 1980, a partir dos estudos de sexualidade nas ciências sociais brasileiras
"Contracultura no Brasil, anos 70: circulação, espaços e sociabilidades" reúne parte da produção acadêmica recente sobre as variadas manifestações da contracultura no Brasil. Partindo de distintas abordagens teórico-metodológicas, algumas... more
"Contracultura no Brasil, anos 70: circulação, espaços e sociabilidades" reúne parte da produção acadêmica recente sobre as variadas manifestações da contracultura no Brasil. Partindo de distintas abordagens teórico-metodológicas, algumas dessas pesquisas têm deslocado seus olhares para compreender as diferentes experiências sociais e culturais que emergiram entre os jovens a partir do final da década de 1960, em pleno regime ditatorial. Trabalhos que procuram fugir do lugar comum e se aprofundam em temáticas pouco ou nada investigadas, no levantamento de fontes inéditas e na diversidade regional. Os textos aqui coligidos buscam analisar experiências coletivas ligadas à contracultura durante os anos 1970, focando suas manifestações em distintos locais do país, seus espaços de sociabilidade e as formas de circulação de seu imaginário.
Períodico Científico - publicação do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri
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Períodico Científico - publicação do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri.
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Luzes, fumaça de gelo seco, guitarras e vozes anasaladas gritando a plenos pulmões! Em “Cariri eletrônico. Paisagens sonoras no Nordeste”, o antropólogo Roberto Marques mostra como as bandas e festas de forró criadas a partir da década de... more
Luzes, fumaça de gelo seco, guitarras e vozes anasaladas gritando a plenos pulmões! Em “Cariri eletrônico. Paisagens sonoras no Nordeste”, o antropólogo Roberto Marques mostra como as bandas e festas de forró criadas a partir da década de 1990 permitem perceber um Nordeste distante dos usuais signos identitários com que fora composto.
Utilizando a potência da música para conectar mundos e observando as agências das grandes festas de forró nas interações entre sujeitos na plateia, o autor nos convida a perceber os jogos de criatividade sobre o masculino, o feminino, o rural e o urbano, a pessoalidade e o anonimato. Aumentado o volume, estouradas as caixas de som, o Nordeste se revela em cores insuspeitas, em uma apropriação performática das metrópoles. Um Cariri eletrônico como zona de contato e criatividade entre sujeitos.
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As expressões da identidade nordestina, a partir da década de 1990, não podem mais ser pensadas como epifenômenos de uma realidade que lhes antecede e que lhes dá sentido. Portanto, a literatura; a música; as charges; as artes visuais... more
As expressões da identidade nordestina, a partir da década de 1990, não podem mais ser pensadas como epifenômenos de uma realidade que lhes antecede e que lhes dá sentido. Portanto, a literatura; a música; as charges; as artes visuais devem ser vistas como imagens que encarnam, expressam, revelam e deslocam sentidos em em si mesmas.
Na experiência brasileira, o Nordeste é o exemplo mais visível desse entrecruzamento entre espacialidades, identidades, sensibilidade e suas formas expressivas.
Afinal, instituir a modernidade do Brasil é criar uma dizibilidade ordenada sobre o Nordeste, margem exemplar da nação. Como nos ensina Albuquerque Jr. (1999): “O Nordeste é um engenho anti-moderno”  e essa criação do Brasil a partir da instituição do Outro justifica as inúmeras caravanas que avançaram e avançam pela região em busca de imagens do Brasil. Possivelmente não para fazer um país mais próximo às expressões de seu povo, mas , ao contrário, para fazer e dizer o povo como uma imagem da margem desse país.
O conjunto de textos reunidos nessa coletânea de artigos é indubitavelmente herdeiro dessa tradição. Em cada um deles está presente o desafio de pensar as forças expressivas das margens, a dificuldade de pontuar origens quando os canais de distribuição e recepção são múltiplos e desordenados.
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Fruto de pesquisas na área de Antropologia, os artigos reunidos em Etnobiografia – subjetivação e etnografia pretendem demonstrar o alcance e as tensões da reflexão etnográfica a partir da abordagem biográfica. Ao abrir espaço para a... more
Fruto de pesquisas na área de Antropologia, os artigos reunidos em Etnobiografia – subjetivação e etnografia pretendem demonstrar o alcance e as tensões da reflexão etnográfica a partir da abordagem biográfica. Ao abrir espaço para a individualidade ou a imaginação pessoal criativa, o conceito de etnobiografia propõe, necessariamente, uma problematização dos conceitos-chave do pensamento sociológico clássico; o individual e o coletivo, o sujeito e a cultura. O indivíduo passa a ser pensado a partir de sua potência de individuação enquanto manifestação criativa, pois é justamente através dessa interpretação pessoal que as ideias culturais se precipitam e tem-se acesso à cultura. Os artigos aqui reunidos refletem, página a página, sobre a ideia de que o indivíduo não é simplesmente a manifestação da representação coletiva, e que os mundos socioculturais são produção dos indivíduos que deles fazem parte.
O presente estudo se detém sobre os movimentos artístico-culturais ocorridos na cidade do Crato, no Ceará, durante as décadas de 70 e 80. A partir da análise de fontes orais e de material de divulgação da época, procurou-se deslocar o... more
O presente estudo se detém sobre os movimentos artístico-culturais ocorridos na cidade do Crato, no Ceará, durante as décadas de 70 e 80. A partir da análise de fontes orais e de material de divulgação da época, procurou-se deslocar o eixo tradicional das ideias fundantes sobre a região do Cariri, tentando analisá-la sob a ótica da multiplicidade e do devir. Nesse percurso, o conceito de memória tornou-se um importante aliado, sobretudo no que diz respeito à capacidade de perceber as ideias de tradição e modernidade de forma adjetiva, em um patente exercício de auto-invenção da região pelos artistas ora enfocados. Os entrevistados identificavam-se com a ideia de 'marginalidade', ao tempo em que valorizavam os movimentos de juventude característicos da época. Por outro lado, informados por uma geração de intelectuais locais que lhes antecedeu, não abandonaram o telurismo e o apego às ideias de passado e tradição. Assim, a partir dos depoimentos, este livro mostra como ideias aparentemente contraditórias como as de modernidade e tradição, local e mundial, articularam-se em projetos de identificação caracteristicamente modernos.
Resenha do livro de Françoise Vergès, Um Feminismo decolonial.
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Em seu livro Consumindo lugares, consumindo nos lugares: homossexualidade, consumo e subjetividades na cidade de São Paulo, Isadora Lins França parte de dados etnográficos colhidos em lugares de lazer noturno na cidade de São Paulo a fim... more
Em seu livro Consumindo lugares, consumindo nos lugares: homossexualidade, consumo e subjetividades na cidade de São Paulo, Isadora Lins França parte de dados etnográficos colhidos em lugares de lazer noturno na cidade de São Paulo a fim de entender “processos de diferenciação e subjetivação
relacionados ao consumo e à homossexualidade em sua dimensão plural” (p. 17). Para isso, realiza um trabalho de pesquisa rigoroso e sensível em três lugares distintos: a boate The Week; os encontros voltados para o público conhecido como “ursos” ao redor do espaço conhecido como Ursound; e um samba GLS (Gay, Lésbicas e Simpatizantes) chamado Boteco do Caê e seus espaços contíguos, na região do Largo do Arouche.
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RESUMO Entre as décadas de 1940 e 1950, o forró de Luiz Gonzaga divulgou a sensibilidade modernista da relação entre desenvolvimento econômico, mundo rural e migração. Tal relação objetivou o Nordeste como espaço e nordestinos como filhos... more
RESUMO Entre as décadas de 1940 e 1950, o forró de Luiz Gonzaga divulgou a sensibilidade modernista da relação entre desenvolvimento econômico, mundo rural e migração. Tal relação objetivou o Nordeste como espaço e nordestinos como filhos identificados com as margens do Brasil como nação. Cinco décadas depois, uma variação do ritmo é divulgada por novos canais de distribuição de signos. As imagens de tradição cedem espaço para um ritmo pop, acompanhado por guitarras, telões de LCD, canhões de luz e fumaça de gelo seco. O forró eletrônico busca na tecnologia imagens da transformação do ritmo. Na plateia, tecnologias de produção dos selves articulam o espaço dos shows de forma criativa, insinuando a possibilidade de ser e possuir aquilo que extrapola os limites dos lugares de origem. Nesses cálculos complexos entre espaço, ritmo, tecnologia e bens de consumo, corpos femininos funcionam como sinais diacríticos para evidenciar possibilidades de trânsito dos sujeitos.
PALAVRAS-CHAVE: Nordeste brasileiro; Forró eletrônico; Corpos; Espacialidades
O maracatu cearense é uma manifestação cultural que tem como principal sentido a representação de um cortejo de coroação. De forma dançante, os brincantes dançam e se organizam em alas para coroar uma rainha. Esta é a principal personagem... more
O maracatu cearense é uma manifestação cultural que tem como principal sentido a representação de um cortejo de coroação. De forma dançante, os brincantes dançam e se organizam em alas para coroar uma rainha. Esta é a principal personagem e , historicamente, vem sendo representada por homens. Ocorre que mesmo diante de expressiva participação feminina, o travestimento de homens em personagens femininos é mantido em alguns grupos por ser considerada uma prática tradicional dos maracatus. Diante desse contexto, buscaremos relatar como se constituiu essa tradição da rainha-homem e apresentar o acionamento de objetos na constituição da performance desse personagem.
Apresentaremos dados da pesquisa “Mulheres em situação de violência: acesso e apropriação das políticas públicas de gênero no centro-sul cearense”. Caracterizaremos o perfil da relação agredida/o-agressor/a, descrevendo os tipos de... more
Apresentaremos dados da pesquisa “Mulheres em situação de violência: acesso e apropriação das políticas públicas de gênero no centro-sul cearense”. Caracterizaremos o perfil da relação agredida/o-agressor/a, descrevendo os tipos de agressão registrados nos órgãos de atendimento à mulher dos municípios pesquisados, bem como avaliaremos acesso e apropriação das políticas de Estado em municípios de diferentes portes da região. Inspirados em dados quantitativos levantados na DEAM-Crato ao longo dos últimos quatro anos, tenta-se agora complexificar as questões em termos de abrangência das delegacias pesquisadas, levando-se em conta também outras políticas públicas, adicionando-se as Estratégias de Saúde da Família e os Centros de Referência Especializada em Assistência Social. Tentaremos visualizar demandas e apropriações de políticas de equidade de gênero em municípios de menor porte, considerando que as ESF possuem abrangência maior e o CREAS atendem pessoas em situações de vulnerabilidade social. Nessa fase da pesquisa, apresentaremos dados das delegacias da região, enfocando marcadores de gênero e classe social de agressores/as e agredidas/os, caracterizando a apropriação da política pública de equidade de gênero em um universo local marcado pelas imagens de patriarcalismo, violência de gênero e atraso.
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Abordaremos a materialização de ideais cosmopolitas no Bar Xá de Flor, estabelecimento que funcionou entre os anos 1980 e 1990 na cidade de Crato (CE).Vindos das experiências recentes de apogeu econômico, em 1950; diversificação de... more
Abordaremos a materialização de ideais cosmopolitas no Bar Xá de Flor, estabelecimento que funcionou entre os anos 1980 e 1990 na cidade de Crato (CE).Vindos das experiências recentes de apogeu econômico, em 1950; diversificação de produtos de consumo e formas de sociabilidade, em 1970 e 80; e recepção de ideais urbanos pelos meios de comunicação, os jovens do Cariri se identificavam com produtos, produção de estilo e formas de viver condizentes com valores de então, instaurados pela contracultura e filosofia do drop out. Esses ideais entravam em conflito com o cotidiano de uma cidade de 80.677 habitantes, consolidada a partir de produtos agropecuários. A partir da produção de uma geração de intelectuais frequentes no Xá de Flor, as ideias de tradição, cultura popular e família passam a ser cotejadas com vivências da contracultura, contraceptivos, irreverência e liberdade. Por ambientar jovens abertos a criatividade e experimentação de si, o Xá de Flor encenava uma “ideologia de bem estar” (VELHO, 1978) associada às ideias de segredo, ironia, uso de drogas e experimentações de gênero e sexualidade. Inspiramo-nos, portanto, em França (2012) sobre a importância dos locais de lazer na construção da ideia de “ser quem realmente se é”, experiência potencialmente mais importante que os locais de tensão familiar ou na vigília da vida comunitária. O Xá de Flor constituiu-se como local de experimentação de tensões sociais, guardadas por nossos interlocutores e acionadas até hoje na cidade.
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